Fonte: Biblioteca Digital de Literatura de Países Lusófonos

JOSÉ DE ALMADA-NEGREIROS

K4

o quadrado

AZUL
ACABA DE APARECER
 

POESIA TERMINUS

 

DIZ-SE AQUI O SEGREDO
DO GÊNIO
INTRANSMISSÍVEL
 

LISBOA 1917 EUROPA MODELO 1920

EDITORES

K4

o quadrado

AZUL
 

MIMA-FATÁXA SINFONIA COSMOPOLITA E APOLOGIA DO TRIANGULO FEMININO

 

 amadeo

JOSÉ de souza ALMADA

cardoso

EDIÇÃO LUXURIANTE

 

EXEMPLARES RAROS. ÚNICOS ORIGINAIS

 

ENCOMENDAS ANTECIPADAS A AMADEO DE SOUZA CARDOSO 27, RUE DE FLEURUS — PARIS.
 

amadeo

de souza

cardoso

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POESIA TERMINUS

DIZ-SE AQUI O SEGREDO DO GÊNIO
INTRANSMISSÍVEL
 

      amadeo

A    de souza

      cardoso

substantivo ímpar *1*, o detentor da Apologia Masculina, o que me possui em tatuagem azul na sensibilidade, o Amante preferido da Luxuria e do Vicio (Vide gênio Pintor).

JOSÉ DE ALMADA-NEGREIROS

 

LISBOA 1917 EUROPA MODELO 1920
 

AVULSO 10 réis 20-5-92

O perfume penetrante da sua alma raffinée não passava através do kimono de crepe da China. O seu ar não era de modéstia tinha era uma maneira parada de se existir pra fora, mas quem analisasse melhor os seus gestos veria que faziam lembrar um loup que mal lhe encobrisse a oval delicada do rosto sem conseguir disfarçar os requintes esquisitos da sua alma de eleição. O velho e simpático Marquês seu pai não a compreendia e não era porque não lhe custasse muitos cabelos brancos andar sempre atrás dela pra lhe adivinhar os pensamentos. Quando havia visitas ela punha-se logo no seu constante mal-estar que lhe encobria todo o seu fino espírito a quem não a conhecesse (e infelizmente ninguém a compreendia) e o pobre Marquês tirando com a paciência o seu monóculo de aro de oiro, inclinava-se sobre um joelho e dizia baixo ás visitas p’ra desculpar e sem que ela o ouvisse: É muito doente, coitada! e punha de novo o monóculo com uma dor de pai desolado que não podia remediar aquela fatalidade de maneira nenhuma. Por outro lado a muito ilustre e distinta senhora Marquesa sua mãe, desfazia-se em mimos para ela por todos os cantos; e todas as tardes, quando sua filha ia espairecer pró vasto terraço que dava prós jardins do palácio, vinha a pobre Marquesa passar-lhe a mão p’las costas com uma caricia terna que a animasse, mas ela tinha sempre um sorriso imperceptível nos cantos dos olhos e fugindo-lhe do braço com um trejeito souple, onde não transparecia o mínimo enfado, ia fechar-se por dentro no seu quarto pra escrever uma carta ou pra mudar de toilette ou outra qualquer coisa em que tivesse forçosamente de ficar sozinha. Uma noite no bridge, neste meu habito de levianamente simpático, enquanto as estrelas, orifícios de luz no firmamento, espreitavam atônitas os jardins ás escuras, comecei a fazer inteligentemente a distinção do viver em Londres e do viver em Lisboa e distanciava com elegância as minhas razões a conta-las p’los dedos bem estimados. Ella voltou pra mim o seu perfil estilizado de nobreza onde transparecia toda a glória dos brasões de seus antepassados e aprovou-me co'os olhos poisados na cigarreira de prata fosca reluzente sobre o pano verde da mesa do bridge: diz muito bem! E pouco a pouco como dois astros perdidos no infinito e cujas trajetórias, antecipadamente traçadas por Aquele que tudo rege, forçosamente um dia se hão-de cruzar, assim também as nossas duas almas, já por várias vezes o tinha pressentido, era inevitável que mais cedo ou mais tarde não viessem a encontrar-se face a face. E, ainda bem pra mim, não me enganei! (Continua)

