Fonte: Biblioteca Digital de Literatura de Países Lusófonos

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LITERATURA BRASILEIRA
Textos literários em meio eletrônico
Sermão das Chagas de São Francisco, do Padre António Vieira


Edição de Referência:
Sermões, Padre Antônio Vieira, Erechim: Edelbra, 1998.

SERMÃO DAS CHAGAS DE SÃO FRANCISCO

Pregado em Roma, na Arqui-Irmandade das mesmas Chagas, ano de 1672.

Adimpleo ea quae desunt passionum Christi in carne mea[1].

§I

Assunto do sermão: São Francisco de Assis, segunda estampa de Cristo crucificado. As vozes e clamores das chagas de Francisco. O monte Alvérnio, e o monte Sinai.

A segunda estampa de Cristo crucificado – que no original toscano se diz, com propriedade e elegância que não cabe na nossa língua, Il Crocifisso Ristam­pato – porventura com maior e melhor novidade da que prometem as segundas impressões, será hoje a matéria do meu discurso. O discurso será meu, as palavras nem minhas nem vossas. Não minhas, porque de língua estranha; não vossas, por­que mal polidas, e duramente pronunciadas, Mas esta dissonância tão conhecida, a que me obrigastes, se suprirá com vantagem, e ainda com harmonia, nas mesmas chagas de Francisco que celebramos, se as ouvirdes a elas, e não a mim.

Olhai, senhores, para aquelas chagas. Oh! que silêncio! Oh! que vo­zes! Oh! que clamores! Aquelas chagas abertas são cinco bocas; aquele sangue ardentemente gelado nelas são cinco línguas, que, ferindo os olhos mais cegos, penetram os ouvidos mais surdos. Ou as vejais como chagas de Cristo impressas em Francisco, ou como chagas de Francisco transformado em Cristo, de todo o modo são bocas, são línguas, são vozes. Das chagas de Cristo disse Ruperto: Quot in Christi corpore plagae, tot linguae[2]e das chagas de um pobre chaga­do, como Francisco, disse Crisólogo: Ut in admonendo divites tot essent pauperis ora quot vulnera[3]. A estas vozes convido hoje, senhores, não os vossos ouvidos, senão os vossos olhos. Quando Deus dava a lei a Moisés no Monte Sinai, diz o texto sagrado que o povo todo estava vendo as vozes: Populus autem videbat voces (Êx. 20, 18). Notável dizer! O ver é ação dos olhos, as vozes são objeto dos ouvidos; pois, como se viam as vozes? Estava o Monte Sinai ardendo em chamas; estava Moisés transportado em Deus fatie ad fatiem; estava o mesmo Deus, feito escultor, imprimindo caracteres nas tábuas da lei, e à vista de uma visão tão estupenda, saíram os sentidos humanos fora de sua esfera, e viam os homens com os ouvidos, e ouviam com os olhos: Populus autem videbat voces.

Assim é. Passemos do Monte Sinai ao Monte Alvemo, que vai o amor de monte a monte. Arde o monte todo em labaredas seráficas: Francisco, arrebatado e extático de face a face com Cristo; Cristo, escultor e impressor divino, estampando nele as suas chagas; Cristo, fora de si, transformado em Francisco; Francisco, fora de si, transformado em Cristo. Saiam logo também fora de si os sentidos, e, transformando-se os ouvidos em olhos, os olhos ouçam, e os ouvidos vejam. Os ouvidos, já que não têm que ouvir nas minhas palavras, vejam; e os olhos, já que têm tanto que ver nas chagas de Francisco, ouçam. Os olhos ouvirão bem, vendo bem; os ouvidos verão bem, ouvindo mal. E que hão de ver e ouvir? O que disse no princípio: a imagem de Cristo segunda vez estampada. Este é o meu assunto.

§II

Por que razão quis Cristo restampar as suas chagas? Os defeitos da primeira impressão das chagas de Cristo emendados na segunda impressão no corpo de Francisco.

Mas por que razão, saibamos, quis Cristo restampar as suas chagas? Por que quis fazer esta segunda escultura, e esta segunda impressão delas? A razão está nas palavras que tomei por tema: Adimpleo ea quae desunt passionum Christi in carne mea[4]. Aquele ad, no texto original é re: reimpleo. Quando a primeira impressão sai defeituosa, faz-se segunda impressão mais correta, em que se emendam os defeitos da primeira. Isto é o que fez Cristo. Tornou a restampar as suas chagas em Francisco, para emendar nesta segunda impressão os defeitos da primeira estampa. Quae desunt: eis aí os defeitos; reimpleo: eis aí a reimpressão; passionum Christi: eis aí as chagas; in carne mea: eis aí o corpo de Francisco. Que este lugar se entenda particularmente das chagas de Cristo, e das chagas de Cristo depois de subir ao céu, comunicadas na terra a um substituto do mesmo Cristo, qual era S. Francisco, assim o dizem 5. João Crisóstomo e Teofilato: Quemadmodum si, duce exercitus abeunte, subimperator in ejus locam constitutum vulnera ipsius recipiat[5].

