Fonte: Biblioteca Digital de Literatura de Países Lusófonos

 

LITERATURA BRASILEIRA
Textos literários em meio eletrônico
Voz segunda obsequiosa, do Padre António Vieira


Edição de Referência:
Sermões, Padre Antônio Vieira, Erechim: Edelbra, 1998.

VOZ SEGUNDA OBSEQUIOSA

SERMÃO DAS EXÉQUIAS

Do Sereníssimo Príncipe de Portugal

D. TEODÓSIO

DE SAUDOSA MEMÓRIA

Pregado no Colégio da Companhia de Jesus, de S. Luís do Maranhão

Dominus dedit, Dominus abstulit; sicut Domino placuit, ira fartum est. Sit nomen Domini benedictum[1]

O primeiro aniversário da morte do príncipe D. Teodósio. Que mal filosafaram da dor e do amor os que lhe deram por defensivo a ausência. A dedi­cação do príncipe à Mínima Companhia de Jesus, que lhe oferece estes ofícios aniversários.

Hoje, príncipe Teodósio — não vos nomeio com aparatos de títulos ma­jestosos, porque esse nome simplesmente pronunciado é para mim, e será sem­pre para todos os que vos conheceram. o maior título, o maior elogio, a maior veneração e grandeza. — Um ano faz hoje que o céu. que vos tinha dado ao mundo, vos tornou a levar, e que deixastes em tanta tristeza e desolação o reino e os vassalos, para que nascestes. Digo que faz hoje um ano, porque assim o contam os que medem pelo tempo; mas para vós no céu, que medis os anos pela eternidade, e para nós na terra, que o medimos pela dor, nem lá fazem número, nem cá o tem. Oh! que breve ano! Oh! que dilatado ano! Que breve para a vossa glória. que dilatado para as nossas saudades! Julgai se é bastante a causa da diferença: vós com Deus, e nós sem vós. Gerais são estas razões, senhor, em todos os vassalos que vos perderam; mas em nós, que choramos vossa morte de tão longe, ainda tem mais fortes circunstâncias a nossa dor, porque levamos a perda sobre a distância. Que mal filosofaram da dor e do amor os que lhe deram por defensivo a ausência! Quem armou o amor com arco, e não co espada, quis dizer que na distância feria mais; o amor não é união de lugares, senão de corações; a dor na presença reparte-se entre os sen­tidos: na ausência recebe-se só na alma, e toda é alma; a dor na presença tem o assistir, tem o servir, tem o ver, tem a mesma presença por alívio: a dor na ausência toda é dor. Os que estavam em Portugal à vista da vossa morte, prín­cipe meu, foram bebendo a sua parte a tragos: nós levamo-la de um golpe toda; para os de lá em um dia lhes adoecestes, em outro lhes piorastes, em outro os desconfiastes, em outro os deixastes; para nós não foi assim. A enfermidade, a pioria, a desconfiança, a morte, tudo foi num momento. Mas, se por todas estas - causas teve maiores circunstâncias de dor a dos vassalos desta conquista, qual seria em particular a daqueles, cujo amor era igual às obrigações, e cujas obri­gações, por tantos títulos, eram tanto maiores que as de vassalos? A todas as religiões amava e estimava muito o nosso príncipe, como tão pio; mas à Com­panhia de Jesus, sem falar com encarecimento, mais que a todas. Se em alguma coisa se pode advertir excesso nos afetos daquele ânimo tão igual e moderado em todos, era só este; e para que mais lhe devêssemos, dizia que não era afeto, senão razão. Como o príncipe era tão favorecedor das letras e da virtude, pare­cia-lhe que em ambas estas qualidades tinha muito que favorecer na Companhia. Muitos exemplos pudera alegar de que fui testemunha; mas, como são exemplos de comparação, não quero ofender com eles a modéstia de uma reli­gião, que por se não comparar com nenhuma outra, e por reconhecer vantagens em todas desde seus princípios, se chamou a mínima. Este foi o nome que lhe deu Santo Inácio: A Mínima Companhia de Jesus. Com os religiosos da Companhia se confessava Sua Alteza; aos religiosos da Companhia consultava; pelos livros dos religiosos da Companhia lia; e se entre os menores ou maiores cuidados do estudo, ou de governo, havia de tomar uma hora de recreação, com os religiosos da Companhia a tomava, Muito perderam os religiosos da Companhia no príncipe D. Teodósio; mas nós, os desta missão do Maranhão, muito mais que todos. Como éramos instrumento dedicado mais de perto à conversão das almas, que Sua Alteza tanto zelava, vínhamos a ter no coração do príncipe o lugar que este mesmo zelo tinha nele. Eu, em particular, posso afirmar de mim que ao zelo que Sua Alteza tinha das almas, devo todo o bem que tenha, e é todo o que podia ter, que é ser — posto que tão indigno — um dos missionários desta missão. A vosso zelo e à vossa autoridade devo, senhor, a vinda; mas a nova da vossa morte me tirou todo o merecimento dela. Vir ao Maranhão, quando vós ficáveis em Portugal, foi sacrifício; mas, viver tão lon­ge de Portugal, quando vós já lá não estais, antes é comodidade que mereci­mento. Em memória e agradecimento deste antigo favor, vos fazemos hoje, príncipe Teodósio, estes ofícios aniversários. Os aparatos exteriores não são como se nós os fizéssemos, mas como se vós os mandáreis fazer; mais pareci­dos são à nossa pobreza, mas muito mais à vossa modéstia, e, o que poucas vezes se pode afirmar de príncipes, à vossa humildade. Mandou o príncipe, no seu testamento, que em Estremós, no lugar onde morreu a Rainha Santa, se lhe edificasse um templo, e que em Coimbra, ao pé do sepulcro da mesma rainha, fosse enterrado seu corpo, em uma sepultura rasa. Ah! soberba e vaidade humana! Quantos príncipes perpetuaram sua soberba, depois da morte, na majestade e grandeza vã de portentosos sepulcros: acabou-se-lhe a vida, porque se desfez em cinzas; mas a soberba não acabou, porque se perpetuou em mármores. Quantos anos há que morreram os reis do Egito, e a sua soberba ainda dura nas pirâmides e obeliscos de seus sepulcros. Não assim o nosso príncipe: não deixou legados à vaidade na morte, porque não a conheceu na vida; em uma sepultura rasa se mandou enterrar; e, se os cenotáfios merecem nome de sepultura, bem cumprida temos a manda de seu testamento, e bem desculpada a falta de maiores aparatos. Sepultura rasa, e tão rasa, e se não aos pés da Rainha Santa, aos pés da Rainha Santíssima.