Um dia dera-lhe pra pintar e voltou pra mim numa tela um torso ansioso na intensão de vicio. Tinha-a feito pra me compreender melhor e que não era tal porque duvidasse de mim. Disse-me apaixonadamente num contrair-se toda que afinal só agora, que não ma ouvia ler, começava a compreender a minha Mima Fatáxa. E como prova desta compreensão amarrecou-se num desdém em que achava os próprios pais dela umas cavalgaduras. Tanto falámos dessa merda da constituição da família que nos compensámos imenso em concordar que aquilo afinal era mas era o venéreo da alma. E dizia-me que a ela já lhe pressentia a raiva de vir a ter também uma geração mais nova. Brilhavam-lhe nos olhos como duas origens luminosas alucinadamente-esmeralda as intensões reveladoras da minha obra que não iluminava para cá do gênio. E excedia-se em poses espontaneamente excêntricas a transcrever-me os deslocamentos abstratos do dinamismo interior de uma alma que se exprime subordinadamente p’lo vestir e conter-se. De feito, Eu que tantas vezes me excomungara por esta injustiça de Deus me ter feito homem, e mais ainda por esta infâmia de Deus me ter nascido português, já me transpunha em regozijos por esta realização pratica da minha inteligência expressa em amante admiradora. Sei apenas que um dia a achara extraordinariamente parecida com o meu desejo de imperar predominantemente-ruivo de esfera de cobre em brasa e dilatada a tal ponto que me pareceu ocasionalmente a memória de me ter mascarado de amante para mim; mas sempre que a quisera recordar definia-se-me sinteticamente em quadrado azul, azul não sei quê. Durante uma semana saíra de Lisboa pra experimentar uma marca nova de automóveis americanos modelo 1919 e então o quadrado azul agitou-se nitidamente em azul ímpar, mas ímpar *1*. Quando lhe lia os meus poemas contra os olhos dela as íris deformavam-se-lhe pra triângulos de gênio sem contornos retos, dois deltas-carimbo do Nilo azul iguais a duas metades do quadrado *1*; e pouco a pouco, agradavelmente, violentos aos solavancos, os olhos d’Ela encaixavam-se á justa dentro dos meus nesta necessidade que há de haver dois a ser infinito. E as formas diluíam-se-lhe pra turvações de absinto em suspensões acesas de espasmos venenosamente ricos de quadrado azul. E realizávamos esta nossa sensibilidade comum de termos volumes iguais sem se repetirem em nenhum de nós e atuando igualmente sobre a mesma energia que durava ininterruptamente instantes consecutivos cada um dos quais eram explosões de intensidade concentrada. Só um dia é que reparei que os brincos d'Ela só tinham um ponto brilhante pró par. A própria cabeça não se lhe definia em colocação. Harmonizavam-se-lhe, porém, os deslocamentos pra uma simpatia imediata de nos remir a ambos de humanidade. Mas até as nódoas negramente transparentes sobre o quadrado azul reforçavam-se em oscilações esguias quando a minha curiosidade as trespassasse de desejo. As nódoas começavam sempre por mamilos de moiras e alastravam-se concavamente em espasmos de ópio exageradamente danças de cachimbo. O velho das barbas estava emendado ao pé dos bambus cheios de pó de talco e sol.

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O quadrado azul não era, porém, assim tão fácil que não fosse e por muitas vezes desmanchado em pertences de máquina sem intensão e logo atraídos instantaneamente por um íman luminosamente-sexo que os concertasse em movimento de beleza ambígua doidamente-hélice-toilette. De uma vez, num passeio, o arco-íris foi quadrado até ao fundo dos raios X pra lá do cavalo transparente numa continuidade cinematográfica contornando a apologia feminina sagradamente epilética em ss de cio todo realce e posse de reflexos. Se eu me detinha a observar o quadrado p’la perpendicular do desejo iluminava-se o palco artificialmente leve de triangulo nu em record azuladamente feminino. Os olhos recolheram-se-me pra dentro de um estertor iluminado a escândalo afogueado e ruivamente doido de artificio. Quando voltei outra vez havia uma carta registada para mim.

VIGO 15 08 16 PONTEVEDRA* *1ª EXP.