Mas vejo que me dizem todos: – Defeitos nas chagas de Cristo? Naquelas chagas de infinito preço, de infinito valor, de infinito mérito, de infinita perfeição, pode caber algum defeito? Primeiramente a palavra não é minha, senão de S. Paulo, que falava com muita Teologia, e com muita reverência. Isso quer dizer: Ea quae desunt. E na língua grega, em que S. Paulo escreveu, ainda está mais expressa a mesma palavra. Por onde a Versão Siríaca, em lugar de quae desunt, trasladou defectus: Adimpleo defectus passionum Christi. Pois, que defeitos foram estes das chagas de Cristo? Claro está que não foram nem podiam ser defeitos do original, mas foram defeitos da impressão. Na primeira impressão das chagas de Cristo no Monte Calvário, se bem se consideram todas suas circunstâncias, achareis que houve três defeitos: um da parte dos impressores, outro da parte dos instrumentos, outro da parte das mesmas chagas impressas. E todos estes defeitos foram corretos e emendados na estampa do Monte Alverno, quando segunda vez se restamparam as mesmas chagas no corpo de Francisco: Adimpleo ea quae desunt passionum Christi in carne mea. Agora vos peço atenção.

§ III

Primeiro defeito, da parte dos impressores, das chagas de Cristo. A crueldade e sacrilégio dos artífices e impressores da primeira estampa, e o amor e inocência do impressor da segunda estampa. O cálix de vinho puro e misturado da paixão de Cristo de que fala Davi. As chagas de São Francisco e a instituição do Sacramento. Por que responde Cristo aos anjos, no triunfo de sua Ressurreição, que recebera as chagas na casa dos que o amavam?

Começando pelo primeiro defeito da parte dos impressores: os impressores das chagas de Cristo no Calvário foram os ministros da Sinagoga, armados de ódio, de ira, de inveja, de injustiça, de crueldade. E por esta circunstância de tanta impiedade e horror, a mesma Paixão de Cristo, que da parte do crucificado era o mais agradável sacrifício, da parte dos crucificadores foi o mais abominável sacrilégio. Este foi o fel do cálix da Paixão: Dederunt ei vinum felle mixtum[6] . Da parte do sacrifício era vinho, da parte do sacrilégio era fel, e por isso o Senhor o não quis beber: Cum gustasset, noluit bibere[7]. E como no cálix da Paixão ia misturado o vinho com o fel; como na impressão das primeiras chagas, pela maldade dos artífices, o sacrifício foi misturado com o sacrilégio, o amor com o ódio, e a inocência com o pecado, este foi o primeiro defeito que Cristo quis emendar na segunda estampa. Por isso mudou os artífices, por isso fez que os impressores desta segunda estampa fossem um serafim transformado em Cristo, e o mesmo Cristo revestido de serafim, para que tudo aqui, e de todas as partes fosse amor, e para que nós, que não podemos ver as chagas de Cristo em Cristo, sem horror da impiedade humana, víssemos as chagas de Cristo em Francisco, só com admiração e pasmo do amor divino.

Este digo que foi o pensamento de Cristo, e vede se o provo. Morre e padece Cristo no Calvário, e, não contente com haver morto e padecido uma vez, torna a renovar a mesma paixão e a mesma morte no mistério sacrossanto da Eucaristia. E por quê? O sacrifício da morte de Cristo, uma vez padecido, não bastava para preço da Redenção, para remédio do mundo, para propiciação do Padre, para exemplo e exemplar dos homens? Sim, bastava, e sim, bastou. Antes, essa era a diferença do sacerdócio de Cristo ao sacerdócio de Arão, como notou S. Paulo: Hoc enim fecit semel, se ipsum offerendo[8]. – Arão, como sacerdote somente homem, multiplicava os sacrifícios como se multiplicavam os pecados; porém, Cristo, que era sacerdote homem e juntamente Deus, que era sacerdote e juntamente sacrifício, que era sacrifício oferecido uma vez juntamente por todos os pecados do mundo, bastou que uma só vez morresse, e uma só vez se sacrificasse: Hoc enim fecit semel, seipsum offerendo.

Pois, se bastava, e bastou, para remédio do mundo, que Cristo se sacrificasse e morresse uma só vez, por que renova segunda vez a mesma morte e a mesma Paixão no Sacramento? Disse-o admiravelmente o profeta Isaías: Faciet Dominus in monte hoc convivium pinguium, vindemiae defaecatae[9]. Instituiu Cristo em forma de convite o sacrifício de seu corpo e sangue, diz o profeta, e tornou a renovar segunda vez no Monte Sião a mesma morte e o mesmo sacrifício que tinha oferecido no Monte Calvário, para que aquele sacrifício, que lá esteve misturado com fezes, aqui ficasse puro e defecado: Convivium pinguium, vindemiae defecatae. Ora, vede. O sangue derramado no sacrifício da cruz era o mesmo sangue puríssimo consagrado no Sacramento; mas esse sangue na cruz esteve misturado, e como envolto nas fezes do ódio, da maldade, e do pecado sacrílego dos ministros que o derramaram. Que fez, pois, Cristo para emendar este defeito? Toma a reiterar, torna a renovar segunda vez o mesmo sacrifício e a mesma morte no Sacramento, sendo o seu amor, e ele por si mesmo, o ministro, para que o sangue, que na cruz, por parte dos ministros ímpios, fora misturado com fezes, no Sacramento se tirasse em limpo, e ficasse totalmente puro e defecado: Vindemiae defaecatae.