Virgem Senhora, manda-nos o cerimonial que vos não peçamos hoje a graça, e nunca eu a houve mister mais que hoje; mas foi tão devoto servo vosso aquele glorioso espírito de quem hoje havemos de falar que, sem vos oferecer­mos a costumada Ave Maria, confio nos haveis de dar a graça de graça.

§I

O exemplo de Jó superado pelo exemplo do príncipe D. Teodósio. Por que razão não morreu D. Teodósio moço, como parece? A virtude de devoção de Sua Alteza. Como se havia o príncipe quando tratavam de seu casamento? Os dois maiores amigos de D. Teodósio. O gosto pelos livros, pela oração e pela música. De que morreu Sua Alteza? Sua castidade nos pensamentos pró­prios e na presunção e pensamento alheio. O desprezo pelo dinheiro. Por que razão consentiu Deus a morte de um tal príncipe? Os ciúmes de Deus no sacri­fício de lsac e na morte de Sua Alteza.

Dominus dedit, Dominus abstulit; sicut Domino placuit, ita factum est. Sit nomes Domini benedictum (Jo. 1, 21).

Na causa do maior sentimento, e no sentimento em que maior conformi‑dade teve com a vontade de Deus, disse estas palavras Jó, e as acomodei ao sentimento presente, e à conformidade que nele devemos ter com a vontade divina; mas quando venho a aplicar o remédio ao mal, quando venho a aplicar as sentenças de Jó ao nosso caso, acho que nem ao sentimento nem à conformidade nos servem. Ao sentimento não, porque tem na morte do nosso príncipe maior causa a nossa dor; à conformidade não,  porque tem na vida do nosso príncipe maior exemplo a nossa paciência. Oh! grande infelicidade a nossa! Oh! grande virtude a do nosso príncipe! Grande infelicidade a nossa, porque em matéria de sentimento excedemos a Jó nas causas; grande virtude a do nosso príncipe, pois em matéria de conformidade excede a Jó nos exemplos. Supostas estas verdades, que o discurso nos irá mostrando, menos nos servirão as palavras de Jó do que eu imaginava quando as escolhi. Servir-nos-ão só de fundamento ao que havemos de dizer, e não de exemplo ao que havemos de ponderar. Até à vida e à morte do nosso príncipe, era Jó o maior exemplo da dor e da conformidade com Deus: depois da sua vida, será ele o maior exemplo da conformidade: depois da sua morte, seria bem que nós fôssemos o maior exemplo da dor.

§II

O certo é que Deus sabe as conjunções, em que convém a cada um mor­rer; os homens neste mundo são como os pomos; colhe-os Deus quando estão mais sazonados. O fruto. quando está maduro, se se não colhe, cai e apodrece. Não está a felicidade em viver muito, senão em viver bem. Caso notável é que não digam os evangelistas de que anos morreu Cristo: todos se ocuparam em dizer as suas obras, e nenhum em lhe contar os anos porque não está a coisa em viver muito, senão em viver bem: viver pouco não importa nada, viver bem é o que importa. Se Deus a seu próprio filho não deu larga vida, que muito ao nosso príncipe a não desse?