Dentro só estava um quadrado azul. Nem um defeito mínimo em qualquer das faces. Apenas a cor caprichava em não se definir e de tal maneira que Eu já duvidava de o ter visto azul. Do quadrado saltou uma espiral de cobre ascendentemente mola ofensiva donde se balanceava a minha cabeça congestionadamente acesa em embriaguez-vertigem de Carnaval-egípcio. A luz espalhou-se igual por todo o quarto sem fazer sombras por detrás dos moveis transparentes de medo nas veias ocas de azul quadrado. Talvez que o azul é que fosse quadrado mas havia também e por toda a parte um só quadrado azul que enchia o quarto todo e sempre com um dos vértices onde Eu fitasse. Desse vértice partia um lado do quadrado em direção ás capitais por um arame equilibrista de aventura. Quanto mais o vértice se aproximava de mim mais se mudava o tal lado animado do quadrado em chicote brutal de zig-zag eco de zinco equestre em brouaha-gallope de inundação-ampère. Completamente igual e sem origem a luz era sempre a face do quadrado voltada para mim em record. Ás vezes eram as duas faces voltadas para mim dentro do mesmo quadrado e com um dos vértices a magoar-me o centro do crâneo aceso em deboche pra dentro. Tabaco de Espanha e cinta beladona e fogo negro batuque Loanda Cabinda Zona Equador 0^o = 40^o á sombra La creolita, la novia del toreador Terre Sienne Brulée. As paredes quando desabavam sobre o chão atapetavam o quarto de quadrado azul. Quando desabaram as quatro paredes e o teto eu já era o quarto iluminado a quadrado azul e sem chão. Sucediam-se justapostos hieróglifos sintéticos de expressão imediata e que apesar de não estarem gravados em nenhuma das faces do quadrado azul reproduziam-se nítidos em golpes de Radium p’ra dentro do meu cérebro impresso a elzevir. De entre muitas das frases resolvidas arquivava-se em profundidade estagnada a maldição da humanidade condenada ao prolongamento indefinidamente-desespero da noção do instante. Outras documentações inexplicáveis de mim prós outros estavam sublinhadas de zebras aflitas de imprescindível importância. Mas uma das que mais mordeu a minha sensibilidade foi a da Medicina das cores p’la qual tudo seria êxito se se resolvessem as proporções de um quadrado relativamente à aflição do Mistério. Como exemplo intensificava a energia epilética de uma espiral de caixa de surpresas relativamente ao perigo perpendicular de um quadrado de azebre circunscrito ao círculo diâmetro da terra e definindo a superfície esgotada quotidianamente em razão subjetiva. Outro exemplo era o da proporção do esforço infantil pra enfiar a esfera do bill'boquet a transvazar a intensidade cerebral do químico inovadoramente timbre de quadrado mole mais metalismo Prússia de um quadrado com o lado igual a infinito amarelo. Dos outros apontamentos zebrantemente ilegíveis depreendia-se hora a proporção do receio do deboche p’ra ferrugem da Inteligência, hora a da sujeição familiar impedindo a saída da alma, hora a do contato dos mal-incarnados dissolvendo a irradiação do privilégio, hora a do esforço dos déplacés demorando a Perfeição e por fim consagrando a Sensualidade como início do éter p’lo espasmo intermédio. Apontava depois como erro o desenvolvimento da personalidade dentro da inteligência chicoteando o subjetivismo de sátiras vencedoras. Segundo o quadrado azul, a inteligência era o pecado original e portanto indigna de admirações apesar de a exigir até ao seu máximo em todos os que tivessem nascido. E por deduções espantosamente logicas concluía que afinal o gênio como existe realizado não é mais que o homem normal se a humanidade não tivesse consentido nunca que a terra vivesse mais depressa do que Ella. Ao passo que a terra tinha a Lua como único satélite a humanidade de tal maneira se dissolvera em desagregações continuas que minusculamente dispersas p’lo espaço foram minguando lentamente co'os séculos até à conclusão Homem. E toda aquela origem luminosa do planeta humanidade se subdividiu em inteligência hereditária por milhões de estilhaços dispersos pelos astros subsistentes. Admitia a hipótese da reconstituição do planeta humanidade por escalas de acordo unanime em cada astro isolado até à comunicação magnética de todos os astros aliados p’ra necessidade da ressurreição deste planeta luminoso que não cumpriu. Como base fundamental pra esta ressurreição elogiava em exaltação literariamente dogmática o domínio absoluto e tirano da Inteligência sobre o limite físico e sem a localização cerebral como que a exigir uma vertigem suspensa em discos de velocidade aceleradamente centrípeta e de que resultasse a noção do mínimo p’ra expressão humana. Dentro destas proporções mostrava esquematicamente em sólidos construídos de excessos de energias a vida destinada pra cima da Felicidade sem a noção dos cinco primeiros sentidos. Explicava que tendo-se o homem restringido à superfície da terra atrofiara por demência e falsa aplicação dos sentidos aplicáveis as disposições iniciais com que alcançaria todas as vantagens enunciadas no magnetismo. Assim, a subtileza que fazia parte dos dons nas metamorfoses mais afastadas do primeiro homem, limitara-se, como todas as virtudes da transparência, em simples fantasia localizada miseravelmente ferrugenta na sensibilidade cerebral e já sem o funcionamento de placa registradora do sistema vibratório em comunicação compensadora e sem fios co'os desejos excessivos do Ideal. A revelação mais vulgar talvez fosse a designação de átomo com que a Inteligência (na proporção dos outros elementos componentes) fazia parte de uma molécula isolada de ar atmosférico mas com receptividade exclusiva das meninges numa vibração torácica de digestão translucida. A seguir vinha logo a demonstração accessível da existência de inteligência no ar atmosférico p’lo tacto impressionante do ar liquefeito. E na verdade a invisibilidade do tacto experimentalmente ruído de gelatina irrita o cérebro de revelação p’ra proporção maior em que Zenith choca com Nadir na dissonância atenta da vibração última mais hipótese de som num diapasão vulgar. Imediatamente, suspenderam-se em reticências sonoras todas as revelações e setas aceleradamente ânsia cortavam no mesmo sentido a fúria de resolver numa impertinência unanime de acertarem em fins. Excedia-se a tempestade obliquamente em vermelhos genésicos de sacrifício redentor e