Desejei um santo padre que o dissesse assim, mas dar-vos-ei um autor que vale por todos os padres, Davi. Viu Davi a Cristo com um cálix na mão, e, com termos dificultosos de entender, diz que este cálix estava cheio de vinho puro e misturado: Calix in manu Domini vini meri, plenus mixto (Sl. 74, 9). Se o vinho do cálix era puro: vini meri – como era misturado: plenus mixto? E se era misturado, como era puro? Tudo era, porque era o cálix da Paixão de Cristo, o qual foi juntamente puro e misturado: puro, pela santidade e inocência do san­gue de Cristo; misturado, pelas fezes do pecado, e maldade dos que o derrama­ram. Este cálix de sua Paixão viu Davi que tinha Cristo na mão: e que fez o Senhor com ele. Ouvi e pasmai: Inclinavit ex hoc in hoc, verumtamen faex ejus non est exinanita[10]. O que até agora era um cálix, já são dois cálices – como advertidamente notou Eutímio – um o cálix da cruz, outro o cálix do Sacramento, que em substância são o mesmo. Tendo, pois, Cristo em uma mão o cálix de sua Paixão, toma na outra mão o cálix em que havia de consagrar o Sacramento: Et inclinavit ex hoc in hoc – e lançou e passou o cálix da Paixão ao cálix do Sacra­mento: Verumtamen faex ejus non est exinanita: porém, ficaram as fezes de fora, porque ficou de fora o pecado e maldade dos ímpios ministros, para que até aque­la parte, que teve na cruz o ódio, a tivesse no Sacramento o amor.

O mesmo estilo guardou Cristo na segunda impressão das suas chagas. Assim como lá reiterou a sua paixão, e a passou ao Sacramento, assim cá reiterou as suas chagas, e as sacramentou em Francisco; e, assim como no Sacramento foi ele e o seu amor o ministro, assim na impressão das chagas foi ele e o seu amor o artífice, para que aquelas cinco brechas da divindade, que, abertas no corpo do mesmo Cristo, por parte dos executores delas, foram assombradas da fealdade e horror, purificada esta circunstância no corpo de Francisco, ficassem nele, por outras tantas partes, formosas, e, vistas a todas as luzes, amáveis. Se vos não dais por satisfeitos com a parida­de, vamos às mesmas chagas, e seja Cristo o intérprete do seu pensamento.

Sobe Cristo triunfante ao céu no dia de sua gloriosa Ascensão, viram os anjos os sinais vermelhos de que ia matizado o sagrado corpo, cui­daram ao longe que eram rubis de estranha formosura; mas, divisando de mais perto que eram chagas, perguntaram admirados: Quid sunt plagae istae in medio manuum tuarum[11]? Rei e Senhor nosso, que é o que vemos? Isto é o que fostes buscar ao mundo? Isto é o que trazeis de lá? Que chagas são estas? Eu não me admiro do que se admiraram os anjos; admiro-me do que respondeu Cristo: His plagatus sum in domo eorum qui diligebant me (Zac. 13, 6): São umas chagas – diz Cristo – que recebi na casa dos que me ama­vam. Na casa dos que me amavam? Todos estais vendo a dúvida. O Monte Calvário, patente e descoberto, era casa? Os homicidas, ou deicidas desuma­nos, que crucificaram a Cristo, cheios de ódio, de raiva, de vingança, ama­vam a quem tiraram a vida? Claro está que não. Pois, como diz Cristo que recebeu as chagas in domo eorum qui diligebant me: na casa daqueles que o amavam? Tomara ouvir a resposta, mas eu a darei.

Cristo recebeu duas vezes as chagas: uma vez em carne mortal, outra vez depois de ressuscitado. A primeira vez foram recebidas num mon­te, por mãos dos que tanto o aborreciam; a segunda vez foram recebidas numa casa, por mãos dos seus maiores inimigos. Entrou Cristo a portas fe­chadas na casa onde estavam os apóstolos, e aí lhe tornou a abrir as chagas a incredulidade devota e amorosa de Tomé: Infer digitum tuum huc, et vide manus meas, et affer manum tuam, et mitte in latus meum (Jo. 20, 27): Mete essa mão, e vê bem estas chagas de minhas mãos e lado. Esta foi a segunda vez que se rasgaram as chagas de Cristo. Ouvi a S. Pedro Crisólogo: Ea vulnera, quae manus infixit impia, devota dextera nunc resulcat: Tatus, quod impii militis lancea patefecit, refodere manus nititur obsequentis. E como as chagas de Cristo foram segunda vez abertas naquela casa em que estavam os apóstolos, que tanto o amavam, por isso Cristo disse com toda a verdade: His plagatus sum in domo eorum qui diligebant me. Está verificada a pro­posição, mas a razão não está dada. Se as chagas foram abertas uma vez no Calvário, e outra vez na casa dos apóstolos, por que responde Cristo com esta segunda abertura das suas chagas, e não com a primeira? Porque, sendo o dia de seus triunfos, e de sua maior gala e majestade, quis acudir pela formosura e pelo decoro das suas chagas: quis honrar a obra com o nome do artífice, por isso calou o ódio, e publicou o amor.

