Fonte: Biblioteca Digital de Literatura de Países Lusófonos

LITERATURA BRASILEIRA
Textos literários em meio eletrônico
Voz terceira obsequiosa, do Padre António Vieira


Edição de Referência:
Sermões, Padre Antônio Vieira, Erechim: Edelbra, 1998.

VOZ TERCEIRA OBSEQUIOSA

SERMÃO DAS EXÉQUIAS DE EL-REI D. JOÃO IV, O animoso, o invicto Pai da Pátria, de imortal memória.

Inveni David, servem meum: oleo sancto meo unxi eum. Manus enim mea auxiliabitur ei, et brachium meum confortabil eum.[1]

As obrigações do pregador para com el-rei D. João IV. A impossibilidade de pregar as exéquias do rei falecido. O panegírico das reais ações de sua vida.

Grande é a minha ingratidão — sacra, e real, e defunta majestade — grande é a minha ingratidão, que a quero confessar assim por não dizer que é grande a minha fé. Devo à memória do senhor rei D. João o IV maiores obrigações que as de rei, porque lhe devi muitas vezes nos olhos de Sua Majestade todas as piedades de pai. Mas sou tão ingrato — sem estar nem poder estar esquecido —que nem a nova da não esperada morte de Sua Majestade me pode entristecer, nem esta mesma representação funeral, que ainda em casos ordinários costuma entristecer os ânimos por simpatia da natureza, me pode causar sentimento.

Por mais que procuro encontrar com esta morte de el-rei, sempre dou de rosto com a vida. A primeira vez que falei em público neste caso, dispôs a forçosa ocasião que fosse no mesmo dia e na mesma tarde do nascimento de Sua Majestade. A segunda vez, que é esta, por mais que a minha apreensão a considerava e dispunha para outros dias o dia assinalado e o mudado, ambos vieram a ser dia de ressurreição. Ó rei ainda depois da morte prodigioso: que quando vos busco morto, sempre me apareceis vivo!

Suposto, pois, que o meu rei e senhor D. João se me não quer apresentar morto. senão vivo, preguem-lhe outros as exéquias de defunto, que eu não quero nem posso. O que só farei hoje será uma narração panegírica das reais ações de sua vida. Toda está admiravelmente recopilada nas palavras que pro­pus, que são do salmo oitenta e oito. Vamo-las explicando, ou aplicando cada uma de per si, que todas têm mistério.

§I

Um rei buscado e achado por Deus. A restauração de Israel pelos Macabeus e a restauração de Portugal pela real casa de Bragança. A escolha de Davi para rei de Israel e a escolha de D. João para rei de Portugal.

Invem David, servum meum: oleo sancto meo unxi eum. Manus enim mea auxiliabitur ei, et brachium meum confortabil eum (SI. 88, 21).

Inveni: Achei. — Foi el-rei D. João um rei buscado e achado por Deus. Há reis que parece que os fez a fortuna a olhos fechados, sem buscar nem achar. senão acaso. Destes estão cheias as histórias, como estiveram vazias as coroas. El-rei D. João, não só foi buscado e achado, senão buscado e achado por Deus. Mas onde o buscou Deus e o achou? O que Deus buscou era um príncipe, que pudesse ser rei e restaurador de Portugal: buscou-o entre os príncipes pretensores do reino, e achou-o na casa de Bragança; buscou-o entre os príncipes da casa de Bragança, e achou-o na pessoa de el-rei D. João. Os príncipes pretensores à coroa de Portugal foram cinco: Espanha, França, Sabóia, Parma, Bragança; e, assim como Deus buscou a Davi entre todas as tribos, e o achou na real de Judá, assim, buscando um rei restaurador de Portugal, entre todos os que ti­nham ou podiam ter algum direito a ele, só na real casa de Bragança o achou: lnveni. — E porque o achou na real casa de Bragança, e em nenhuma outra, nem das estranhas, nem ainda das naturais do reino? Ora vede.

