Fonte: Biblioteca Digital de Literatura de Países Lusófonos

LITERATURA BRASILEIRA

Textos literários em meio eletrônico

Sermão do Santíssimo Sacramento, de Padre Antônio Vieira.


Edição de Referência:

Sermões.Vol. XI Erechim: EDELBRA, 1998.

SERMÃO DO SANTÍSSIMO SACRAMENTO

Em Santa Engrácia, ano de 1642.

Hic est panis qui de caelo descendit[1].

O atrevimento sacrílego dos hereges e o sofrimento de Deus, provas da verdade do mistério do Santíssimo Sacramento.

Este é o pão que desceu do céu, diz Cristo, redentor nosso, por S. João, afirmando a real e verdadeira presença de seu corpo santíssimo debaixo das espécies sacramentais. Assim o entende a Igreja, assim o confirmam as Escrituras, assim o definem os concílios, assim o cremos firmemente os fiéis católicos; mas neste lugar, e nestas circunstâncias, na memória do atrevimento sacrílego, na consideração da ousadia herética, que hoje gloriosamente detestamos, quase parece que não é este o pão que desceu do céu.

Duas coisas teve este caso, ou duas circunstâncias considero nele: uma da parte de Deus, outra da parte dos homens, as quais ambas, vistas a pouco lume de fé, parece que deixam duvidosa a verdade deste Sacramento. Que pudessem chegar os homens, por suma irreverência, a pôr mão injuriosa naquela Hóstia consagrada, e que creiamos que está ali Deus! Deus, diante cujo acatamento as potestades do céu, as colunas do firmamento tremem! Deus, cuja onipotente majestade os mesmos animais brutos, dobrando os joelhos irracionais, adoram! Deus, cuja infinita grandeza até as criaturas insensíveis, dentro na incapacidade do seu ser, confessam mudas, e reconhecem sujeitas! E que aos ministros heréticos de tanta maldade, nem lhes pasmassem os braços sacrílegos, como ao ímpio Jeroboão, quando levantou a mão para o profeta! Nem chovesse sobre eles raios e dilúvios de fogo o céu, como sobre os soldados atrevidos que intentaram prender a Elias! Nem a terra indignada se abrisse em bocas vingativas, e os tragasse vivos, como a Datão e Abiron! Nem caíssem súbita e temerosamente mortos, como Ananias e Zafira aos pés de Pedro! Nem aparecessem feitos pedaços nesta igreja, como amanheceu o ídolo Dagon à vista da Arca do Testamento! Que tenham tanto atrevimento os homens, e que seja Deus a quem ofendem! Que tenha tanto sofrimento o ofendido, e que seja Deus quem não resiste! Suspendem tanto a admiração, e são tão grandes circunstâncias estas, que não só deixam pasmado o juízo que as considera, senão que, vistas com olhos humanos, parece que metem em escrúpulo a mesma fé, e querem fique duvidosa a verdade divina deste Sacramento.

Por parte desta verdade, e em defensa da fé católica deste mistério, determino sair hoje a campo, ou seja contra os erros da heresia, ou seja contra a fraqueza do entendimento humano. E para que a vitória da fé fique mais gloriosa vencendo a seus inimigos com suas próprias armas, satisfarei às admirações do entendimento com os mesmos motivos delas, e sossegarei os escrúpulos da razão pelos mesmos fundamentos de que se levantam. O mesmo atrevimento dos homens, e o mesmo sofrimento de Deus neste caso será a prova - que não quero hoje outra - da verdade do mistério que adoramos. Neste sentido verificarei as palavras do tema, não tomadas absolutamente, senão trazidas em particular, e aplicadas às circunstâncias do caso. - Hic est panis qui de caelo descendit. Hic: este, contra o qual se mostraram tão atrevidos os homens, ofendendo-o com injúrias. Hic: este, no qual se mostrou tão sofrido Deus, não os castigando com prodígios. Hic est panis qui de caelo descendit: Este mesmo, e por isto mesmo, é o verdadeiro pão que desceu do céu, Cristo, Deus e Redentor nosso. Esta é a matéria sobre que havemos de falar, e, ainda que na casa em que estamos, de Santa Engrácia, parece que é devida a graça, peçamo-la ao Espírito Santo, por intercessão da Mãe da Graça.Ave Maria.

§II

Ainda que o atrevimento dos hereges se ordena a escurecer e infamar as glórias da fé de Cristo, por esse mesmo caminho fica ela mais declarada e mais acreditada. O fim e o intento com que Judas saiu do Cenáculo, não com o Santíssimo Sacramento comungado, senão roubado, não o levando dentro no peito, senão nas mãos. Por que diz Orígenes que, depois de confirmada a fé de Cristo com o testemunho dos milagres e com o testemunho da Transfiguração, quando Judas saiu do Cenáculo, então a deu o Senhor por verdadeiramente acreditada?