As chagas recebidas por mão do ódio, ainda que tão divinas, ti­nham sombras de fealdade e de horror; porém, recebidas por mão do amor, todas, e por todas as partes, eram belas e formosas. Esta foi a razão por que Cristo respondeu: His plagatus sum in domo eorum qui diligebant me. – E este foi o primeiro motivo por que, transformado em um serafim de amor, tornou a restampar as mesmas chagas em Francisco, suprindo desta forma, na segunda estampa, o erro e o defeito que tinha cometido na primeira o ódio dos impressores: Adimpleo ea quae desunt passionum Christi in carne mea.

§ IV

Segundo defeito das chagas de Cristo: da parte dos instrumentos. Por que se não abrandaram a cruz e os cravos? Os cravos das chagas de Fran­cisco, e as duas pontas que apareceram na cabeça de Moisés. A cruz de barro do profundo, de que fala o Profeta-Rei. Diferenças de um crucificado a outro crucificado.

Da parte dos instrumentos – que é a segunda circunstância, e o segundo defeito – também houve muito que emendar na segunda impressão. Os instrumentos com que a primeira vez se imprimiram em Cristo as suas chagas foram os cravos e a lança. Contra estes dois instrumentos tenho gran­des queixas. E bem, lenho mais que duro, e bem, ferros mais que de ferro, assim vos atreveis contra vosso Deus, contra vosso criador? Por que vos não abrandastes? Por que vos não rompestes? Por que vos não desfizestes naque­la hora? Nos martírios dos defensores deste mesmo Cristo, quantas vezes se romperam os lenhos nas rodas e nas catastas? Quantas vezes se fizeram de cera as lanças e as espadas? Mas não quero afrontar-vos com injúrias tão remotas. Neste mesmo dia, e neste mesmo monte, e em todo o mundo, não tremeu a terra? Não se romperam as pedras? Não se escureceu o sol? Não se rasgou o véu do Templo, confessando todas as criaturas que padecia o Autor delas? Pois, a cruz e os cravos, a quem o caso tocava de mais perto, por que se não abrandam? Por que se não espedaçam? Por que não acompanham na dor e no sentimento a toda a natureza?

Este foi o primeiro defeito dos instrumentos na primeira impres­são das chagas de Cristo. Mas vede como o emendou Francisco na segunda estampa. Nos pés e mãos de Francisco, não só se viam as chaga abertas, masno meio de cada uma delas estava um cravo, formado da mesma carne, que as traspassava, negro, ou entre negro e azul, da cor de ferro. Mais admiro estes cravos que as mesmas chagas. No crucifixo-Cristo, padeciam as mãos, padeciam os pés, padeciam as chagas; mas os cravos duros e insensíveis não padeciam. Porém, no crucifixo-Francisco, não só os pés e as mãos, não só as chagas em carne viva, mas também os cravos padecem. No Calvário quebraram-se as pedras mostrando dor, mas não tinham dor, porque eram insensíveis; os cravos, mais duros que as pedras, nem tinham dor nem mostravam dor, antes causavam acerbíssimas dores; e porque em Cristo causaram dores, por isso em Francisco são capazes de dor. Cravos vivos, cravos sensitivos, cravos racionais, para que, conhecendo a razão de sentir, padecessem a dor e mais a causa. Oh! espírito! Oh! amor mais que miraculoso!

Apreendeu o amor de Francisco tão viva, tão forte, tão dolorosamente o tormento e ofensa daqueles cravos, que os transformou, e os informou, e vivificou em si mesmo. Não tem parelha esta maravilha; só em Moisés teve uma semelhança. Estava Moisés com Deus naquele monte, onde também orou e jejuou outros quarenta dias, como Francisco; revelou-lhe Deus o que passava no campo e no exército, e como lá estava o ingratíssimo povo adorando um bezerro, e publicando a vozes que aquele era o Deus que os libertara do Egito. E que sucedeu a Moisés neste caso? Desce Moisés do monte, olham todos para ele, e vêem que na testa – fosse a matéria qual fosse – lhe tinham nascido e saído duas pontas: Ignorabat quod comuta esset facies sua (Êx. 34, 29). Pois, duas pontas, e de tão feio nome na cabeça de Moisés nesta ocasião, e não em outra? Sim, porque, como era tão amante de Deus, e tão verdadeiro zelador de sua glória, transformou em si mesmo os instrumentos das ofensas de seu Senhor.