As ações de restaurar remos, que são gratuitas, porque as dá Deus a quem é servido, muitas vezes são hereditárias e vinculadas, porque as concedeu e vinculou Deus a certas famílias, negando esta gloriosa prerrogativa a outras. Quis Deus libertar o reino de Judá do poder de el-rei Antíoco, que o tiranizava, e encomendou esta empresa à geração dos Macabeus, os quais nesta restaura- ção do reino se opuseram às armas de Antíoco, e as venceram com forças mais que humanas, porque muitas vezes foram ajudados das do céu com milagres manifestos. Quiseram outros príncipes tomar também por sua conta a mesma empresa, e perderam-se nela, como também se perdeu na de Portugal o prior do Crato, o senhor D. Antônio. assistido das armas de Inglaterra. Dá o texto a razão de se perderem, e de não conseguirem a empresa, e diz assim: Ipsi autem non erant de semine virorum illorum, per quos salus facto est in Israel (1 Mac. 5, 62): Não conseguiram a empresa estes príncipes, porque não eram da gera­ção daqueles varões, os quais Deus escolheu para restauradores de Israel. De maneira que pretendendo Deus restaurar o reino de Israel, vinculou, como em morgado, esta prerrogativa de restauradores do reino à famosa casa dos Macabeus, a Matatias e a seus descendentes. Tal foi em Portugal a real casa de Bragança.

Duzentos anos antes dos tempos em que hoje estamos, esteve o reino de Portugal quase todo debaixo do poder de Castela. Saiu à defensa dele o Mestre de Aviz, el-rei D. João o I, e o condestável D. Nuno Álvares Pereira, que res­tauraram o reino, e o conservaram na sua liberdade; e, como Deus então tomou estas duas grandes cabeças, e estes dois grandes braços por restauradores do reino de Portugal, quis deixar neles, como hereditária e de juro para seus des­cendentes, esta singular prerrogativa de restauradores do reino, e assim foi. Fundou-se a casa de Bragança. em um filho de el-rei D. João o I, e em uma filha do conde D. Nuno Álvares, que foram os dois primeiros duques, e neles e seus sucessores se foi conservando a geração dos restauradores: De semine viroum illorum, per anos salus jacta est in Israel — e por este singular privilé­gio daquela casa, buscando Deus restaurador para o reino de Portugal. não o achou senão nos duques de Bragança: Inveni.

E que, buscando-o entre todos os duques e descendentes daquela casa, achasse a pessoa do duque D. João. o II, não é pequena glória sua. Quando Deus houve de ungir a Davi em rei, mandou ao profeta Samuel que fosse à casa de Isai, e de entre seus filhos ungiria o que ele lhe mostrasse. Veio primeiro de todos Eliab, moço de alta estatura, gentil-homem, e bizarro; perguntou Samuel a Deus se era aquele, porque lhe pareceu que tinha bom talhe de rei; e respon­deu-lhe Deus. que não, acrescentando que não se governasse pelas aparências de fora, porque os homens julgam pelos rostos, e Deus pelos corações. Veio o filho segundo, Abinadab; veio o terceiro, Sama; vieram todos, a todos repro­vou Deus, até que veio Davi, a quem elegeu e mandou ungir: Et unxil eum Samuel in medio fratrum ejus: E o ungiu Samuel em meio de seus irmãos. — Pergunto: Não fora mais corrente e mais fácil dizer Deus a Samuel que fosse diretamente ungir a Davi? Para que era esta roda, ou esta cerimônia de virem primeiro todos os irmãos à presença de Samuel, e, depois de rejeitar um por um a todos, escolher e eleger a Davi? Foi grande glória de Davi esta, diz S...... para que. vendo Samuel quão grandes eram os homens que Deus deixava, en­tendesse quão grande devia ser o que Deus escolhia, Deus escolhe a Davi, deixando todos estes, grande coisa deve de ser Davi.

Quereis saber quão grande pessoa foi el-rei D. João, o IV? Ponde-o in media fratrum suorum: ponde-o no meio dos outros descendentes da casa de Bragança, a quem Deus deixou, quando a ele escolheu, e a quem Deus não quis achar, quando a ele o achou: Inveni– e conhecereis, pelos deixados, quão grande devia ser o eleito. Os filhos de Isai, dentre os quais foi escolhido Davi, foram oito: e oito foram também os príncipes que a casa de Bragança teve depois da sujeição de Portugal a Castela. O duque D. João, o I, avô de Sua Majestade; o duque D. Teodósio II, seu pai; o senhor D. Duarte, e o senhor D. Alexandre, seus tios: o infante D. Duarte e o senhor D. Alexandre, seus irmãos: o príncipe D. Teodósio, seu filho. E que deixe Deus o duque D. João tão valoroso, que deixe o duque D. Teodósio tão prudente, que deixe o senhor D. Duarte tão político, que deixe o senhor D. Alexandre tão religioso, que deixe o D. Duarte tão soldado, que deixe o senhor D. Alexandre tão amado, que deixe o príncipe D. Teodósio tão sábio, tão santo e tão digno de império, e que dentre todos escolha para rei e restaurador de Portugal o duque D. João o II, depois rei D. João o IV, grande glória deste rei, e grande argumento de sua grandeza! Muito achou Deus nele, quando, buscando rei entre tantos príncipes, deixando a todos, só a ele elegeu, e só a ele achou: Inveni.