Hic est panis qui de caelo descendit (Jo. 6, 59).

Do atrevimento dos homens, e do sofrimento de Deus, que são as duas circunstâncias deste caso, prometi confirmar a fé do Santíssimo Sacramento que adoramos, e as conseqüências em que me fundo são estas. Prova-se do atrevimento humano, porque a infidelidade dos hereges é argumento da nossa verdade. Prova-se do sofrimento divino, porque a paciência de Cristo é argumento de sua presença. Os hereges negam-no? Logo é verdade. Cristo sofre-o? Logo está presente. Estas duas conseqüências são as que havemos de provar. Vamos primeiro ao caso.

Consagrou Cristo seu corpo na Ceia, deu o pão consagrado a todos os discípulos, para que o comungassem. E, falando o evangelista de Judas, diz assim: Cum accepisset ille bucellam, exivit continuo. Cum ergo exisset, dixit Jesus: Nunc clarificatus est Filius hominis (Jo. 13, 30 s): Tanto que Judas recebeu o bocado de pão, levantou-se logo da mesa, e saiu do Cenáculo; e no ponto em que saiu, disse Cristo: Agora começam as minhas glórias, agora será manifesta a fé de minha divindade, agora serei conhecido no mundo, e reverenciado por Filho de Deus. - Este é o verdadeiro sentido das palavras: Nunc clarificatus est Filius hominis - e assim as declaram conformemente todos os sagrados intérpretes. Mas, antes que ponderemos a conseqüência admirável deste texto, é necessário saber como se houve Judas com o Sacramento, quando a ele chegou. Cristo, Senhor nosso, não comungou aos discípulos aplicando à boca de cada um o Sacramento, como agora fazemos; mas, como eram todos sacerdotes, ou ali os consagrava por tais, deu-lhes o pão sacramentado, para que eles o repartissem entre si; assim o diz o texto de S. Lucas: Accipite, et dividite inter vos[2]. - Chegou-lhe, pois, às mãos de Judas a parte que lhe coube do pão consagrado. E agora, pergunto eu: que fez Judas desta sua parte: comungou-a, ou não a comungou? É opinião de Teofilato, e de muitos doutores daquele tempo, que Judas, ainda que recebeu nas mãos o Sacramento, que o não meteu na boca, nem o comungou. E dizem que a isto aludiu Cristo, quando, dando o cálix aos discípulos, acrescentou aquela palavra omnes: Bibite ex eo omnes: Bebei todos - porque não tinham comido todos; os onze sim, Judas não. Suposto, pois, que Judas tomou nas mãos, como os demais, o Sacramento, e o não comungou como os demais, que fez dele? Diga-o Teofilato com suas mesmas palavras: Judas panem accepit, sed non comedit; et occultavit illum, ut monstraret Judaeis, quod panem corpus suum vocaret Jesus: Judas, ainda que tomou nas mãos o pão consagrado, que Cristo deu a todos, não o comeu, nem o comungou, como os demais, senão levou-o consigo furtado e escondido, para o mostrar aos judeus, e argüir e condenar a seu Mestre, dizendo que aquele pão afirmava ele que era seu corpo. - Este foi o fim e o intento com que Judas saiu do Cenáculo, não com o Santíssimo Sacramento comungado, senão roubado, como no caso presente, não o levando dentro no peito, senão nas mãos: Cum accepisset buccelam, exivit continuo.

Vamos agora à conseqüência de Cristo, à vista deste sacrilégio e desta impiedade de Judas. - Et cum exisset, dixit Jesus: E, tanto que saiu Judas, disse Jesus: Nunc clarificatus est Filius hominis: Agora serei conhecido, agora serei honrado, agora serei crido, agora serei glorificado. - Há mais notável conseqüência? Quando Judas nega a verdade do Santíssimo Sacramento, quando Judas o leva roubado, para com os judeus zombar dele, e o afrontar, então diz Cristo que está a opinião na sua fé mais gloriosa, e as glórias de sua divindade mais declaradas: Nuno clarificatus est Filius hominis? - Se dissera que então ficavam escurecidas, mais coerente ficava; mas afirmar que mais declaradas? Sim, porque, ainda que os atrevimentos e infidelidades dos hereges se ordenam a escurecer e infamar tais glórias da fé de Cristo, por esse mesmo caminho fica ela mais declarada e mais acreditada. Quanto a autoridade do mistério perde de respeito, tanto a verdade da fé ganha de autoridade. Encontram-se nos hereges, com uma gloriosa implicação, seus intentos e nossa fé, porque o crédito que lhe negam é crédito que lhe dão. Negam-lhe o crédito, porque a não crêem; dão-lhes crédito, porque a acreditam: quanto por eles menos crida, tanto para com todos mais acreditada. Ouçamos a Orígenes, cujas palavras, se eu acerto a ponderá-las, são valente testemunho desta verdade.