todos os fragmentos de luz emancipada regressaram à dimensão da transparência em que a terra era equilíbrio inconstante do esforço p’ra resolução. Pouco a pouco as velocidades contrariavam-se pra uma desigualdade de intensidade rubra cada vez mais travada de nitidez. E gerações intervaladas de épocas vazias gastavam-se em direções resolutas de movimento acelerado num estampido inicial de arranco e numa impotência suicida e arrastada de se dizerem exatamente desviando-se da noção do instante que definisse a duração da existência. As setas perdiam-se pra infinito porque o alvo mudou-se em transparente na passagem das setas hipnotizadas de alvo na meta do infinito cada vez maior. Mas tudo isto era como que uma espécie de tampa do quadrado azul que se abria em infinito de poço iluminado perpendicularmente à direção das energias. Pra lá da vida igual ao instante já o homem não pertencia. Começara por se prevenir da mortalidade mas desta ignorância enquistaram-se-lhe os abcessos em dentaduras exteriores arreganhadas como sexos de atavismo inútil. Os próprios repuxos por mais que subissem eram sempre repuxos; por isso que a vida dos repuxos era só certificarem-se de que eram repuxos. Por outro lado o verde esquecera-se de si-próprio e empalidecera de esquina contra os olhos. Na manhã seguinte quando recordei o quadrado azul já o não era sobre a secretaria. Havia era uma carta que eu ainda não tinha aberto. A letra era grafologicamente musical e apenas entre aspas sobrepunha ideias inimigas por querem ser cada uma isoladamente a mais necessária. «E sendo a proporção dos privilegiados vantajosamente de 1 pra um milhão resulta que a concepção da eternidade demora-se numa velocidade aceleradamente retardada de êxito um milhão de vezes. Todas as lutas tumultuosamente-tântalo do ciclo das gerações dissolvem-se pra passado conseguindo deslocar a sensibilidade p’ralém de Zenith na distância exata em que as dimensões do homem fossem resumidas no ponto matemático e centro das Zonas esféricas alucinadamente concêntricas na suspensão éter. Também todas as energias mártires dispendidas p’lo gênio p’ra Grande Libertação inutilizam-se em depósitos de Imaginação santificadamente inútil e crucificam-se involuntariamente desmemoriados da Idolatria da Perfeição Humana. Tentar divinizar o homem é o primeiro sintoma da Amnésia. O homem é o contraste do divino. As múmias foram saqueadas e a esfinge refugiou-se-me no cérebro e espreita colossal p’los meus olhos abertos. Ao menos salve-se a esfinge! As ameias desdentadas tisnaram-se no grito da última posição. E eu por ter a esfinge dentro de mim fui mais um grão de areia a tapar a esfinge no deserto. Formulasse-se a abstenção total de dimensões p’ra forma humana que jamais a loucura ganharia aos repelões de regressionismo. Deste erro de proporções sofre o homem atual a influência dos mundos microbianos em que a duração do instante se estica elasticamente nesta certeza da incurabilidade do cancro e nesta roxidão de gangrena lentamente asfixiante da sífilis preguiçosamente deformadora. Neste alheamento da Felicidade o homem desceu de si p’ro sentimentalismo, p’ra impotência da descoberta, pró limite da inovação, pró mistério de si-próprio, pró irremediável, pró impossível e neste ergueu em pedestal de raiva o fatalismo como único alento p’ra resignação do cancro. Babel eternizou-se da confusão das pátrias p’ra luta da autonomia das individualidades porque nem as Religiões nem as Maçonarias se acondicionaram onde coubessem tantas variedades de infinito. Entretanto, a Idolatria do Eu resmunga nos búzios o direito à vitória. E toda esta ebulição permanente de energias desencontradas e vingativas da degenerescência aperta-se violentamente dentro do Mistério com o insulto de preciosidade de bric-à-brac exposta no Museu repelentemente Nacional. Mas o homem quer por força ser o maior quando as energias deviam iniciar-se desta ambição pra infinito. A Perfeição só se define onde não há dimensões e é, pois, absurdo adapta-la a uma concavidade irregular. P’lo contrário, concentrem-se as atividades de recepção no mínimo e a Perfeição possuirá o limite. A vida seria o instante, a abstração mais rápida e infinitamente menor que o segundo cronométrico. Também todas as variações da sensação se juntariam em uma única a divergir luminosamente p’ras compensações do éter, numa emancipação da vontade sobre os deslocamentos independentes dos quilos sensuais da transparência ao contrário de fazer incidir sobre o cérebro os aspectos restritos desta natureza planetária tão cansadamente esgotada. Assim avançaria o homem sempre e tanto, até que pudesse sucessivamente deslocar de si p’ra terra a noção do ponto métrico, isto é, quando o instante de hoje já fosse toda a vida do planeta em que nos definhamos numa compreensão enganosamente lentíssima da eternidade. Mas de tal maneira a maldição do homem estava impregnada do Ódio de Deus que este horror da Eternidade estava multiplicado por infinito. A eternidade existe sim, mas não tão devagar. E teve o homem a ilusão de que criando com a inteligência a insensibilidade quotidiana talvez se morfinizasse no habito da indiferença! Mas por mais que exagerasse o homem essa demência forçada a que se esgota na intenção de álcool permanente, toda a premeditação excitada se adaptaria a não consentir antídotos pró Ódio de Deus. Resultaram consequências vantajosas pró homem na inconsciência mas Deus vingava-se em permitir-lhe vitórias de democracia mais e mais atulhantes de paralisia geral na agravante da longevidade nata. E em tal esforço de desenvencilhar-se de atilhos que proclamava a independência p’la razão, a aristocracia p’la inteligência, o domínio p’la força mas sempre na condenação de viver no alheamento absoluto do deslocamento das proporções. Em vez de assinatura estava mal impresso um quadrado azul numa impaciência de cor à espera do que visse da distância diminuída em frio telegráfico de noite. Os sentidos reproduziam-se em listas fosforescentes p’las diagonais dedadas de teclado onde se crucificava um W entrelaçado em peixe-desespero fora d'água. E outra vez as diagonais dividiam o quadrado em raios X separação sectores transbordantes de praça de touros onde o eu-querer-me-dizer fosse o touro mais forte contra toureiros transparentes a sangrarem-me o cachaço. Eu existia apenas na