Como o povo ofendia brutamente a Deus idolatrando, e o instrumento bruto desta ofensa era um bezerro com duas pontas na testa, foi tal a força da dor, do amor e do zelo de Moisés, que transformou em si, e informou, e vivificou esses mesmos instrumentos na parte mais sensível de si mesmo: Quod facies ejus esset comuta. Ah! zelador da honra de Deus, mais zelante que Moisés! Ah! amador de Deus, mais amante que Moisés, Francisco! Do vosso adorado crucifixo disse o profeta: Comua in manibus ejus (Hab. 3, 4) – dando este fero nome àqueles duros cravos; mas porque eles foram duros e feros, vós os transformastes em vós, desafrontando a sua dureza no vosso sentimento, e emendando a sua insensibilidade na vossa dor.

Assim supriu Francisco o defeito dos cravos, e assim também o da cruz, que foi o segundo instrumento que concorreu duramente à impressão das primeiras chagas. Notou São Boaventura que os cravos das chagas de Francisco, não só lhe traspassavam as mãos e os pés, senão que da parte oposta estavam torcidos, dobrados, e como que rebatidos: Ipso vero acumina oblonga, retorta, et quasi repercussa. Grande mistério! Os pregos pregam-se no crucificado, mas não se dobram nem se rebatem senão na cruz: logo, S. Francisco era o crucificado e mais a cruz juntamente. Mas por que era também cruz? Para emendar o defeito da cruz de Cristo. Na cruz de Cristo padecia o crucificado, mas a cruz não padecia. Por isso Francisco se fez a si mesmo cruz, para ser cruz padecente. Agora, reparai na diferença de uma cruz a outra cruz. Na cruz do Calvário padecia Cristo, porque estava em carne mortal, mas a cruz não padecia, porque era insensível; na cruz de Francisco Cristo não padecia, porque estava já imortal e glorioso, mas a cruz padecia, porque era cruz viva, cruz sensitiva, cruz racional: passível, e verdadeiramente padecente. Assim o disse o mesmo Cristo por boca de Davi, gloriando-se não pouco desta nova cruz. Ouvi o passo, em que há muito que ouvir.

Infixus sum in limo profundi, et non est substantia[12]. – Fala o profeta literalmente de Cristo, como entendem todos os padres e intérpretes, e diz Cristo que se crucificou a si mesmo no barro do profundo: In limo profundi. – Já a cruz de Cristo não é de madeira, senão de barro. E que cruz de barro, ou que barro feito em cruz foi este? S. Bernardo diz que foi o barro de Adão, aquele barro de quem diz o texto sagrado: Formavit Deus hominem de limo terrae[13]As palavras de S. Bernardo são estas: Fortasse crux ipsa nos sumus, cui Christus memoratur infixus. Homo enim formam crucis habet, quam, si manus extenderit, exprimit manifestius. Loquitur autem Christus in psalmo: Infixus sum in limo profundi: limum quidem nos esse manifestum est, quoniam de limo plasmati sumus[14]. De maneira que quando Deus, tomando a natureza humana, uniu a si o nosso barro, então diz S. Bernardo que se crucificou Deus em uma cruz de barro, porque se crucificou no homem. A razão por que não pode subsistir a segunda parte desta interpretação logo a vereis. Que cruz de barro foi logo esta?

Digo que foi S. Francisco, porque, sendo barro, como os outros homens, foi o barro do profundo: Infixus sum in limo profundi. Olhai para todo o gênero humano, para toda esta massa do barro de Adão: na superfície, e no alto, estão os soberbos, barro que todo se desfaz em vapores; no meio estão os que não são soberbos nem humildes; no fundo estão os humildes; e no mais profundo deste fundo quem está? Francisco, que foi o mais humilde de todos os humildes. Este barro, pois, do profundo, foi a cruz em que Cristo se crucificou: Infixus sum in limo profundi. O mesmo profeta o declarou, ajuntando a diferença individual de Francisco: Infixus sum in limo profundi, et non est substantia. Santo Agostinho: Et non est substantia, id est, non sunt divitiae, guia ipse ille limus paupertas erat. Substância quer dizer riquezas e bens temporais. Assim se diz do Pródigo: Dissipavit omnem substantiam[15]. E este barro do profundo, em que Cristo se crucificou, era tão pobre, que era a mesma pobreza: Quia ipse ille limus paupertas erat. Vede se era Francisco, e se é esta a sua diferença individual: Infixus sum in limo profundi, et non est substantia.

Os que querem engrandecer a semelhança destas duas estampas dizem: Despi a Francisco, e vereis a Cristo; vesti a Cristo, e vereis a Francisco. Isto significam aqueles dois braços cruzados, um nu, outro vestido, ambos chagados. Perdoai-me, senhores, não pintais bem, ou trocai os pensamentos. O braço vestido é o de Cristo, o nu é o de Francisco. Por quê? Porque non est substantia. A pobreza de Cristo, enquanto exemplar nosso, foi mais conveniente; mas a pobreza de Francisco, enquanto pobreza, foi mais nua e mais pobre, porque Cristo, além do domínio alto de todo o universo, é de fé, e assim está definido, que ou em particular, ou em comum, teve domínio de algumas coisas.