Mas não é esse o meu pensamento. Digo que fim teve o nosso príncipe, e que não o levou Deus moço, como cuidamos, senão muito bem logrado.

Para inteligência desta verdade, havemos de supor, primeiramente, que as idades do homem são sete, infância, etc.

A segunda coisa que havemos de supor é que alguns homens não tomam esta idade pelo princípio. Adão foi homem sem nunca ser menino; não começou a vida pela idade da infância, da puerícia, da adolescência, senão pela de varão perfeito. O mesmo aconteceu a Cristo: In laboribus a juventute mea[2]. — Como se Cristo desde o presépio, ou, quando menos, desde o desterro de Herodes, que era da idade de quarenta dias, começasse a ter trabalhos. Porque essa diferença hou­ve entre Cristo e os outros homens, que os outros começam a vida pela idade de meninos; Cristo pela idade de homem: para os outros a infância é infância, para Cristo a infância foi juventude: In laboribus a juventute mea. — Daqui se seguiu que Cristo, morrendo de trinta e três anos, morreu muito velho: Et antiquevus dierum sedit... et capilli ejus quasi lana munda[3]; porque quem de quarenta dias é mancebo: A juventute mea — de trinta e três anos é mui velho.

Isto mesmo digo do nosso príncipe. Muitas vezes lhe ouvi dizer que dos dezoito até os vinte anos tinha a sua vida o perigo; mas não morreu por isso moço.

Demos a Sua Alteza que a sua infância fosse infância; a sua puerícia não foi puerícia, a sua adolescência não foi adolescência: antecipou as idades de maneira que na puerícia foi homem, na adolescência foi velho. Aconteceu-lhe ao príncipe nas idades o que aos grandes engenhos nas escolas. Os grandes engenhos saltam três e quatro classes: Sua Alteza saltou da infância à idade de varão, e da puerícia à idade de velho. Ora, vede quão homem e quão velho era o nosso príncipe nesta idade.

Em doze anos. § — A história de D. Pedro. — Deixai. não os quero conhecer pelas gerações: conhecê-los-ei pelas obras. § Era menino quem dizia isto? Se houvera um rei que só conhecesse os homens pelas obras, ditoso rei. Por que é ditoso o céu? Porque ninguém lá é avaliado senão pelas obras. S. João e São Tiago quiseram ter os lugares pelo sangue, e, sendo o sangue não menos que o de Cristo, não os alcançaram.

Que coisa mais própria de moço, que a bizarria e a vaidade das galas? A modéstia e moderação de Sua Alteza nesta parte, quem o viu que a não visse? Chegava-se o camareiro-mor a Sua Alteza, ainda antes de ter casa, perguntava-lhe de que seda e de que cor queria o vestido? Respondia: — Do que a vós vos parecer. — Não era Sua Alteza dos príncipes que se governavam pelo gosto e parecer alheio; mas na eleição destas coisas parecia-lhe que não eram dignas de subir a tribunal tão alto.

Que coisa mais de príncipes moços, que as festas, os saraus, os jogos? Nenhum jogo se viu jamais no quarto de Sua Alteza que o das armas. Era o príncipe mui destro em todas, e, particularmente, com um montante nas duas mãos; como era tão alto de corpo, parecia um daqueles heróis da antiguidade, um Teseu, um Afonso, o Bravo, enfim um príncipe, dos que vemos pintados, e não como alguns dos que vemos vivos. Mas contra à gadanha da morte não há destreza nem armas que defendam: em agosto de 652 começou a lide, em 6 de fevereiro, no dia dos seus anos o feriu, em 15 de maio o matou. Dez meses durou a batalha.

Que coisa mais própria de um moço, e mais quando a idade se ajunta com o grande poder, que a precipitação nas ações, a cólera, o agastamento a ira? Tudo isto estava naqueles poucos anos, ou tão composto, ou tão vencido, que ninguém jamais viu ao príncipe D. Teodósio irado, ou ouviu da sua boca uma palavra, não digo agastada, ou menos composta, mas nem ainda mais alta. Houve cortesão que disse que o príncipe era só composto de três humores, porque lhe faltava a cólera.