§ II

El-rei D. João o IV e Davi. A desproporção que havia entre o Davi e o gigante, e a diferença entre a monarquia de Espanha medida com o reino de Portugal. A vitória de Portugal sobre Castela comparada com a vitória de Holanda.

David. — Davi se chama el-rei D. João nestas palavras que lhe aplicamos: mas com que propriedade? Porventura pela excelência da música, a que ambos estes reis foram afeiçoados? Porventura por serem ambos domadores de feras? Porventura por ter um e outro Davi um filho Salomão? Porventura pela pru­dência, pela vigilância, pela piedade, pela justiça, pelo sofrimento de traba­lhos, em que ambos foram insignes? Porventura, finalmente, por um e outro saberem ajuntar a humildade com a majestade, virtudes raras nos reis, e pela qual Davi foi tão favorecido de Deus? Grande sentimento tenho de não poder fazer sobre todas estas propriedades um particular discurso. Em todas se pare­ceu o nosso bom rei com Davi; mas bastava-lhe, para ser Davi por antonomásia, o desafio e batalha, com que ele só se atreveu a sair em campo com o gigante, e vencê-lo. Quem pode negar que a desproporção que se via entre Davi e o gigante era a mesma que se via entre a monarquia de Espanha, medida com o reino de Portugal? O natural desejo da honra e da liberdade solicitava os ânimos dos portugueses para que empreendessem esta grande façanha; mas era ela de qualidade que não só a desaconselhava a desesperação, senão ainda a esperança: não só no mau sucesso, senão ainda na mesma vitória prometia ruínas Os pequenos, se pelejam com os grandes, ainda quando vençam, ficam debaixo. Eliazaro, irmão de Judas Macabeu, foi tão valente e atrevido, que ele só investiu com um elefante armado: meteu-lhe a espada pelo peito, caiu o elefante, e ficou debaixo dele Eliazaro, donde disse Santo Ambrósio: Suo est sepultus triumpho: que ficou sepultado debaixo do seu triunfo. — Triunfante,  mas morto; vencedor, mas sepultado: que quando os pequenos pelejam com os grandes, ou vençam, ou sejam vencidos, sempre ficam debaixo.

Não desanimou esta consideração ao nosso valente Davi: saiu em cam­panha contra o gigante, em tudo como Davi: não só menor contra maior, senão desarmado contra armado: O gigante Golias estava todo coberto de ferro, e armado de ponto em branco, como o descreve a Escritura; e Davi, com um báculo e uma funda, se pôs em campo contra ele: tal era o estado em que estava Portugal e Castela naquele tempo. Castela com um florentíssimo exército de vinte mil infantes, e cinco mil cavalos nos campos de Catalunha, que só com voltar as bandeiras podia entrar por Portugal; e Portugal sem armas, sem muni­ções, sem artilharia, sem navios, sem aliados, sem conquistas, sem gente de guerra, mais que a dos presídios, que todos eram castelhanos, e acrescentavam mais a dificuldade da empresa. Por tudo rompeu o nosso animoso Davi, e con­tra a esperança e opinião de todos saiu com a vitória. Davi deu uma pedrada na cabeça do gigante, e nós podemos dizer que Portugal a deu nas cabeças de todos os políticos, porque nenhum houve, assim dentro como fora de Portugal, que não errasse no juízo desta empresa. O exemplo com que se animavam, ode melhor esperança, era o de Holanda; mas esse antes acrescentava a desesperação, como acrescentou depois a glória. Holanda prevaleceu contra o mesmo gigante, mas foi de longe, com França e Flandres em meio, em distância de quatrocentas léguas; mas Portugal, estando cercado de Espanha por todas as partes, dentro em seus braços lhe resistiu, e a venceu, que é muito maior vitória.