Post evenientia ex prodigiis, necnon ex Transfiguratione praeconia, initium glorificandi Filii hominis fuit exitus Judae: Depois de confirmada a fé de Cristo - diz Orígenes - com o testemunho dos milagres e com o testemunho da Transfiguração, quando Judas saiu do Cenáculo, então a deu o Senhor por verdadeiramente acreditada. - Grande dizer, mas dificultoso em Teologia. Os dois maiores fundamentos da nossa fé são: primeiro, a autoridade divina, segundo a manifestação dos milagres. Na autoridade divina se funda, como em razão formal de crer; com os milagres se confirma, como com obras sobrenaturais, testemunhas sem suspeita da mesma autoridade. Assim o escreveu S. Paulo aos hebreus, falando da nossa fé: Quae cum initium accepisset enarrari per Dominum ab eis, qui audierunt, in nos confirmata est, contestante Deo signis et portentis[3]. - Com estes dois testemunhos tinha Cristo fundado e confirmado a fé de sua divindade, quando Judas saiu da Ceia. Com o testemunho dos milagres, nos últimos três anos da vida, em que obrou tantos, como sabemos. Com o testemunho da autoridade divina, na Transfiguração, em que foi ouvida claramente a voz do Padre, que dizia: Hic est Filius meus dilectus, in quo mihi complacui (Mt. 3, 17): Este é meu Filho amado, em que muito me agradei. - Pois, se a fé da divindade de Cristo estava fundada e demonstrada com os dois maiores argumentos e testemunhos dela: com o testemunho da onipotência, nos milagres, com o testemunho da autoridade divina, na Transfiguração: Post evenientia ex prodigiis, necnon ex Transfiguratione praeconia - como se diz que então acabou de ficar acreditada e declarada, quando Judas saiu do Cenáculo? Quando Judas levou roubado o Santíssimo Sacramento, para ele e os judeus desprezarem como vá, e negarem a fé deste mistério? Não se pudera mais encarecer a verdade do que dizemos. É tão forte argumento, e tão evidente testemunho de nossa fé a mesma infidelidade dos hereges, e daqueles principalmente que neste sacrossanto mistério o ofendem e negam, que, depois de confirmada com o testemunho dos milagres, e com o testemunho da autoridade divina: Post evenientia ex prodigiis, necnon ex Transfiguratione praeconia enquanto lhe faltava o testemunho da infidelidade dos hereges, enquanto lhe faltava o testemunho dos desprezos e zombarias de Judas e dos judeus, achou Cristo que não estava cabalmente acreditada sua fé, e depois disso sim: Nunc clarificatus est Filius hominis: initium glorificandi Filii hominis fuit exitus Judae.

§ III

De que modo o erro e infidelidade com que os hereges negam o mistério da fé católica é argumento certo, e conseqüência infalível da mesma fé. Se a verdade das coisas é a razão e o motivo por que os entendimentos racionais se persuadem a crer, como diz Cristo que os judeus o não criam porque lhes dizia verdade? O mistério da fé católica, e dois famosos casos do Velho e Novo Testamento: a adoração do bezerro de ouro e a embaixada dos ministros da Sinagoga a S. João Batista. O testemunho das luzes e o testemunho das trevas.

Agora entram as particulares demonstrações, com que prometi provar a evidência deste mistério. Os hereges negam-no? Logo é verdade. Cristo sofre-os? Logo está presente. Começando pela primeira, parece coisa dificultosa, e ainda impossível, que o erro e infidelidade, com que os hereges negam o mistério da fé católica, seja argumento certo e conseqüência infalível da mesma fé. Toda a razão formal, e motivo da nossa fé, como já disse, é a autoridade divina. Deus disse-o, logo é verdade. Mas que também seja motivo de crer os mistérios da fé a autoridade ou asseveração contrária?E que se infira por boa conseqüência: o herege nega-o, logo é verdade? Sim. E a razão em que se funda esta conseqüência é porque andam os eixos do lume da razão tão encontrados nos entendimentos dos hereges, que crêem pelos motivos de negar, e negam pelos motivos de crer. Texto expresso de Cristo, Redentor nosso. Fez Cristo aquela célebre pergunta aos judeus: Si veritatem dico vobis, quare non creditis mihi (Jo. 8, 46)? Se vos digo verdade, por que me não credes? - Não responderam à questão os perguntados, mas o Senhor lhes respondeu no mesmo capítulo, por estas palavras: Ego autem, si veritatem dico, non creditis mihi (ibid. 45): Sabeis, incrédulos, por que me não credes? E porque eu vos digo a verdade. - Clara sentença, mas dificultosa. A causa formal objetiva - como falam os filósofos - ou a razão e motivo por que damos crédito às coisas, é o ser e verdade delas. Assim o ensina Aristóteles, o dita o lume natural, e o obra a experiência de cada um. Pois, se a verdade das coisas é a razão e o motivo por que os entendimentos racionais se persuadem a crer, como diz Cristo que os judeus o não criam porque lhes dizia a verdade: Si veritatem dico vobis, non creditis? -A verdade, que é razão de crer, pode ser razão de não crer? Nos entendimentos dos hereges sim. Anda tão perturbado o lume racional nos entendimentos dos hereges, e os ditames do discurso tão encontrados com as conseqüências da razão, que crêem pelos motivos por que haviam de negar, e negam pelos motivos por que haviam de crer; e, como o motivo de crer é a verdade, e o motivo de negar é a mentira, por isso crêem a mentira só porque é mentira, e negam a verdade, só porque é verdade: Ego autem, si veritatem dico, non creditis mihi. - Não é sentido imaginado, senão germano e literal do texto; assim o entende, com Santo Agostinho e S. Crisóstomo, aquele grande comentador dos evangelistas, e, na minha opinião, o mais literal e mais sólido de nosso século, o doutíssimo Maldonado: Mihi ideo non creditis - diz ele - quia ego non mendacium, sicut pater vester diabolus, sed veritatem loquor: si enfim mendacium loquerer, crederitis utique mihi assueti credere diaboli mendaciis: sed ob hoc ipsum mihi non creditis, ob quod maxime credere deberetis, quia veritatem nimirum vobis dico. - Notem-se muito estas últimas palavras, nas quais se diz claramente que o propter quod, e a razão formal de crer, é nos hereges razão de negar: Sed ob hoc ipsum mihi non creditis, ob quod maxime credere deberetis.