Que coisa mais própria de príncipes moços, que a companhia e a conver­sação de outros da mesma idade, como os que teve Roboão, e esses não os mais modestos, nem os mais melancólicos? O nosso príncipe só dois gêneros de amigos teve, com quem ordinariamente conversava, e esses os mais fiéis, e os mais verdadeiros que há no mundo, que eram Deus e os livros. Os que entravam com liberdade no quarto de Sua Alteza, em o não achando, já sabiam que, ou estava no oratório, ou na livraria. No oratório gastava Sua Alteza nestes últimos tempos da vida três horas todos os dias, em três tempos diferentes. De Daniel se diz que em Babilônia adorava três vezes cada dia a Deus, e se conta logo isto por grande maravilha. Quanto maior maravilha é, que na Babilônia de um paço de um príncipe, que governava as armas, tivesse ele três horas todos os dias para gastar com Deus! Algumas vezes, estando o príncipe dando audi­ência secreta, vi que à dissimulada metia a mão na manga aberta, e corria por um cordão uma conta. Roguei a Sua Alteza me quisesse revelar o mistério daquelas contas, e disse-me que tinha por devoção oferecer ao Eterno Pai seu Unigênito Filho um certo número de vezes, e que para a noite se pedir conta, se o tinha feito entre dia, ia passando a cada ato destes aquelas contas. Pudera fazer mais um noviço de uma religião mui fervoroso? Vede se daria boas con­tas a Deus quem assim as trazia ajustadas. E vede o que o nosso príncipe dava a Deus: os outros príncipes dão mármores nos templos que mandam edificar; dão brocados nos altares que mandam ornar, dão ouro e prata nas lâmpadas que mandam arder. Isto dão os outros: o príncipe, que lhe dava? Dava a Deus o mesmo Deus. Oh! amor, que não te contentavas senão com dádiva infinita! Que muito que não coubesses no coração, e que fizesses estalar em sangue o peito em que te dilatavas?

Que coisa mais própria de um príncipe, que o sair a passear, o aparecer, o espairecer, o gostar de ver e ser visto, o desempenhar as calçadas com os cava­los, com as carroças, o alvoroçar as ruas, o revolver as praças, o tirar todo o mundo às portas, às janelas, o ouvir os aplausos, os vivas. E o príncipe, que fazia? Ninguém o viu nunca fora do paço, senão ou quando acompanhava a el-rei, ou agora, ultimamente, quando saía a desenhar as fortificações da cidade: o demais tempo estava recolhido no paço, como um capucho. Oh! senhor, que bem vos estaria o traje, quando mandastes que depois de morto vos vestissem o hábito de S. Francisco! Muitos há que depois da morte folgam de ser capuchos no hábito: vós o fostes depois da morte no hábito, mas muito mais em vida nos hábitos.

Finalmente, para que vejais se era moço, em duas coisas se vê o maduro juízo: no casar e no morrer; no casar, porque é erro ou acerto que dura toda a vida: no morrer, porque é erro ou acerto que dura toda a eternidade.

Tratou-se por vezes no casamento do príncipe. E como se havia ele neste ponto? O mais desinteressado voto de quantos entravam neste con­selho era o seu. Porque os outros procuravam de lhe saber a inclinação, e ele nunca jamais a mostrou, e assim discorria, como se lhe não tocara. Os outros príncipes consultam os casamentos com os retratos: o nosso con­sultava-o com as conveniências do reino, e entre as princesas que se pro­punham, aquela que estava melhor ao reino, essa lhe parecia melhor. Grande caso em um príncipe moço de dezoito anos, ou que não tivesse amor, ou que o dissimulasse! Se não tinha amor, grande milagre; se o dissimulava, muito maior. Duas coisas podiam obrigar a Sua Alteza ao desejo das bodas: a inclinação e a consciência. Mas que nem o afeiçoasse a inclinação, como moço, nem o obrigasse a consciência cristã, grande caso! Mas. alfim. príncipe Teodósio, fez-vos para si quem vos fez tão único: as fênix não casam, porque não têm sucessão.

Mas como morreu esta fênix, que é o último argumento do grande juízo...

Não teve de que testar, porque todos os bens que possuía os levou consigo. A sabedoria e a virtude não se deixam em testamento, porque se levam: e nós todos a matar-nos pelo que se há de deixar!

§III

Os seus amigos eram aqueles dois que só acompanham a um homem a toda a parte a que vá, que são Deus e os livros. São os livros conselheiros sem respeito e sem adulação; mas destes mesmos não tomava senão os livros que são amigos, que também há outros que são os maiores inimigos que tem a alma, que são os livros profanos. Nunca lia livros profanos, senão filosóficos ou sa­grados; dos poetas, um Homero e a Virgílio: a este segundo chamava: O meu Virgílio.

§IV

Foi criado o príncipe no quarto da rainha, nossa senhora, como Aquiles entre as damas: ali esteve até a idade de quinze anos, com tal exemplo de pure­za e compostura. que, quando Sua Majestade lhe pôs casa, foi mais obrigado da decência que do perigo. Na liberdade da casa própria mostrou Sua Alteza que devíamos este exemplo, não à clausura, nem ao respeito daquele lugar, senão ao amor da virtude.