febre da cidade e sempre atento, a ver quando os meus sentidos se distraiam pra me raspar de dentro de mim-próprio. Mas o círculo cansado de se procurar dentro de si-próprio em velocidade-mania parava nitidamente em quadrado azul. Também o cone azul da chama num gesto de emancipação planificava-se em quadrado azul esticado perpendicularmente no plano mais próximo numa transparência de só se ver pra lá a mola das cidades e as ambições-segredos. O quadrado azul inchava-se p’ra harmonium asmático co'a voz de candeeiro rouca de ventania e dizia esta quadra de 4 vértices: Amar = A + M + A + R. Primeiro um A, o primeiro A de amar. A seguir um M, o único M de amar. Depois um outro A, o segundo A de amar. E por fim um R, o R do fim de amar. Todos os outros AA eram independentes como estes, todos pertenciam ás suas palavras, aos seus lugares nas palavras. Eu-próprio que tantas vezes julguei que eu era um gênio descobri que afinal não passava de ser o A do azul quadrado do quadrado azul. O meu olfato desprendera-se da quilha e desfocando-se do projecto pra sexo-nódoa vestido de rede, oscilava em anel perdido p’ra profundidade de ser um cadáver com pesos nos pés pra não dar à praia. Os outros sentidos desapareciam p’los cantos em arrancos instantâneos de bichos surpreendidos e iluminavam os vértices de olhos inchados de medo e acesos de curiosidade na entrada de buracos que só existissem por desaparecerem os peixes espantados. O meu atavismo viscoso tinha caído no fundo. Tinham-se-me dissolvido as formas, pouco a pouco, desde a superfície e por fim o meu anel já enfiava só a psicologia a tingir de raiva a nostalgia subsistente do respirar. E como um acontecimento maravilhoso rodearam-me o anel chusmas neutras de animais microscópicos e cabeçudos que se deixavam atravessar p’la irradiação luminosa do diamante cujo ponto brilhante apertava avarentamente-dolorosa a minha inteligência fabricada de substância de eternidade. Mas com o tempo o brilho do diamante passou a ser a extremidade-cilada da antena flutuante da fishingfrog numa importância capital de ser Eu a origem de todas as luzes. Recordava ainda, por vezes, o meu cérebro a deformar-se pra Zeppelin perseguido por cascatas alienadas e invertidas em jorros de obsessão acesos por dentro de funis desde os olhos da praia sem luar. O remorso refugiara-se em veado cercado de mortes antropófagas por todos os lados mal iluminados. Os balões cativos tinham-se embebedado com loucura julgando ser licor verde. Lembrava-me também de já ter sido a minha inteligência a matéria corante das porções cubicas do Oceano. Depois um cio furta-cores alastrou-se alegremente-jovem pr'álém do brilho feminino resignadamente-cárcere da nudez da madrepérola. E a minha inteligência ia escorregando ventosa p’lo fundo do mar, p’lo fundo do mar de todas as substâncias do fundo do mar, p’lo fundo do mar de todas as coisas que não vivem no mar. E por tudo o que eu pensava iam ficando pedaços sólidos da minha fantasia como marcas salientes de prata utensilio. O próprio gênio de Vinci acendia-me as meninges pra me revelar a tatuagem indelével e desenhada a congestão p’la idolatria com que me antecedeu. Toda a minha fantasia era cardinalmente, por instantes ininterruptos, a intensidade exata das vidas já resolvidas e a das vidas que ainda se demoravam pra nascimento. E tudo se sucedia por formas de beleza revelada e de beleza intacta. Por todas estas realidades das noções orgânicas nunca se denunciava a existência das partículas representativas das inteligências aventureiramente transportadas ao interesse das invenções realizadas, das futuras e das impossíveis. Isto é, o Radium não podia ter sido descoberto antes do século XX por não existirem ainda sobejos de energias transbordantes suficientes pra iluminarem essa mínima quantidade de Radium resolvido. Esta vontade que me ocorria de quando saísse de manhã pró passeio eu não saísse todo, saísse só metade por exemplo, ou só as pernas, ou só a inteligência desalojada do cérebro, ou só sensualidade, ou só o desejo de ser um fio, onde estivessem enfiados os valores, interessantes das formas em geral resolve-se excedentemente no quadrado azul. As conchas por exemplo, deixaram de ser símbolos indecifráveis pra serem a expressão e o movimento dos que pensaram nas conchas. Verdade é que essas inteligências é que lhes permitem a intensidade de vibração psíquica mas a vontade da direção das conchas por todos os deslocamentos do capricho e da necessidade e da abstração é uma autonomia irrevogável das próprias conchas absolutamente alheias da causa que lhes concede sentir. Neste momento o quadrado azul era o sitio exato onde existia perpendicularmente a maior profundidade oceânica. Esta seria a minha altura depois de somar a quatro e quatro e sem intervalos todos os grãos de areia cheios das fantasias de todos os que até este instante pensaram em mim quer fosse com a noção exata da minha intensidade quer fosse até a inconsciência de terem pensado num qualquer que fosse exatamente Eu. A criada veio trazer-me numa bandeja de cristal contente a rir cerimonia uma imensidade de compotas e refrescos. Devia ser uma criada nova com certeza, porque eu não a reconheci. Mas tão pouco podia compreender que tivessem tido o espírito de aceitar como servente uma extravagante que logo no primeiro dia entrava completamente nua no meu quarto a servir-me um primeiro almoço que nunca fora tão exuberantemente de meu habito. E com uma destas naturalidades impressionantes desdobrou os guardanapos quadradamente azuis sobre uma mesa que eu também nunca conheci no meu quarto e foi dispondo com requinte decorativo pró meu apetite os cristais, os reflexos, os doces e as coxas. Eu ia pouco a pouco enchendo-me daquela estranheza de nunca ter estado naquele quarto e pra sentir melhor esse palpitar nervoso do meu coração levei a mão sobre o meu peito mas tinha um seio de mulher. Ella descerrou as janelas cautelosamente e então reparei espantado que estando eu todo descoberto o meu corpo nu era de mulher. A pele viciosamente perfumada tinha um tacto desmaiado de cetim-veludo interminável inesgotável no meu desejo. Eu próprio sentia em mim uma diferença de peso que me favorecia uma agilidade frágil que eu tanto quisera resolvida. E eu que apenas tinha sentido no meu cérebro a alegria dos reflexos dos cristais, o