Posto que as palavras e oráculos da boca de Cristo são maiores que todo outro testemunho ou exemplo humano, para que nós entendamos melhor e mais claramente o texto referido, o quero confirmar com dois famosos casos, um do Velho, outro do Novo Testamento. Saíram os filhos de Israel do Egito, com tantos e tão portentosos milagres, como sabemos; chegaram aos desertos do Monte Sinai três meses depois; sobe Moisés ao monte, a receber de Deus a lei, e, porque se deteve quarenta dias, cansados de esperar, os que agora se não cansam depois de mil e seiscentos anos, pediram a Abraão que lhes fizesse um Deus a quem seguissem, pois de seu irmão Moisés não sabiam o que era feito. Deteve-se Arão alguns dias, instaram fortemente, pedem enfim as arrecadas de ouro, suas e de suas mulheres e filhos, - segundo o uso da nação naquele tempo - as quais derretidas e fundidas, saiu a imagem de um bezerro, e, posta esta sobre um altar, com pregão público por todos os arraiais, se lhe dedicou solenemente para o dia seguinte, dizendo que aqueles eram os deuses que tinham libertado o povo do cativeiro do Egito: Hi sunt dii tui, Israel, qui te eduxerunt de terra Aegypti[4]. - Até aqui parece isto fábula, ou farsa; o que se segue é que verdadeiramente adoraram o bezerro, e lhe ofereceram sacrifícios, e com jogos e festas o celebraram. Se o não dissera assim a Escritura Sagrada, ninguém pudera crer tal loucura de homens com juízo. Dizei-me: quando saístes libertados da terra do Egito, e quando foi feito este Deus, a quem vós chamais deuses? O bezerro, com quatro pés e duas pontas na testa, foi fundido ontem; do Egito - como consta do mesmo texto - há mais de quatro meses que saístes; pois, como pode este Deus, ou como puderam estes deuses, que ainda não eram, libertar-vos do Egito tantos meses antes? Não eram, e puderam libertar? Não eram, e puderam fazer tantos milagres? Aquele ouro, de que foram fundidas estas divindades, não o trazíeis pendurado das vossas orelhas todo este tempo? Pois como, antes de ter forma, nem figura, nem vida, nem sentido, nem ser puderam obrar o que credes? Pode haver mais clara e manifesta implicação? Não pode. E se vós tivéreis uso de razão, ao pregoeiro, e ao que mandou apregoar esta nova divindade, havíeis de queimar no mesmo fogo em que ela foi fundida. Mas isto mesmo é serdes vós como então começastes a ser, hereges da verdadeira fé. Negastes a verdade, e crestes a mais clara e manifesta mentira, porque é natural instinto do vosso entendimento crer pelos motivos de negar, e negar pelos motivos de crer.