§V

Com ser de tão grande engenho, não tinha ditos agudos, senão assenta­dos e judiciosos: não gostava de ironias, anfibologias, nem ainda de pinturas; tudo o que é fingimento lhe aborrecia. Só dos poetas gostava, porque quem mente por profissão. fala verdade, e não engana. Não tinha repentes nem agudezas: o sólido, o verdadeiro. Os pregadores tinham em Sua Alteza o maior fiscal, e, quando diziam estas subtilezas do nosso tempo, que, ou encontram a Escritura, ou torcem, ou... era grande o dissabor que tomava. O certo é que ninguém teve mais inteiro juízo nem discurso. Era grande admiração que num auditório, onde se ajunta o bom de todo um reino, se temesse mais a censura de um menino de catorze anos. O pregador há de saber tudo, ou, quando menos, há de saber de tudo, e todo este aparato de ciências junto só no príncipe de Portugal se achava.

O aposento em que Sua Alteza assistia, quando estava consigo, pelo verão, era como de um reformado religioso; pelo inverno, tinha de mais os tapizes. Havia ali uma cama, uns livros, uma mesa em que escrevia, e uma imagem de Nossa Senhora. Só parece que sobejava um cravo ou realejo, que Sua Alteza tocava com muita destreza e graça; mas a harmonia que mais enlevava era a da sua vida. Dos trajes aprovava o que mais se acomodava com a mesma arquitetura do corpo humano, para cujo ornato foi feito. O vestido foi feito para cobrir o corpo, e não para lhe mudar a proporção, e não para lhe emendar a natureza, e não para lhe impedir as ações: e assim lhe parecia mais acomodado o que julgava mais livre, o que deixava mais livre as ações humanas. Vestidos para cobrirem os homens, e não para os prenderem. De cheiros, e de todos os outros regalos menos varonis, era inimigo. De ornar a alma era o de que tratava, e raro era o dia em que lhe não vestisse alguma nova luz: Amictus lumine sicut vestimento[4]: vestido de luzes. Ditosa alma! Como vos estou vendo vestido de sol, coroado de estrelas, e com a lua debaixo dos pés! Estas são as galas de que vos vestistes: na terra cobrir o corpo, as galas para a alma.

§VI

Aqueles animais do carro de Ezequiel estavam cheios de olhos, e não levavam rédeas: e quem ia no carro? Deus: onde há muitos olhos sem rédeas, só Deus pode governar o carro. Quais foram os precipícios de Faetonte? Pouco freio, e muita luz. Sua Alteza sabia a gramática, a retórica, a poética, a medicina; sabia as matemáticas, sabia a filosofia, a teologia, sabia a arte militar, sabia a náutica, sabia a cosmografia, sabia a óptica, sabia a Escritura, sabia as controvérsias, sabia a fortificação, sabia a aritmética, sabia a astrologia e a astronomia: saber tudo isto. que o pudesse reduzir a prática, era impossível; conhecê-lo, era outro maior. Non plus supere Tuim oportet supere (Rom. 12, 3): Saber só quanto importa: — porque muitas vezes importa saber menos. Por que se perdeu Adão e o mundo? Porque quis saber mais do que lhe importava, Estava Adão no estado da inocência; a sabedoria é a tentação dos justos: Sed supere ad sobrietatem[5]. — Chamou ao saber com moderação sobriedade, por­que o saber com demasia é como o beber com demasia, que nunca deixa o juízo em seu lugar. Não há quem mais mal sofra o ser emendado que os príncipes, e mais os que mais sabem. De que cuidais que morreu Sua Alteza? Eu o sei melhor que todos, porque lho adverti. Morreu Sua Alteza de se querer curar por si mesmo. Quis curar-se de um estilicídio, não só com abstinência, mas com inédia, sustentando-se contra a fome e contra a sede por mais de quarenta e oito horas: fazia Sua Alteza galantaria de não admitir os médicos, e de se curar por si mesmo, lendo por Hipócrates e Galeno; e como era de natural melancólico, ali teve as primeiras raízes o mal que no-lo arrancou dos olhos. Não foi esta a primeira vez que os príncipes acabaram por querer curar as enfermidades com os seus remédios. Isto só lhe temia eu, se Deus o conservas­se até sobre os anos de Sua Majestade: não lhe temia que não conhecesse as doenças, porque o seu juízo bem as alcançava; mas temia-lhe que as quisesse curar só com os seus remédios. Duas dificuldades tem o muito saber nos prín­cipes: a primeira, parecer-lhe melhor a opinião que se conforma com a sua; a segunda, conformarem-se com a sua opinião todos os que a podem ter nas matérias: poucos há que aconselhem com os olhos na utilidade, e não no gosto do príncipe. Quem haverá tão constante que se ponha contra o entendimento do rei, a risco de cair de sua vontade'? Onde o rei é letrado, os conselhos são disputas: as batalhas do entendimento são perigosas aos reis quais as de ferro: digam-no a terceira parte das estrelas, que morreram no céu em uma batalha destas.