requinte do perfume das compotas, a música de um quarto de acordar, o servilismo dos apanhados das cortinas, o dever confidencial dos moveis, a seleção afetiva dos tapetes, a embriaguez intima dos bibelots, agora era com todo o meu corpo que possuía essas sensibilidades tão intensificada mente independentes nos seus contornos, nas suas transparências, nos seus lugares, nas suas substâncias que a carne toda me deliciava demoradamente em ‘spasmos de poros alternadamente em desafios de mais gozo. Mas agora, como prova da verdade, eu já sentia também nos meus joelhos, numa satisfação convexa de abundância, as ondulações sensuais do teto no mesmo ritmo de cio em que se mastrobava a americana viciosamente esguia de music-hall. E as paredes despegavam-se de serem definitivas e ou se enrolavam num gesto de conquista ou se confessavam finalmente sáficas numa apologia oriental de serpentes do pecado, venenosamente magnetizadas p’lo meu sexo musical. Por fim, eu cria já absolutamente em Deus; aquele meu imprudente impossível de nunca poder vir a ter a Itália toda sobre o meu travesseiro excedia-se a tal ponto em realização que eu já admitia entusiasticamente na minha opinião a superioridade do Homem se não p’lo que ele exprimia ao menos p’lo que ele sentia. Ah! mas dói muito mais vir a ter a certeza que nunca houve nenhum homem estupido pra dentro quando pra fora a maioria transpõe o ignóbil. Mas assim, sim! nem há a necessidade do ‘spasmo animal quando se domina o instante total de uma nacionalidade por todas as nuances da depravação. Que deficiente que é a expressão do gênio! Pra que havemos de comprovar o restrito da expressão em tentar literariamente arquivar a vida? É preferível vivê-la, realça-la no decorrer, não p’la necessidade da divulgação artística mas p’la intensidade do momento único. Não te lastimes, meu polidor das unhas, eu não te serei ingrato como os outros. Eu saberei transparecer em ti esta minha paixão ardente por esse teu gesto curvado de espelhar as unhas em que escondes por vergonha todos os desejos íntimos de meio mundo que te usa. Meu Deus! permites que eu pense na Felicidade da vida se todos tivessem a brutalidade da minha Inteligência? Repara tu, ó Deus, como eu faço o possível pra não te compreender! que basta eu desencantar-te em qualquer forma de jarra pra ela deixar logo de ser a minha amante pra ser um gesto teu! Como queres tu que eu não te admita, se o meu sexo nunca repetiu um espasmo? E não fui eu que revelei que a elegância do toilette me emendou as ancas? julgavas que eu não sabia que me espreitavas do espelho quando eu não me via ao espelho? Eu vi-te ainda a fugir. Se sabes que eu valho tanto porque me não dizes a razão de ser aquela moldura igual ao recordar-me triste? Já nem preciso recordar-me triste, já existe naquela moldura. Se tu soubesses a minha dor por aquela pedra ser irregular! Porque não lhe dás um nome? Faz-me lembrar as coisas iguais a mim mas que ainda não sabem do quadrado azul. Se és Deus porque me não deixas dizer o segredo da felicidade a esta gente? Doe-me tanto vê-los parvos! E a criada nua disse-me em italiano se eu queria tomar banho primeiro porque os doces estavam cansados de pensar e que se eu não soubesse responder logo a seguir já uma das americanas tinha tomado o absinto mais cedo pra me vir beijar o sexo. Preferi o banho. — Sim, menina, disse em italiano tendo-se ajoelhado numa reverência antes de sair. Corri ao espelho. Eu era a minha amante! Mas a inteligência era absolutamente a minha. Estranhava tudo: o atrito das coxas, a curva das pernas, o paladar, o perfume natural da pele, os cabelos compridamente macios e loiros, os hábitos da língua, a direção dos gestos, as atitudes, tudo diferente e tudo melhor. De repente o corpo começou a desmanchar-se-me como duas metades mal-coladas sempre com os movimentos dela intersecionados do meu corpo nu a regressar lentamente de um desaparecimento. E outra vez se diluía pra ser apenas a minha amante toda nua mas com a minha inteligência. Eu não tinha absolutamente vontade nenhuma sobre os seus gestos quotidianos, sobre os seus hábitos. Eu era como que alguém que a disfrutasse na intimidade espreitando-a de dentro dos olhos dela. Fui inconscientemente abrir um dos guarda-vestidos e vi-a ter todos os gestos que se têm pra se escolher um vestido que vá bem com a disposição do acordar mas o vestido preferido era o meu corpo mole. Nisto entrou a criada ainda toda nua e ajudou-a a vestir-lhe o meu corpo mole tendo ficado muito contente com ela por ter resolvido pôr hoje aquele vestido que lhe ficava tão bem. Eu quis dizer qualquer coisa que me não lembra mas a minha boca disse sem querer em italiano: traga-me os sapatos de veludo! Mas a criada sem gestos que confirmassem o que dizia pôs-se a declamar cadenciadamente: Porque o desejo tem limite e quando se é homem, isto é, quando se não atingiu ainda uma forma das imediatamente superiores ao gênero humano tudo o que aspire o ao-de-lá preenche a deficiência mais próxima p’lo deslocamento da intelectualidade sem intervenção de nenhuma das duas vontades. Depois, saiu do quarto por um instante e a voz dela continuou a declamar da mesma distância: Se tua mãe fosse viva não tinhas tu um galgo que te lambe as mãos. O galgo lambe-te as mãos por tua mãe te ter morrido. Se tua mãe não tivesse morrido com pena de te deixar o galgo não te lambia as mãos. Se tua mãe não tivesse morrido antes de te fazer sentir o grande amor que ela sentia por ti não tinhas tu um galgo que tem a mania de te lamber as mãos. Se tua mãe não se sufocasse no desejo de querer por força que tu soubesses, dentro dos teus 2 anos, que ela estoirava no excesso de uma paixão por ti não tinhas tu um galgo danado que te morde as canelas se o não deixas constantemente beijar-te as mãos. É que todo esse excesso de paixão eternizou-se em transparência e foi-se adaptando pouco a pouco no cérebro do teu galgo, elemento de vida mais próximo de ti. Mas não te creias feliz porque toda essa raiva do teu galgo tem a consciência dos sentidos vivos de tua mãe. Essa massa fluída e indesagregável que é toda a energia da paixão de tua mãe por ti tem a consciência de se ter acondicionado no crâneo do teu galgo. Por isso tua mãe tem a maldição de assistir à lucidez da sua inteligência na inexpressão do teu galgo que te lambe as mãos por