O caso do Testamento Novo ainda em certo modo é mais notável. Mandou o Senado de Jerusalém embaixadores a S. João Batista no deserto, pedindo-lhe que declarasse se era ele o Messias esperado e prometido na lei, porque estavam aparelhados para o adorar e reconhecer. Foi esta embaixada dos ministros da Sinagoga muito acertada no tempo, mas muito errada na pessoa: foi acertada no tempo, porque, cerradas as hebdômadas de Daniel, e traspassado o cetro de Judá aos romanos, segundo a verdade das profecias, era certo que estava o Messias no mundo; e foi errada na pessoa, porque esta embaixada havia de ir dirigida a Cristo, e não ao Batista, como as mesmas profecias, que eram mais vulgares entre os hebreus, o gritavam claramente. A profecia de Jacó dizia que o Messias havia de ser da tribo de Judá: Cristo era da tribo de Judá, o Batista da tribo de Levi. A profecia de Miquéias dizia que o Messias havia de nascer em Belém, e o Batista nasceu nas montanhas de Judéia. A profecia de Isaías dizia que o Messias havia de dar pés a mancos, vista a cegos, fala a mudos, etc., e Cristo fez infinitos milagres deste gênero, e o Batista nenhum: Joannes nullum signum fecit[5]. - Pois, se todas as razões ditavam que Cristo era o verdadeiro Messias, e nenhuma estava por parte do Batista, por que se resolvem estes homens a crer e adorar o Batista, e não querem reconhecer, antes negam a Cristo? Por quê? Por isso mesmo. Negavam a Cristo porque tinham motivos de o crer, e criam no Batista porque tinham motivos de o negar. Eram aqueles de quem diz o profeta: Erraverunt ab utero, locuti sunt falsa[6] - e quem erra por natureza, não acerta por razão. Se os entendimentos destes homens se governaram humana e desapaixonadamente pelos ditames da razão, crendo e negando, creram em Cristo, e não creram no Batista. Mas, como eles eram infiéis, e, como tais, procediam cega e irracionalmente, crendo pelos motivos de negar, e negando pelos motivos de crer, por isso encontraram aqui a resolução com os motivos, e ao Batista, a quem tinham razão de negar, criam, e a Cristo, a quem tinham razão de crer, negavam.

E porque os hereges - fechemos agora o nosso argumento - porque os hereges negam pelos motivos de crer, e crêem pelos motivos de negar, bem se segue que é maior crédito de nossa fé ser negada por eles que ser crida. Por isso Cristo, Senhor nosso, mandou calar ao demônio, quando lhe chamava Filho de Deus, porque há pessoas que afrontam com os louvores, como com as injúrias acreditam. Tal foi a de Nero, de quem disse Tertuliano que não podia ter maior abono a santidade da nossa fé, que ser perseguida por tão mau homem: Tali dedicatione damnationis nostrae etiam gloriamur, qui enim scit ilium intelligere, patet non nisi aliquod grande bonum a Nerone damnatum. - São as palavras de Tertuliano merecedoras de virem a tempo que nos pudéramos deter em as ponderar. Assim que os erros da perfídia herética são argumentos da fé católica; os solecismos da sua infidelidade são silogismos da nossa verdade, mas silogismos e argumentos que a Lógica de Aristóteles não alcançou, porque se prova neles o que se nega; antes, o mesmo negar-se é concluir que se deve conceder. Daqui se entenderá a energia com que S. João Evangelista referiu no caso acima a resposta que o Batista deu aos embaixadores de Jerusalém: Confessus est, et non negavit, et confessus est: Quia non sum ego Christus (Jo. 1, 20): Confessou o Batista, e não negou, e confessou que não era ele Cristo. - Pergunto: Não bastava dizer que confessou? Para que acrescenta que confessou e não negou: Et confessus est, et non negavit? - É sem dúvida pelo que imos dizendo, porque os sacerdotes e levitas, que ofereciam a divindade ao Batista, também confessavam a Cristo, mas com esta diferença: que o Batista confessava confessando, e eles confessavam negando; como se dissera ou insinuara o evangelista: Confessou o Batista a Cristo, e também os que negavam o confessaram, bem que por diferente modo, como com diversa intenção, porque os judeus, quando negavam, confessaram, e o Batista confessou, e não negou: Confessus est, et non negavit.

Não se escandalize logo a fé por se ver negada por hereges no maior de seus mistérios; antes se glorie na memória e na presença, vendo-se confirmada com dobrados testemunhos: com o dos hereges sacrílegos, que injuriosamente a negaram, e com o dos fiéis católicos, que tão firme, tão devota e tão gloriosamente a confessam. Notou S. Pedro Damião advertidamente que, em abono da divindade de Cristo, não só testemunharam as luzes, mas também as trevas: Habuit testimonium lucis, et habuit testimonium tenebrarum: Habuit testimonium lucis, quia claritas stellae illustravit Magos; habuit testimonium tenebrarum, quia in morte ejus tenebrae factae sunt super universam faciem terrae: Testemunharam pela fé de Cristo em seu nascimento as luzes, em sua morte as trevas: as luzes, guiando com uma estrela aos Magos; as trevas, escurecendo com universal eclipse o mundo; mas, ainda que com tão diferentes efeitos, umas alumiavam, outras escureciam, todas conformemente testemunhavam. - Tão claro testemunho deram as trevas com seus eclipses como as luzes com seus resplandores. O mesmo digo do Santíssimo Sacramento nesta casa, e neste caso: Habuit testimonium lucis, et habuit testimonium tenebrarum. - Aqui teve Cristo o testemunho das luzes, e aqui teve o testemunho das trevas. As trevas da heresia escureceram, as luzes da nobreza ilustraram, que cada uma havia de obrar como quem era; mas tão ilustre testemunho deram as trevas escurecendo como as luzes ilustrando. Grande testemunho é da presença de Cristo que a confesse a maior nobreza da terra; mas não é menor testemunho dessa mesma verdade que a negue a maior cegueira do mundo. As luzes no nascimento arrastaram as púrpuras dos reis, mas as trevas na morte persuadiram os entendimentos dos filósofos; e, assim como daquelas trevas naturais coligiu o Areopagita que era Deus o que padecia, assim destas trevas heréticas devemos coligir nós que é Deus o que ofenderam: Hic est pani qui de caelo descendia[7].