§

Saiu Sua Alteza a uma janela do seu quarto, que cai sobre a Ribeira; viu um daqueles forçados das galés, que serviam nas obras do paço, atado à sua corrente, e com mais sinais de miséria que os outros. Chamou-me, e fez-me esta pergunta: - Não me direis que diferença faço eu daquele? Aquele nasceu, vive, e há de morrer; aquele pode merecer, e pode pecar. Só na cadeia nos diferençamos, e em que eu tenho mais que agradecer

    §VII

  

 Os príncipes sempre têm quem sirva mais depressa aos seus apetites que à sua honra. Estava El-rei Saul dentro das trincheiras à vista do exército dos filisteus. Saía o gigante todos os dias a desafiá-lo, dizendo mil afrontas e injúrias ao rei e aos esquadrões de Israel; e não havia um só homem que saísse por sua honra, até que veio Davi. Sucedeu Davi a Saul na coroa, estava também em campanha siti­ando a cidade de Belém, teve grande sede, e disse: O si quis mibi daret potum aquae de cisterna quae est it Bethlehem[6]! — As palavras não eram ditas, quando três valentes soldados arremessam os cavalos por entre as lanças dos inimigos, chegam à cisterna, e trazem a água ao rei. Bem vedes a diferença. Para sair ao desafio do gigante apenas houve um pastor, e no cabo de tantos dias; para buscar a água de Belém, no mesmo ponto houve três soldados, que foram por meio das lanças. Qual é a causa? Porque o desafio do gigante era honra de Saul, a água da cisterna de Belém era apetite de Davi. Para servirem ao apetite do rei há muitos, para servirem à sua honra mui poucos. E qual é a razão? Porque os que servem ao apetite do rei têm mais seguro o prêmio do que os que servem à sua honra. Bem se viu no caso presente. Davi, antes de sair ao gigante, perguntou: Quid dabitur viro, qui percusserit Philisthaeum hunc, et tulerit opprobrium de Israel[7]? — E não foi senão depois de contratado o prêmio; e os outros não trataram disso, porque Davi, como servia à honra do rei, tinha o prêmio duvidoso; os três soldados, como serviam ao apetite, tinham-no seguro. Davi arriscou-se a matar o gigante, mas os soldados arriscaram-se para matar a sede a Davi; e os reis premeiam muito mais facilmente aos que lhes matam as sedes, que aos que lhes matam os gigantes; e a causa disto ser assim, e terem mais seguro o prêmio nos reis os que servem a seus apetites que os que servem a sua honra, é porque o que serve à honra do rei, requere diante do rei, e o que serve ao apetite do rei requere o rei diante dele.

Sendo isto assim, bem fácil é de crer que não faltariam muitos que lhe quisessem servir ao apetite e que quisessem alcançar o seu valimento à custa da sua castidade; mas direi agora uma coisa grande, e seja da melhor parte que se pode saber, que nenhum houve nunca, dos que andavam junto à pessoa do príncipe, que se atrevesse a o tentar nesta parte. Oh! glória e milagre de um príncipe de dezoito anos! Não que fosse casto, que outros houve, ainda que raros, que o foram; mas que fosse tão casto, e que se tivesse tal conceito de sua castidade, que ninguém se atrevesse a o tentar nela!

Tentações de Cisto, gula. soberba, cobiça. Cisto permitiu que o tentasse o demônio para nosso exemplo. Pois. por que não permitiu que o tentasse na castida­de, sendo que aqui era mais necessário o exemplo de Cristo? Não permitiu Cristo que o tentassem, não por não nos deixar exemplo, mas para no-lo dar muito maior. Na gula quis-nos dar exemplo que fôssemos tão sóbrios, na soberba que fôssemos tão modestos, na cobiça que fôssemos tão desinteressados, que não nos deixásse­mos vencer da tentação: mas no vício contrário à castidade, que fôssemos tão castos que não só não nos vencesse a tentação, mas não se atrevesse ninguém a nos tentar nele. Na gula, na soberba, na cobiça sofreu Cristo ser tentado, e contentou-se com não ser vencido; na castidade, nem vencido nem tentado. E assim foi o nosso prínci­pe. Quem tenta presume vencer, e o verdadeiro casto, não só o há de ser nas obras, nas palavras, e nos pensamentos próprios, senão ainda na presunção e no pensamen­to alheio. José foi casto, mas houve quem se lhe atreveu a lhe tirar pela capa; ao nosso príncipe não se atreveram nunca a lhe tirar pela capa, nem aqueles que lha punham e lha tiravam dos ombros. José portou-se galhardamente na tentação, mas não se livrou de atrevimentos alheios; não o venceram, mas atreveram-se-lhe. A primeira vitória da castidade é que ninguém a vença; a última, que ninguém se lhe atreva. Tal foi a castidade do nosso príncipe; mas estas vitórias dá-as Deus a quem é dado por Deus: Dominus dedit. — O que agora direi, não sei se é ainda milagre maior, noutra igual ou maior tentação.