uma vontade alheia à do teu galgo e diferente à da tua mãe.» E ainda esta dissertação não tinha terminado e já a criada tinha voltado co'os sapatos de veludo. Eu estremeci sacudido por um choque tão violento como se o próprio Sol se suicidasse de lá de cima sobre a minha cabeça e nos tivéssemos esmigalhado os dois em escuridão. Mas Eu não era Eu nem Eu era a minha amante. Eu era apenas a minha inteligência fechada dentro da cabeça da minha amante e sem comunicação absolutamente nenhuma co'a minha amante. Eu tinha a excitação extaticamente atropelada da paralisia geral mas o meu cérebro pretendia rebentar em congestão de estrondo que parasse a terra estampada contra o Sol como uma laranja esmigalhada que deixasse o Sol todo apagado em nódoa negra de sangue pisado. E era a boca dela que a minha inteligência via p’lo espelho e que tão longe da minha Dor perguntava á criada se não tinha outro avental para pôr. De repente o Eu vê-la p’lo espelho já não era de tão alto. Agora Eu era um Zumbir que não vibrasse senão achar-me muito belo. Eu era delicadamente o motivo de um abrigo compensador e suave e afetivamente dedicado. E ela começou a perfumar pervertidamente o sexo numa delícia de segredos que me acondicionavam lucidamente a minha inteligência no sexo dela. A Natureza não era mais do que o cérebro explodia pra todos os lados. Oh! puff!! como Eu odeio a humanidade que se exprime! O que é o escândalo senão o Homem? escândalo no sentido obsceno! Ha coisa mais obscena que a Humanidade? esta coisa que pretende dominar na terra e que escorrega em desordem p’los continentes até secar em morte! Que forma terá a lesma que nos segrega? Nenhum outro excremento é venenoso como o da terra! Ignóbeis parasitas omnívoros que vos atulhais em impotência dentro de um penico inconvenientemente convencional! que pretendeis Vós com essa fúria de subjetivismo? pra que complicais tão enterradamente-viva a Ignorância? Deus certamente enganou-se em me nascer! oh! Como Eu odeio a Humanidade que se exprime! se Eu não soubesse ler os gestos e as proporções diria que a Humanidade era tão besta como os gênios humanos quando pretendem desenvencilhar-se da inspiração. Ser génio quer dizer reproduzir-se igual a si-próprio, totalmente igual a si-próprio, exageradamente igual a si-próprio. Logo: não há génios. E bastaria Um só pra que se revelasse o segredo de ser génio, o segredo do mistério onde está enterrada a Felicidade, o segredo de todos os segredos. E bastaria Um só pra que a Humanidade toda num só instante se emancipasse unanimemente p’ra Verdade que eu creio plenamente nunca ninguém ter pensado apesar de se escrever co'as mesmas sete letras V, E, R, D, A, D, E. Mas o dicionário está errado, morra o dicionário! Ha palavras como spleen e saudade que são como muletas de paciência pró Homem se arrastar na sua molenguice. A Velocidade parou em absoluto estes significados. Spleen é a tatuagem da impotência. É o sintoma definitivo do cancro proveniente de uma inteligência parada. Saudade é a mastrobação passiva dos que não sabem que a Natureza é suficientemente variada pra que não haja necessidade de voltar atrás. A Velocidade move-se por entusiasmo e nunca descarrila da Felicidade. Eu penso mais depressa que a invenção do aparo e da caneta. Eu ganho em Velocidade à yost, á underwood á smith-premier a todas! Eu penso mais rápido que os transatlânticos os sud-express as telegrafias sem fios! Eu penso no instante igual à duração de todos os Mundos! Eu tenho a raiva de não pensar senão co'o cérebro. O meu cérebro é que me arrasta a mim atrás dele no galope vitória da velocidade Maior! E Eu quero descobrir o cérebro das minhas pernas. Eu quero pensar co'as minhas pernas p’lo menos tão depressa como penso com o cérebro. Eu quero fazer despertar os cérebros dos meus nervos, dos meus movimentos, o cérebro das minhas unhas, o cérebro dos meus gestos. Eu quero emancipar todos os cérebros dos meus poros pra independentes do cérebro da minha inteligência. O gramofone, o cinematografo, a Arte e a lynotipe reproduzem os sentidos, as qualidades, os defeitos, a sensibilidade, a ideia mas tudo subjetivamente, tudo deficientemente, tudo convencionalmente. Invente-se a máquina de reproduzir o cérebro! industrialize-se o génio! e co'a morte perpétua do subjetivismo, da deficiência e do convencionalismo proclamar-se-á a paz definitiva erguida de entre todos os cérebros absolutamente iguais pra dentro. O único dado imprescindível p’ra invenção da máquina de reproduzir o cérebro é profetizá-la. Fui Eu, portanto, o poeta José de Almada-Negreiros quem a inventou. De resto a velocidade resolve-a praticamente. E a velocidade é o triunfo da Europa que elucida o Mundo. Júlio Verne a par de ter sido o mais ínfimo dos literatos foi também o grande Profeta da Primeira geração Exclusivamente Europeia co'a Capital na velocidade. Viva a velocidade! O coração de minha mãe ainda era um coração de gente, o meu coração já é um hélice que abrevia o dia porque faz girar a terra mais depressa! Viva a Velocidade aceleradamente prêmio! Morra a Saudade e o regresso! Morra o verbo parar e o verbo recuar! Viva o verbo ganhar sempre por correr demais! A minha amante não é uma mulher, Puff! A minha amante é a velocidade que Eu monto. Bravo!!. Morram os relógios, mentira! O mês é que tem 24 horas! o ano são só 12 dias! A Eternidade existe sim mas não é tão devagar! Os meus olhos são holofotes a policiar o infinito. Morra o Kilômetro! o Kilômetro não existe, o mais pequeno que há são 20 léguas! Eu sou Milionário. A minha Fortuna é o Século XX. O meu groom chama-se T. F. S. Bravo ao meu groom! ice-berg s. o. s. titanic titan-tan tan-tan tan-tania lusitania s. o. s. wanderbilt U35 berlim kronprinz prussia kaiser 300 hp + 42 krupp canet 75 joffre 38 goritza 914 neo-salvarsen europa super-dreadnought monitor alta-tensão perigo de morte [símbolo: infinito] martinica panama exposition universelle tour eiffel coupe international des motor-cars mercedes benz the cruzaders rugby jeffriesjohnson duncan scott polo-sul petrogrado nijinski polonia marne front poilus reims kodak nordisk gallito & belmonte carranza zeiss zeppelin taube tank zenith quadrado azul viva K4 bravo salvas morteiro terra estampido rachar marte funerais mistério herança fortuna beleza glória viva quadrado azul josé de almada-negreiros europa.