§IV

Segundo argumento: a paciência de Cristo no Sacramento, prova de sua presença. O castigo do sacerdote Osa, e o horrendo atrevimento do ministro do pontífice. Tanto mostrou Cristo a verdade do seu ser e de sua presença em se deixar maltratar, como se castigara severa e prodigiosamente os que assim o trataram. Se a palavra Eu sou foi tão poderosa que derrubou um exército de soldados, por que toma Cristo por meio de se entregar e de se deixar prender a mesma palavra Eu sou?

O segundo argumento desta verdade de nossa fé era o sofrimento divino, porque a paciência de Cristo no Sacramento é prova de sua presença. Sofreu Cristo que os hereges pusessem as mãos naquela Hóstia, e não os castigou? Sinal é que está ali presente. Caminhava em uma carroça a Arca do Testamento para a cidade de Davi, e como em um mau passo estivesse a perigo de cair, acudiu o sacerdote Osa para a sustentar; mas, apenas tinha aplicado a mão, quando caiu em terra subitamente, e dali o levaram para a sepultura. Isto se refere no sexto capítulo do Segundo Livro dos Reis; e se da história do Testamento Velho passarmos à do novo, acharemos, no capítulo dezoito de São João, que um ministro do pontífice levantou sacrílego a mão para Cristo, e, imprimindo-a com fúria no sagrado rosto, ficou vivo e sem castigo. Notável desigualdade! Se porque se atreve a pôr a mão na Arca, morre Osa, como fica o ministro infame com vida depois de tão horrendo atrevimento? Todo o respeito que se devia e se dava à Arca do Testamento, não era por ser figura do Verbo encarnado? Pois, se as injúrias feitas ao retrato assim se castigam, como se não castigam também as injúrias feitas à pessoa? Porque cá era a pessoa, lá era o retrato. Na Arca do Testamento estava Deus por presença figurativa, na humanidade de Cristo estava Deus por presença real e verdadeira; e onde tinha mais verdadeira presença, ali havia de dar maiores mostras de paciência. Não pode sofrer acenos a Arca, porque não tinha de Deus mais que a figura; pode sofrer injúrias em seu rosto Cristo, porque tinha de Deus a realidade. Oh! Senhor, que bem mostrais que debaixo desses acidentes de pão está vossa real e verdadeira presença! Os hereges obraram como quem são, vós obrastes como quem vós sois; os homens negaram-vos, vós não vos negastes. Consagraram os hebreus divindade à semelhança bruta de um bezerro, teve impulsos Deus de castigar tão grande atrevimento assolando-os a todos, como mereciam; mas deixou-se vencer a ira divina das orações de Moisés: não os castigou. Pôs os olhos nesta ação S. Paulino, como os pudera pôr no caso presente, e, vendo os ofensores da terra sem castigo, e Deus no céu ofendido sem vingança, depois de larga admiração, resolveu-se assim: Deum homines negaverunt, et Deus se ipsum non negavit: O caso é que os homens negaram a Deus, mas Deus não se negou a si: os homens negaram a Deus, porque idolatraram; Deus não se negou a si, porque os sofreu. Cuidaria alguém que se portou Deus naquela ocasião menos cuidadoso dos foros de sua honra, menos zeloso dos pundonores de sua divindade, mas não foi assim, diz S. Paulino: não levar da espada contra os homens foi defender e acudir por sua honra poderosamente, porque, na paciência com que os sofreu, refutou a falsidade com que o negaram. Vós dizeis que não sou Deus? Pois hei de mostrar que o sou, hei-vos de sofrer: Deum homines negaverunt, et Deus se ipsum non negavit.