§VIII

Quando lhe puseram casa, ordenou Sua Majestade que todos os meses se lhe pusesse em uma gaveta quantidade de dobrões, para que Sua Alteza pudesse gastar. Acabou-se o primeiro mês; veio a pessoa a quem estava encomenda­do este provimento, e achou o dinheiro como o pusera. Passou o segundo mês, e o terceiro, e muitos, e sempre experimentou o mesmo: nem o guardava, nem o dava: e tudo nascia da mesma causa; nem era avarento nem liberal. Parece que se pudera dizer neste caso de Sua Alteza o que disse Tácito do outro impe­rador: Mugis sino vitiis quam cum virtutibus[8] porque neste caso parece que nem era Sua Alteza avarento nem liberal, porque nem como avarento guardava o dinheiro, nem como liberal o dava. Mas quem conhecesse o ânimo de Sua Alteza, entenderia que ambas estas omissões nasciam da mesma causa; nem o guardava, nem o dava, porque o não estimava; e dar eu o que na minha estima­ção não tem preço, não sei como pode ser liberalidade. Deus é muito rico e muito liberal; e, contudo, vemos que os seus maiores servos são ordinariamen­te os mais pobres do mundo. E por quê? Porque não é ação de generosa libera­lidade dar aos que ama o que não estima. Pois que dá Deus a esses? Uma só coisa estima Deus sobre todas as deste mundo, que é a sua graça, e essa é a que dá Deus aos que ama, e só a eles; só essa diante de seus olhos tem preço; assim imitava a Deus o nosso príncipe. Aos que mais o serviam e o gradavam, paga­va-lhes com a sua graça: era tão liberal Sua Alteza destes tesouros, que muitas vezes passava o favor a merecer nome de familiaridade. S. Pedro disse ao po­bre do Templo, que não lhe dava ouro nem prata, porque a não tinha: Sua  Alteza tinha ouro e prata, e não a dava, porque a não tinha por dádiva digna de um príncipe. Os reis ofereceram a Cristo os seus dons no presépio: que se fizesse deste ouro, não se sabe; dizem que o não recebeu o Senhor. Os reis ofereceram o ouro, porque o tinham por coisa digna de se dar; Cristo não o aceitou, porque o tinha por coisa indigna de se receber; cada um obrou confor­me a estimação que fazia do ouro; assim entende que seria cá: que muitos o receberiam; mas, ainda que eles o julgavam por coisa digna de se receber, o príncipe não o julgava por coisa digna de ele o dar.

Dominus abstulit.

Não nos queixamos, nem nos devemos queixar de que Deus nos levasse o príncipe, porque bem sabíamos que era mortal: de no-lo levar tão depressa parece devíamos ter a nossa queixa.

Dum adhuc ordirer, succidit me[9]: A urdidura da teia. Admirável urdidura!

Assim nas letras, como nas armas, etc.

Os intentos de murar Lisboa.

Os intentos de fortificar o reino.

Os intentos da Escritura comentada.

Os intentos da história universal.

Os intentos da cosmografia.

Os intentos da conversão da gentilidade.

Quão de príncipe foram estes intentos!

§IX

Quão necessária é ao príncipe a história, etc.

§X

Quão necessária é ao príncipe, e mais a um príncipe de Portugal, a cosmografia; porque tem reinos em todo o mundo; para saberem as terras, as monções, os ventos, os mares, as dependências, etc.

§XI

Quão necessária é ao príncipe a lição da Sagrada Escritura, porque ali estão os verdadeiros exemplos, ali está o que agrada a Deus, e o que o desagra­da; ali as batalhas, ali o confiar em Deus, ali as advertências do sábio, ali os oráculos dos profetas. Vide Mendonças de Sacra Scriptura. Cornélio, etc.

Para os muros de Lisboa pigmei, etc., porque pigmeus sobre os muros são gigantes, etc.

In civitate munira, etc.[10]

Benigne fac, Domine, in bona voluntate tua Sion, ut aedificentur intui Jerusalem. Tunc acceptabis sacrificium justitiae, oblationes et holocausto.[11] porque Deus quer orações, e sacrifícios, e muros, etc.

Erat autem terra labii unius, etc.[12] para a impossibilidade. Era impossível; e se todos falarem pela mesma linguagem, logo se fará.

§XII

Só para que não saiam os de dentro para fora são bons os muros.

Sicut Domino placuit, ita facturo est[13].

Grão caso que consentisse Deus a morte de um tal príncipe! Se a sua morte se pusera em votos, nenhum homem, ainda os inimigos, que o conhecessem, etc.

Mais: as orações, os sacrifícios, as procissões, os votos de não pecar mortalmente, etc. Pois, nada disto dobrou a Deus; apesar de tudo isto, etc.