Mas em Francisco non est substantia, porque nem em particular nem em comum teve domínio de coisa alguma. Os vestidos, de que despiram a Cristo na cruz, eram de Cristo; a túnica, de que está vestido Francisco, não é de Francisco. Logo, o braço de Francisco é o braço nu, ou se deve também despir o braço de Cristo. Mas, se ambos nus, ambos chagados, onde acharemos a diferença? Só a fé lha pode achar, e assim o advertiu o mesmo texto.

Infixus sum in limo profundi, et non est substantia. Lê o grego: Et non est hypostasis. A diferença de um crucificado a outro crucificado, é que num há união hipostática, no outro não. A humanidade de Cristo, como dizia S. Bernardo, foi a cruz de barro em que se crucificou a divindade; e o corpo de Francisco foi a cruz, também de barro, em que se tornou a crucifi­car a humanidade de Cristo. E para quê? Para suprir na segunda cruz os defeitos da primeira. Porque a primeira cruz foi uma cruz dura, uma cruz cruel, uma cruz desumana, uma cruz, que, mostrando dor e sentimento até às pedras, só ela se mostrou insensível; seja logo Francisco uma segunda e nova cruz, cruz sensitiva, cruz humana, cruz amorosa, cruz crucificada, cruz que tome em si as dores, cruz que não cause as penas, mas as padeça; cruz, en­fim, que desfaça e emende os defeitos da primeira: Adimpleo ea quae desunt passionum Christi in carne mea.

§V

Terceiro e último defeito das chagas de Cristo: ainda que as chagas dos pés e mãos foram perfeitas chagas, a chaga do lado, que era a que mais pertencia ao coração, foi chaga imperfeita. Como reparou Cristo o defeito, ou falta de dor da chaga de seu coração? Absalão, figura de Cristo crucifi­cado. Se Absalão era figura de Cristo, e o peito de Cristo foi aberto com uma só lança, como se vêem três lanças no peito de Absalão? As três lança­das do peito de Francisco. As demonstrações de amor do céu e da terra na Paixão e morte de Cristo, e os extremos do amor de Francisco.

O terceiro e último defeito foi das mesmas chagas impressas, porque, ainda que as chagas dos pés e mãos foram perfeitas, a chaga do lado, que eraa que mais pertencia ao coração, foi chaga imperfeita, e quase não foi chaga, nem Cristo a estimou tal, porque foi chaga sem dor. Na última hora, e quase nas últimas respirações da vida, disse Cristo: Sitio (Jo. 19, 28): Tenho sede – e disse sitio, diz o evangelista, porque sabia o Senhor que já estavam acabados todos os tormentos da Paixão, e cumpridas todas as Escrituras: Sciens quia omnia consummata sunt, dixit: Sitio (ibid.). Devagar, Senhor meu: Nas Escrituras está profetizado que haveis de padecer o golpe da lança: Circumdedit me lanceis suis, convulneravit lumbos meos[16]. Pois, se ainda falta a chaga do lado e a ferida da lança, por que dizeis que está tudo acabado: Omnia consummata sunt? Porque a ferida da lança foi ferida que a não havia de sentir Cristo, porque a havia de receber depois de morto; e feridas que se não sentem, ainda que sejam no coração, não são feridas. A chaga do lado era chaga sem dor, e chaga sem dor não é chaga. Por isso S. João, discreta e advertidamente não disse que feriram o lado a Cristo, senão que lho abriram, como agudamente notou Santo Agostinho: Vigilanti verbo usus est, ut non diceret latus ejus percussit, aut vulneravit. Não disse que a lança feriu o lado, senão que o abriu: Latus ejus aperuit (Jo. 19, 34) – porque feridas e chagas que não doem não são chagas, são aberturas: Aperuit.

Sentiu Cristo tanto este defeito, ou esta falta de dor na chaga do seu coração, que, não pedindo a seu Padre que o dispensasse de algum outro tormento, só do golpe da lança pediu que o livrasse: Erue a framea, Deus, animam meam (Sl. 21, 21): Senhor, livrai-me da lança– que me há de rasgar o peito, mas não me há de causar dor. – E que respondeu o Padre a esta petição? Framea, suscitare super pastorem meum, et super virum cohaerentem mihi[17]. Já que, filho meu, repugnais tanto essa lança, por que não haveis de sentir o golpe dela, eu vos prometo que, assim como vos hei de ressuscitar a vós, ressuscitarei também a mesma lança, e a meterei no peito de um homem muito unido comigo, e pastor do meu rebanho, para que se supra na sua dor a falta da vossa. Já que vós não padecestes a dor da lançada, Francisco a padecerá. Assim foi, e para que o vejais com os olhos, ponde-os naquele galhardo mancebo suspenso entre o céu e a terra, pendente dos braços de uma enzinha, expirante, alanceado, morto. Bem entendeis que falo de Absalão, figura de Cristo ressuscitado, como dizem comumente os intérpretes. Figura de Cristo, porque filho de Davi; figura de Cristo, porque o mais formoso dos homens, porque morto contra o preceito de seu pai, e, finalmente, porque Absalão quer dizer filius patris, o filho do padre. Nem descompõem o primor da figura os pecados de Absalão, porque Cristo na cruz tinha sobre si todos os pecados do mundo, e, particularmente, o da desobediência de Adão.

