Fonte: Biblioteca Digital de Literatura de Países Lusófonos

LITERATURA BRASILEIRA

Textos literários em meio eletrônico

Licenças, de Padre Antônio Vieira.


Edição de Referência:

Sermões.Vol. XI Erechim: EDELBRA, 1998.

PALAVRA DE DEUS

EMPENHADA E DESEMPENHADA:

EMPENHADA

NO SERMÃO DAS EXÉQUIAS

da Rainha N. S. Dona Maria Francisca Isabel de Sabóia;

DESEMPENHADA

NO SERMÃO DE AÇÃO DE GRAÇAS

pelo nascimento do Príncipe D. João, primogênito

de SS. Majestades, que Deus guarde

Pregou um e outro

O P. ANTÔNIO VIEIRA,

da Companhia de Jesus, pregador de S. Majestade:

O primeiro

Na Igreja da Misericórdia da Bahia, em 11 de setembro, ano de 1684.

O segundo

Na Catedral da mesma cidade, em 16 dezembro, ano de 1688.

LISBOA,

Na Oficina de MIGUEL DESLANDES,

Impressor de S. Majestade.

Com todas as licenças necessárias. Ano 1690.[1]

LICENÇAS

DA ORDEM

Antônio Vieira, da Companhia de Jesus, Visitador da Província do Brasil, por comissão que tenho de N. M. R. P. Tirso Gonçales, Prepósito Geral, dou licença para que se possa imprimir um tratado, cujo título é Palavra de Deus Empenhada e Desempenhada, composto pelo Padre Antônio Vieira, Pregador de Sua Majestade, o qual foi revisto e aprovado por religiosos doutos dela, por nós deputados para isso, e em testemunho de verdade dei esta, subscrita com o meu sinal, e selada com o selo de meu ofício. Dada neste Colégio da Bahia, aos 19 de julho de 1689.

Antônio Vieira

DO SANTO OFÍCIO

O Padre Mestre, Fr. Tomé da Conceição, Qualificador do Santo Ofício, veja o Sermão de que esta petição faz menção, e informe com seu parecer. Lisboa, 26 de dezembro de 1689.

Pimenta

Foios

Azevedo

Este pequeno volume, mas grande livro, contém dois sermões, que o P. Antônio Vieira, da sagrada religião da Companhia de Jesus, e pregador de Sua Majestade, pregou na Bahia; o primeiro, nas Exéquias da Rainha nossa Senhora, D. Maria Francisca Isabel de Sabóia, o qual corria já impresso; o segundo, em ação de graças pelo nascimento do Príncipe D. João, primogênito de Suas Majestades, e agora é a primeira vez que se intenta dar à estampa; contém mais um discurso apologético, engenhosamente fabricado pelo mesmo autor, e oferecido secretamente por ele à Rainha nossa Senhora, para alívio das saudades do mesmo Príncipe, a quem, nascido de poucos dias, transferiu Deus a melhor reino e mais gloriosa coroa. Em cada um destes três assuntos reluz a delicadeza do juízo deste autor, e a universal notícia que na continuação de seus estudos tem adquirido das histórias divinas e humanas, das quais tira fundamento para vaticinar a Portugal futuras felicidades, por desempenho da palavra de Deus dada no Campo de Ourique ao primeiro Afonso. Esta é a matéria toda do livro, discursada com sutileza, escrita com elegância, autorizada com a Escritura, e comprovada com as observações astrológicas, sem ofensa de nossa santa fé, ou bons costumes, parece-me digno de sair a público, salvo semper meliori judicio. Lisboa, no Convento de Nossa Senhora do Carmo, em 30 de dezembro de 1689.

Fr. Tomé da Conceição

O Padre Mestre, Fr. Francisco do Espírito santo, Qualificador do Santo Ofício, veja o Sermão de que esta petição faz menção, e informe com seu parecer. Lisboa, 31 de dezembro de 1689.

Pimenta

Castro

Foios

Azevedo

EMINENTÍSSIMO SENHOR.

Vi este tratado, que contém dois sermões, que o Padre Antônio Vieira, da sagrada religião da Companhia de Jesus, e pregador de Sua Majestade, pregou na Bahia, e juntamente um discurso apologético do mesmo autor, oferecido secretamente à Rainha nossa Senhora; e, sendo obrigado a dar o meu parecer nos escritos deste sujeito a todas as luzes grande, conheço se propõe mais à minha admiração do que se expõe à minha censura, por serem todos ocupação da fama, com aplauso em os dois mundos, Europa e América: nestes, digo que se, como advertiu Vitrúvio, contra as tiranias do tempo untavam antigamente os livros com óleo de cedro, este pequeno volume, mas grande livro, consigo leva sua imortalidade na engenhosa explicação das futuras felicidades dos portugueses, vaticinadas por desempenho da palavra de Deus, dada no Campo de Ourique ao primeiro rei de Portugal, sem ofensa da fé católica, nem coisa que aos bons costumes faça dissonância. Assim o sinto, salvo semper meliori judicio, e melhor direi que assim o admiro. Lisboa, no Mosteiro da Esperança, em 4 de janeiro de 1690.