E se não, pergunto, e responda-me o entendimento mais escrupuloso: Se quando os sacrílegos chegaram a pôr a mão na Hóstia fizera Cristo algum portentoso milagre, ou derrubando-os por terra, ou enterrando-os vivos, não disséramos que era argumento grande de sua divindade e presença? Sim. Pois tanto mostrou Cristo a verdade do seu ser e de sua presença em se deixar maltratar, como se castigara severa e prodigiosamente os que assim o trataram. Vieram os judeus prender a Cristo, Redentor nosso, ao Horto; perguntou-lhes o Senhor a quem buscavam; e como dissessem que a Jesus Nazareno, respondeu: Ego sum (Jo. 18, 5): Eu sou. - E foi tão poderosa esta palavra, que no mesmo instante caíram por terra todos os soldados: Abierunt retrorsum (ibid. 6). - Não desistiram com este desengano os pérfidos ministros - que não sabe escarmentar a infidelidade; - vendo-os resolutos, tornou o Senhor a lhes perguntar quem buscavam, e, como respondessem que a Jesus Nazareno, disse o Senhor: Dixi vobis, quia ego sum (Jo. 18, 8): Já vos disse que eu sou - e, dizendo isto, lhe puseram as mãos, e o prenderam: Cohors ergo, et ministri com prehenderunt Jesum, et ligaverunt eum (ibid. 12). - O que aqui pondero, e o em que muito reparo, é que com um Ego sum derrubou Cristo a seus inimigos, e com um Ego sum lhes deu licença para que pusessem nele as mãos sacrílegas. Se a palavra Eu sou foi tão poderosa que derrubou um exército de soldados, por que toma Cristo por meio de se entregar e se deixar prender a mesma palavra Eu sou? A razão é porque quis ensinar Cristo àqueles hereges que tanto mostrava ser ele em os sofrer como mostrava ser ele em os derrubar. Não cuideis, hereges, que fica menoscabada a verdade de meu ser na temeridade de vossos atrevimentos, porque eu sou, quando vos derrubo, e eu sou, quando vos sofro: quando dou convosco por terra: Ego sum; quando vos dou licença para que me ponhais as mãos, também Ego sum - porque tanto se prova a verdade de meu ser nos milagres de minha onipotência, como nas permissões de minha paciência. Ego sum, nos milagres de minha onipotência: Et abierunt retrorsum; Ego sum, nos extremos de minha paciência: Et manus injecerunt in Jesum.

§V

A onipotência de Deus na fortaleza de sofrido e na grandeza de todo-poderoso. Se Cristo não queria outra coisa mais que a fé dos homens, e os homens queriam crer se se descesse da cruz por que se não desceu? A paciência de Cristo no Sacramento, a mais qualificada prova de sua presença.

Antes, se entre a onipotência e paciência quisermos fazer comparação, mais mostra Cristo que o é na fortaleza de sofrido que na grandeza de todo-poderoso. Estava Cristo pregado na cruz; chegaram os judeus e fizeram-lhe este partido: Si Filius Dei es, descende de cruce (Mt. 27, 40): Eia, Senhor, venhamos a concerto: se sois Filho de Deus, como dizeis, descei dessa cruz, e creremos que o sois. - Quando isto li, pareceu-me que o Senhor aceitasse logo o partido; mas eu leio que não lhes respondeu palavra, e se deixou estar crucificado. Pois, se Cristo não pretendia outra coisa mais que a fé dos homens, e os homens queriam crer, se se descesse da cruz, por que se não desceu? Deixou de descer Cristo da cruz, não por não querer dar motivo de fé aos homens, senão porque lhes quis dar os mais qualificados. O Senhor estava padecendo na cruz, eles queriam que descesse dela, e era menor prova de sua divindade o descer que o padecer. Santo Atanásio: Non descendendo, sed permanendo in cruce, Filius Dei agnosci voluit; multo enim magis mors Salvatoris fidem hominibus attulit, quam descensus attulisset. - Admiravelmente! Não quis o Senhor descer para que cressem nele; mas para que cressem nele deixou-se padecer, porque muito mais provava ser Filho de Deus padecendo do que descendo. - Descendo mostrava-se sobrenaturalmente poderoso; padecendo mostrava-se sobrenaturalmente sofrido; e mais prova de divindade eram os milagres de sua paciência que os milagres de sua onipotência. Bem se viu, porque, depois de mostrar sua onipotência no Horto, derrubando-os, crucificaram-no; e, depois de mostrar sua paciência no Calvário, adoraram-no: Vere Filius Dei erat iste (Mt. 27, 54) - disse o capitão dos mesmos soldados. Mal argumenta logo a infidelidade em duvidar da presença de Cristo no Sacramento pelo ver tão sofrido em suas injúrias, porque antes da sua paciência se prova evidentemente sua presença: Hoc est corpus meum: Este é meu corpo - disse Cristo na instituição do Santíssimo Sacramento, estando com o pão nas mãos; e, sendo uma coisa tão nova e tão dificultosa, com que o provou? Ouvi as palavras seguintes: Hoc est corpus meum, quod pro vobis tradetur (1 Cor. 11, 24): Este é o meu corpo, que por vós há de ser entregue. - Alegou as injúrias futuras, que os judeus haviam de fazer em seu corpo, quando afirmava a verdadeira presença, com que o deixava encoberto e invisível no Sacramento. Depois de dizer: Hoc est corpus meum - quando, parece, havia de dar provas de sua presença, deu provas de sua paciência: Quod pro vobis tradetur - porque a paciência de Cristo é a mais qualificada prova de sua presença. Deu-me confiança para o dizer assim S. Cirilo, que em semelhantes palavras filosofou da mesma maneira. O que Cristo disse na Ceia, consagrando seu corpo, tinha já dito no capítulo sexto de São João, prometendo de o consagrar: Panis quem ego dabo, caro mea est pro mundi vita (Jo. 6, 52): o pão que hei de dar a comer aos homens é o mesmo corpo que hei de entregar à morte pela salvação do mundo. - Diz agora S. Cirilo:Panis quem ego dabo ad manducandum, est illa ipsa caro quam in morte pro mundi vita daturus sum; eo enim ipso quod bis dicit dare, indicat se diversis dandis modis loqui; nec enim posterius prioris - ut quidam putant - explicatio est, sed potius probatio. - Grandes palavras estas últimas! Quando Cristo diz que há de deixar seu corpo debaixo das espécies de pão, acrescenta que é o mesmo corpo que havia de entregar nas mãos dos homens; e isto, diz S. Cirilo, não foi explicação de ser o que deixava seu corpo, senão prova de que o era: Nec enfim posterius prioris explicatio est, sed potius probatio. - A evidência com que padeceu, fez prova da inevidência com que se deixou: encobrem-no os acidentes, descobre-o a paciência; até agora era mistério encoberto, agora é sacramento manifesto, para que entendamos que se não encontra a magnanimidade de sua paciência com a verdade de sua presença, antes, de uma se infere outra. Sofre? Pois está presente: Hic est panis qui de caelo descendit.