Só Joab parece que a descompôs totalmente, porque diz o texto sagrado que pregou três lanças no peito de Absalão: Infixit tres lanceas in corde Absalon (2 Rs. 18, 14). Pois, se Absalão era figura de Cristo, e o peito de Cristo foi aberto com só uma lança: Lancea latus ejus aperuit – como se vêem três lanças no peito de Absalão? A segunda lança bem suspeito eu qual foi, porque vejo ao pé da cruz aquela afligidíssima Mãe, a quem disse Simeão: Tuam ipsius animam pertransibit gladius[18]. Qual foi logo a terceira lança, e qual o peito que traspassou e feriu? Claro está que foi o peito de Francisco, mas com admirável propriedade e diferença. A lança que abriu o peito de Cristo foi uma só, mas as lançadas foram três: uma em Cristo, outra em Maria, outra em Francisco. A de Cristo feriu o corpo, mas não feriu a alma; a de Maria feriu a alma, mas não feriu o corpo; a de Francisco feriu o corpo, e juntamente a alma. Cristo recebeu o golpe, mas não sentiu a dor; Maria sentiu a dor, mas não recebeu o golpe; Francisco recebeu o golpe, e sentiu a dor.

Mas Francisco meu, segunda estampa de Cristo, não bastará que se conforme a estampa com o original? Se as vossas chagas são sensitivas e racionais, ponhamo-las em razão. As quatro que Cristo padeceu, padecei-as; a quinta, que ele recebeu e não sentiu, tende-a embora no peito, mas não a padeçais. Doei-vos com Cristo vivo e doloroso; mas doer-vos também com Cristo morto, quando já não padece nem pode padecer dor? Sim, porque a primeira dor foi compaixão, a segunda é fineza. Mostraram dor, e publicaram sentimento na Paixão e morte de Cristo todas as criaturas insensíveis do céu, e todas as da terra, mas com uma diferença, porventura não advertida. O sol escureceu-se em todas as três horas em que Cristo esteve vivo na cruz; tanto que o Senhor expirou, tirou o capuz o sol, e tornou-se a revestir de luz, e alegrou o mundo como dantes: A sexta autem hora tenebrae factae sunt super universam teriam, usque ad horam nonam[19]. A terra não o fez assim: enquanto Cristo esteve vivo na cruz, estiveram suspensas todas as criaturas do mundo inferior; tanto que o Senhor expirou, treme a terra, quebram-se as pedras, abrem-se as sepulturas, rasga-se o véu do Templo: tudo confusão, tudo tristeza, tudo dor, tudo sentimento: Exclamans vote magna, emisit spiritum: et ecce velum templi scissum est in duas partes: terra mota est: petrae scissae sunt, et monumenta aperta sunt[20]. Pergunto agora: E qual foi maior demonstração de amor, a do céu ou a da terra? Em gênero de fineza, não há dúvida que a da terra. O céu obrou como compassivo, a terra como fina. O céu como compassivo, porque se condoeu com quem padecia; a terra como fina, porque se doeu de quem já não padecia nem podia padecer. Como a terra é a pátria das dores, não é muito que em se saber doer vencesse ao céu.

Mas estes extremos, que entre o céu e a terra estiveram divididos, ambos se uniram e multiplicaram no coração de Francisco, que pode ensinar amor ao céu e à terra. Não se contentou com o conselho do Apóstolo: Hoc enim sentite in vobis, quod et in Christo Jesu[21]. Sentiu o que Cristo sentiu, e o que não sentiu também: padecente com Cristo padecente, e padecente com Cristo impassível. Nas quatro chagas, padecente com Cristo, porque Cristo as padeceu; na quinta chaga, padecente por Cristo, porque, ainda que Cristo a não padeceu, era chaga de Cristo. Este foi o porquê. Mas para quê? Para que a dor que faltou ao lado de Cristo se suprisse na dor do lado de Francisco: Adimpleo ea quae desunt passionum Christi in carne mea.

§VI

Qual foi o fim, em respeito de nós, por que tornou a estampar Cristo as suas chagas em S. Francisco? A Itália, única nação na qual se verificou o que tinha profetizado a Sabedoria da imagem de Cristo transformada.