LISBOA 1917 EUROPA 1920

 

*K4

o quadrado

AZUL*

POESIA TERMINUS

DIZ-SE AQUI O SEGREDO DO GÊNIO
INTRANSMISSÍVEL

LISBOA 1917 EUROPA MODELO 1920

DIREITOS DE REPRODUÇÃO INGLESA RESERVADOS A FERNANDO PESSOA.

NOTA: esta obra foi lida p’la primeira vez a Fernando Pessoa e Santa

Rita Pintor, da Intelectualidade Portuguesa.

OBRA LITERÁRIA DE José de ALMADA-NEGREIROS

*O Moinho*, a Eduardo Afonso Viana

*23 2º andar*, ao Senhor Gualdino Comes

*O Mendes*, a Christiano Cruz

*A Engomadeira*, a José Paxêko

*A Cena do Ódio*, de José de ALMADA-NEGREIROS, poeta sensacionista e Narciso do Egypto, a Álvaro de Campos

*Lenda de Inês, a linda que não soube que foi Rainha*, a Mlle.

M. G. M. (S. T.)

*Os Saltimbancos*, contrastes simultâneos, a Santa Rita Pintor

*Mima-Fatáxa, sinfonia cosmopolita e apologia do triangulo feminino*, a ti para que não julgues que a dedico a outra

*10 Poemas Portugueses* por Mme. Sônia Delaunay-Terk e José de ALMADA-NEGREIROS

*Ballet Veronèse et bleu*, a Mme. Sônia Delaunay-Terk

*K4 O quadrado azul* *a Amadeo de Sousa Cardoso* substantivo ímpar *1*, o detentor da Apologia Masculina, o que me possui em tatuagem azul na sensibilidade, o Amante preferido da Luxuaria e do Vício. (Vide gênio Pintor).

*A MULHER ELÉTRICA* SUPERLATIVO DE ELA ELA *ELA*

Manifestos serie divulgação

*NOTA DO AUTOR: Todos estes livros devem ser lidos pelo menos duas vezes prós muito inteligentes e daqui pra baixo é sempre a dobrar.*

BREVEMENTE:

*A MULHER ELÉTRICA* SUPERLATIVO DE ELA ELA *ELA*
E
*MIMA-FATÁXA SINFONIA COSMOPOLITA E APOLOGIA DO TRIÂNGULO FEMININO.*
EDIÇÃO DE PARIS

*Joalmada*