§ VI

Oração e adoração final.

Este sois, Senhor, este sois; este é o sumo de vossa grandeza, este é o sumo de vossa majestade, este é o sumo de vosso poder. Pouco conhece a onipotência de vossa divindade quem a não reconhece e adora mais descoberta e manifesta na vossa paciência. Podeis desfazer, podeis destruir, podeis assolar, podeis aniquilar o mundo, em castigo e vingança de vossas ofensas, e, parecendo que este é todo o vosso poder, ainda podeis mais. E quê? Podeis perdoar, podeis não castigar nem vingar essas mesmas ofensas. Assim o crê e canta, sem adulação, vossa mesma Igreja: Qui omnipotentiam tuam parcendo maxime, et miserando manifestas: Vós sois - diz - aquela onipotente divindade, que em perdoar, e não castigar, em sofrer, e não vingar, ostenta mais o sumo poder de sua onipotência. - Muito nos pesa de que houvesse entre nós tão pouca fé, que se atrevesse a ofender vossa oculta majestade, debaixo das sombras desses acidentes invisível. Porém, nós que invisível, e sem a vermos, a cremos tão claramente como se a víramos, em distinguir o castigo da satisfação imitamos, quanto nos é possível, os primores soberanos de vossa justiça. Assim como castigastes a infidelidade de Adão com a sentença de morte, assim castigou esta o zelo vigilantíssimo de Portugal com a morte mais severa. Mas porque Adão, e um sujeito de barro, não podia satisfazer à infinita majestade de Deus ofendido, assim como mandou Deus seu próprio Filho, para que ele em pessoa satisfizesse por aquela culpa, assim o fez e faz nestes três dias Lisboa, no modo que lhe é possível. Os reis, os príncipes, a primeira e mais ilustre nobreza são as deidades cá da terra: essas tendes, Senhor, prostradas diante desse trono, todas com nome de perpétuos escravos desse sacrossanto Mistério, para que vossa mesma Majestade ofendida se digne de aceitar a sua fé, a sua adoração, e o seu profundíssimo conhecimento e obséquio, em satisfação e desagravo desta ofensa.

Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística



[1] Aqui está o pão que desceu do céu (Jo. 6, 59).

[2] Tomai-o, e distribuí-o entre vós (Lc. 22, 17).

[3] A qual, tendo começado a ser anunciada pelo Senhor, foi depois confirmada entre nós pelos que a ouviram, confirmando-a ao mesmo tempo Deus com sinais e maravilhas (Hebr. 2, 3 s.).

[4] Estes são, ó Israel, os teus deuses, que te tiraram da terra do Egito (Êx. 32, 4).

[5] João não fez milagre algum (Jo. 10, 41).

[6] Erraram desde que saíram do ventre de sua mãe, e falaram falsidades (SI. 57, 4).

[7] Aqui está o pão que desceu do céu (Jo. 6, 59).