Tenho acabado o meu discurso, e só quisera que o fim dele fosse o mesmo fim que teve Cristo nesta segunda impressão das suas chagas. Qual foi o fim, em respeito de nós, por que tornou a estampar Cristo as suas chagas em S. Francisco? Só Roma, como intérprete de todos os oráculos divinos, o podia saber dizer, e ela o disse: Qui, frigescente mundo, ad inflammanda corda nostra tui amoris igne, in carne beatissimi Francisci passionis tuae stigmata renovasti: Renovou Cristo as suas chagas em Francisco, para que o mundo, que tanto se vai esfriando, se acendesse no fogo do seu amor. Pois, para acender e inflamar o mundo naquele fogo que Cristo veio trazer à terra, não seriam mais eficazes as chagas do mesmo Cristo? Não, porque as chagas de Cristo, ainda que acendem por uma parte, por outra parte esfriam. Ao exemplo de Cristo posso responder que ele era homem e Deus; mas eu sou homem somente. Esta escusa da nossa fraqueza é a que nos esfria. Mas ao exemplo de Francisco, que era homem como eu, não tenho outra resposta, senão arder como ele. São Paulo, que foi o São Francisco do apostolado: Ego stigmata Domini Jesu in corpore meo porto[22]que é o que dizia? Que imitássemos a Cristo e as suas chagas? Não: Imitatores mei estote, sicut et ego Christi[23]. Não dizia que imitássemos a Cristo, senão a ele, porque, para imitar a Cristo, podia ter alguma escusa a nossa fraqueza; mas para imitar a Paulo, puro homem como nós, não podemos ter nenhuma escusa. Os raios que, despedidos do corpo do sol, não acendem, passados por uma vidraça ferem fogo. Por isso se entrou Cristo crucificado naquele espelho de Francisco: Ut frigescente mundo, inflammaret corda nostra.

E se é necessário que a matéria esteja disposta, em nenhuma parte do mundo há mais aparelhadas disposições que nos corações de Itália. Grande caso é, e tão glorioso como grande, que, imprimindo Cristo duas vezes as suas chagas, ou visível, ou invisivelmente, ambas estas impressões se fizes­sem em Itália: as chagas invisíveis em Catarina de Sena, as chagas visíveis em Francisco de Assis. Oh! gloriosa nação, escolhida e amada de Cristo para se transformar nela! Esta é aquela única nação, na qual se verificou o que tinha profetizado a Sabedoria da imagem de Cristo transformada: Imago bonitatis illius: et in se permanens omnia innovat, et per nationes in animas sanctas se transfert[24]. Arda, pois, Itália neste divino fogo, e arda Roma, que, se a cabeça do mundo arder, todo o mundo, por mais frio que esteja, se inflamará. E, com esta última eficácia de suas chagas, suprirá também Fran­cisco o efeito que ainda falta às chagas de Cristo: Adimpleo ea quae desunt passionum Christi in carne mea[25].

Núcleo de Pesquisa em Informática, Literatura e Lingüística



[1] Cumpro na minha carne o que resta padecer a Jesus Cristo (Col. 1, 24).

[2] As chagas do corpo de Cristo são outras tantas línguas (Rupert).

[3] Para que as chagas do pobre fossem outras tantas bocas que admoestassem aos ricos (Crisól.).

[4] Cumpro na minha carne o que resta padecer a Jesus Cristo (Col. 1, 24).

[5] Como se, tendo-se ausentado o general do exército, o seu substituto recebesse em seu lugar as chagas. (Crisóst. Teofil.).

[6] Deram-lhe a beber vinho misturado com fel (Mt. 27, 34).

[7] Tendo-o provado, não o quis beber (ibid.).

[8] Porque isto o fez uma vez, oferecendo-se a si mesmo (Hebr. 7, 27).

[9] O Senhor fará neste monte um banquete de manjares substanciosos, de um vinho sem fezes (Is. 25, 6).

[10] E deitou deste naquele, e certamente suas fezes não se apuraram (SI. 74, 9).

[11] Que chagas são essas no meio das tuas mãos (Zac. 13, 6)?

[12] A nova versão o dos Salmos é mais clara e sem mistérios.

[13] Formou o Senhor ao homem do barro da terra (Gên. 2, 7).

[14] Bernard. Serm. 4 in vigil. Nativit.

[15] Dissipou toda a sua riqueza (Lc. 15, 13).

[16] Cercou-me com as suas lanças, atravessou-me os rins (Jó 16, 14).

[17] Ó lança, levanta-te contra o meu pastor, e contra o homem que sempre anda adicto a mim (Zac. 13, 7).

[18] Uma espada traspassará a tua mesma alma (Lc. 2, 35).

[19] Mas desde a hora sexta até a hora nona, se difundiram trevas sobre toda a terra (M. 7. 27, 45).

[20] Dando um grande brado, rendeu o espírito. E eis que se rasgou o véu do templo em duas partes, e tremeu a terra, e partiram-se as pedras, e abriram-se as sepulturas (ibid. 50 ss).

[21] E haja entre vós o mesmo sentimento que houve também em Jesus Cristo (Flp. 2, 5).

[22] Eu trago no meu corpo as marcas do Senhor Jesus (Gal. 6, 17).

[23] Rogo-vos que sejais meus imitadores, como também eu o sou de Cristo (1 Cor. 4, 16).

[24] A imagem da sua bondade. E, sendo uma só, pode tudo; e, permanecendo em si mesma, renova todas as coisas, e, através das gerações, transfunde-se nas almas santas (Sab. 7, 26 s).

[25] Cumpro na minha carne o que resta padecer a Jesus Cristo (Col. 124).