Antes, isto mesmo foi a causa de que o príncipe morresse, de que os decretos divinos se executassem. Sabeis de que doença morreu o nosso prínci­pe? De muito amado. Deus chama-se zelotes: Deus dos ciúmes; e nenhuma coisa sente mais Deus que amarmos mais, ou poder-se cuidar que amamos mais a outrem que a ele.

Tolle filium, quem diligis, Isaac[14]. — Que culpas leve Isac? Que culpas: Quem diligis? — O ser muito amado. Se Abraão o amara menos, não havia ele de ser sacrificado; e se não, veja-se em Ismael, que também era filho. Não por filho, senão por muito amado, teve ciúmes Deus do muito amor que Abraão tinha a Isac; pois morra Isac, e ame Abraão a quem há de amar.

Vede-o claramente: Non estendas manum super puerum[15]. — Quando o manda sacrificar, chama-lhe amado; e quando diz que lhe perdoe, menino? Sim, porque o que Deus queria matar naquele sacrifício, não era o menino, era o amado: não era a vida de Isac, era o amor de Ahraão. Notai: em Isac havia duas coisas: havia ser um menino como os outros, e havia ser o filho amado; tudo isto estava para ser sacrificado. Enquanto menino, estava sobre a lenha do altar; en­quanto filho amado, estava sobre o coração do pai. Ora vede: a espada de Abraão tinha dois tempos: um enquanto se tirou da bainha por cima do peito; outro em que havia de descarregar o golpe em Isac: no primeiro tempo cortou o filho ama­do, que estava no peito; e tanto que o amado esteve morto, não quis Deus que se matasse o menino, porque ele não o havia pela vida de Isac, havia-o pelo amor de Abraão. Prova. Sim, o texto. Quia fecisti rem hanc, et non pepercisti unigenito tuo propter me[16]: Por amor de mim — Aqui estava o ponto: que queria Deus que o amasse Abraão mais que ao primogênito. Pois, não lhe perdoou? Não. Perdoou ao menino, que estava na fogueira: Ne extendas manum tuam super puerum — mas ao primogênito não lhe perdoou, porque o amado primogênito estava no peito, e esse cortou Ahraão no primeiro tempo da espada.

§XIII

Sil nomen Domini benedictum[17]

Finalmente, demos graças a Deus, não só por conformidade, senão ainda por razão.

El-rei D. João o II, na morte do príncipe D. Afonso, consolava-se, por­que ainda que era tão grande príncipe, entendia que não havia de ser grande rei. Quase o mesmo vos digo, e o disse ainda em sua vida. Foi mui grande príncipe: não sei se seria tão grande rei. Pois quê? Faltava-lhe alguma parte? Não, sobejavam-lhe duas: era muito sábio, e era demasiadamente bom. Os reis não hão de ter tanta ciência nem tanta bondade. Os maiores reis foram o pri­meiro e segundo Adão: o primeiro, perdeu o mundo por muita ciência: Eritis sicut dü, scientes bonum et mulum[18]; o segundo, dando-lhe o título de bondade, não o quis consentir: Nemo bonus, nisi unus Deus[19]. — Os porquês disto pedem mais tempo, e outro lugar.


Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística

 

[1] O Senhor o deu. o Senhor o tirou: como foi do agrado do Senhor. assim sucedeu. Bendito seja o nome do Senhor (Jó 1. 21).

[2] Vivo cm trabalhos desde a minha mocidade (SI. 87, 16).

[3] E o antigo dos dias se assentou... e os cabelos da sua cabeça eram como a limpa lã (Dan. 7, 9).

[4] Coberto de lume como de vestidura (SI. 103.2).

[5] Mas saber com temperança (Rom. 12,3)

[6] Oh! se algum me dera a beber água da cisterna que há em Belém (2 Rs. 23, I5)!

[7] Que se dará a quem matar este filisteu, e tirar o opróbrio de Israel (I Rs. 17, 26)?

[8] Mais sem vícios que com virtudes.

[9] Quando eu ainda a estava urdindo, ele me cortou (Is. 38, 12).

[10] Na cidade fortificada (SI. 30, 22).

[11] Senhor. faze bem a Sião de tua boa vontade, para que se edifiquem os muros de Jerusalém. Então aceitarás sacrifício de justiça. oferendas e holocaustos (SI. 50. 20 s).

[12] Ora. na terra não havia senão uma linguagem, etc. (Gên. I I, 1).

[13] Como foi do agrado do Senhor. assim sucedeu (Jó I, 21).

[14] Toma a Isac, teu Cilho. a quem amas (Gên. 22, 2).

[15] Não estendas a mão sobre o menino (ibid. 12).

[16] Já que fizeste esta ação. e não poupaste a teu filho único por amor de mim (ibid. 16).

[17] Bendito seja o nome do Senhor (Já L 21).

[18] Sereis uns deuses, conhecendo o bem e o mal (Gên. 3,5).

[19] Ninguém é bom, senão só o Deus. (Mc. 10, 18)