Fr. Francisco do Espírito Santo

Vistas as informações, pode-se imprimir o Sermão ou Tratado, cujo título é: Palavra de Deus Empenhada e Desempenhada - e depois de impresso tornará para se conferir, e dar licença que corra, e sem ela não correrá. Lisboa, 6 de janeiro de 1690.

Pimenta

Noronha

Foios

Azevedo

DO ORDINÁRIO

Podem-se imprimir os Sermões de que a petição faz menção, e depois tornarão para se conferir, e se dar licença para correr, e sem ela não correrão. Lisboa, 9 de janeiro de 1690.

Serrão

DO PAÇO

Vistas as licenças do Santo Ofício e Ordinário, pode-se imprimir este livro, e, depois de impresso, tornará a esta mesa para se conferir e taxar, e sem isso não correrá. Lisboa, 10 de janeiro de 1690.

Marchão Azevedo

Concorda com seu original. Lisboa, no Convento do Carmo, 3 de março de 1690.

Fr. Tomé da Conceição

Visto constar do despacho atrás estar conforme com seu original, pode correr. Lisboa, 6 de março de 1690.

Pimenta E. B. E

Pode correr. Lisboa, 6 de março de 1690.

Serrão

Taxam este livro em dois cruzados. Lisboa, 4 de março de 1690.

Lamprea Marchão Ribeiro

CARTA DO PADRE ANTÔNIO VIEIRA

para o Padre Leopoldo Fuess, Confessor da Rainha N. S.

Tarde me chegou às mãos a de que V. R. me fez favor, escrita no primeiro de setembro do ano passado. Nela me exortava V. R. a que quisesse - posto que de tão longe - concorrer à celebridade do feliz nascimento do nosso Príncipe, e me dava V. R. as notícias que precederam ao soberano parto, e a grande parte que nele teve a poderosa intercessão do nosso S. Francisco Xavier. Por via das Ilhas nos chegou a alegre nova em dez de dezembro, oitava do mesmo santo, e se animaram os meus anos a subir ao púlpito no dia da ação de graças, que se seguiu aos quinze. O assunto foi desempenhar a palavra de Deus, que eu tinha empenhado no Sermão das Exéquias da Rainha Dona Maria de Sabóia, que Deus levou, afirmando fora necessária aquela perda para o mesmo Deus no-la restaurar com príncipe varão, herdeiro da coroa de Portugal, e das outras maiores felicidades, que ao primeiro rei prometeu Cristo na sua descendência. Esta é a razão por que as duas primeiras partes do papel que envio a V. R. têm por título: Palavra de Deus empenhada e desempenhada: empenhada, no primeiro sermão, e desempenhada no segundo. Fervia a Bahia em preparações de grandiosas festas, quando pela mesma via as enlutou a segunda nova, com a notícia da repentina fatalidade com que já nos havia deixado o Príncipe Dom João, que então lhe soubemos o nome. Em todos foi geral o sentimento, e em mim muito maior a confusão, pois as esperanças de quanto tinha pregado as desfazia a mesma morte, não se conformando por outra parte com ela as Escrituras, que eu tão largamente tinha alegado em seu próprio e natural sentido. No meio desta perplexidade, recorri outra vez ao arquivo, onde a Providência divina tem depositado os seus segredos, que são as mesmas Escrituras Sagradas. E como as não achasse contrárias, senão concordes - posto que por modo mais que maravilhoso - vim a entender que a mesma esperança, que todos tinham por sepultada, não estava morta, mas viva. E já tinha passado à pena boa parte deste pensamento, quando enfim, aos vinte de fevereiro, recebi por via do Porto a carta de V. R.: de todas as notícias que a acompanhavam me aproveitei, reduzindo cada uma ao lugar que lhe pertencia, e formando o discurso apologético, em que tornei a defender e confirmar quanto tinha pregado. Preguei que o mesmo príncipe primogênito de el-rei Dom Pedro, nosso Senhor, não só havia de ser imperador, senão imperador de todo o mundo. E agora digo que tão fora esteve a sua morte de desfazer o cumprimento desta promessa, que antes serviu de o apressar. Não lhe tirou a vida para lhe tirar o império: levou-o tão apressadamente, para que fosse logo tomar posse dele. Isto é o que eu preguei que havia de ser, e isto contém a terceira parte do presente papel. Não é meu intento que saia a público esta segunda esperança, mas, como fé da primeira, a ofereço em segredo aos olhos unicamente da Rainha nossa Senhora, para alívio de suas saudades. Por isso a fio só do sigilo de V. R., a quem Deus guarde muitos anos, como desejo. Bahia, dezenove de julho de mil seiscentos, oitenta e nove.

De V R.

Servo

Antônio Vieira

Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística



[1]  Com o Sermão de Santo Antônio, pregado na Igreja dos Portugueses, em Roma, encerra-se o Tomo XII da edição original, e com ele a série propriamente dita dos Sermões de Vieira. Os tomos que se seguem (XIII-XIV-XV) reúnem tratados e relíquias oratórias do grande pregador.