Notai: Davi fez tiro com a funda ao gigante, e derrubou-o: correu logo a ele, e com a sua mesma espada lhe cortou a cabeça. Recolheu-se a Jerusalém, e dedica a espada no Templo. Pergunto: Por que não pendurou Davi no Templo a funda, senão a espada? A funda é a que derrubou o gigante, à funda é que se deve a vitória: cortar-lhe a cabeça depois de derrubado, não foi grande façanha; chegar a o derrubar, sendo uma torre armada, essa foi a ação famosa: pois, se tudo isto se deve à funda, por que não consagra Davi ao Templo a funda, senão a espada? Porque a funda é arma de longe, e a espada é arma de perto; e como o vencer de perto é muito mais glorioso que o vencer de longe, por isso Davi pendurou a espada, e não a funda: porque se prezou mais do golpe do que do tiro. Tal foi a vitória de Portugal, comparada com a de Holanda: ambos prevaleceram contra o gigante; mas Holanda de longe, com a funda, e Portugal de perto com a espada; onde se deve muito notar que, na batalha contra c gigante filisteu, o tiro da funda deu a vitória à espada; mas na batalha contra e gigante castelhano, o golpe da espada é o que deu a vitória à funda. Depois que Portugal prevaleceu contra Espanha, então se rendeu Espanha aos partidos de Holanda. Portugal armou-se contra Espanha no ano de 4O, e Espanha fez pazes com Holanda no ano de 48. Vede se merece el-rei D. João o IV o nome de Davi: Inveni David.

§ III

Em que Davi e Sua Majestade se mostraram principalmente servos de Deus. A reverência e obediência de D. João aos Sumos Pontífices, que não o reconheciam por rei. A observância dos preceitos da Igreja. O gosto pela mú­sica religiosa.

Servum meum: Meu servo. — O em que Davi principalmente se mostrou servo de Deus, foi na pureza e aumento da fé, destruindo ídolos; na reverência e ordem do sacerdócio: na música e cerimônias eclesiásticas; no serviço e decoro do culto divino: e em ele diante da Majestade divina se esquecer totalmente da sua. Em todas estas circunstâncias de religião e piedade foi admirável o zelo do senhor rei D. João. Quanto ao aumento da fé, ele foi o primeiro de todos os reis de Portugal, e ainda dos de Espanha e de toda Europa, que em seu reino levantou tribunal e conselho próprio da propagação da fé: ele instituiu renda particular para viáticos de missionários de todas as conquistas, e aumentou as missões da Índia, as da China, as de Guiné, as de Congo, as de Angola, e esta do Maranhão, renovando as que estavam esquecidas, aumentando as que continuavam, e fundando outras de novo. Davi tomou o ouro do ídolo Melcon, e desfê-lo, e do ouro fez uma coroa para si, porque desfazer ídolos é fazer coroas: e por que fez o rei coroa deste ouro, e não de outro? Porque a coroa do outro ouro dava-lhe o título de rei de Israel: a coroa deste ouro dava-lhe o título de propagador da fé; e este título é mais para desejar e estimar que o outro; a outra coroa fazia-o rei, esta coroa sustentava-lhe o reino. Cada alma é uma pedra preciosa: oh! que rica coroa tem el-rei D. João de tantas almas: Gaudium nleurn, et corona meu[2].

Na reverência à Igreja, e à suprema cabeça dela, deu Sua Majestade o maior exemplo, porque teve as maiores ocasiões. Viveu em tempo de três pontífices: Urbano VIII, Inocêncio X, Alexandre VII: a todos mandou embaixadores, em seu nome, no do reino, e no do clero; e, posto que de nenhum deles foi recebido como pai, sempre se portou como filho obedientíssimo da Igreja, título hereditário dos reis portugueses, depois que Pio V o deu a el-rei D. Sebastião. Teve Sua Majestade muitos doutores de todas as nações católicas, que lhe asseguravam e aconselhavam que podia fazer bispos em Portugal, sem recurso à Sé Apostólica; era o principal argumento este, a quem ninguém respondia: Os preceitos eclesiásticos não obrigam em caso de extrema ou grave necessidade; o preceito de serem os bispos confirmados pela Sé Apostólica é eclesiástico, como consta largamente das histórias da mesma Igreja: logo, sendo a necessidade que as igrejas do reino e conquistas de Portugal padecem, ou extrema, ou quase extrema, podem-se fazer os bispos sem confirmação do Sumo Pontífice, enquanto ele os não quer confirmar. Por este, e por outros argumentos, havia quem aconselhava a Sua Majestade que seguisse esta opinião, ou, quando menos, mostrasse no exterior que a queria seguir; mas nem uma nem outra coisa se pôde acabar nunca com seu religiosíssimo ânimo.

Disse o Filho Pródigo, depois de conhecido do seu erro: Pater, peccavi in caelum, et coram te: jam non sum dignus vocari filius tuu[3]. — Repara S. Pedro Crisólogo. Os nomes de pai e filho são correlativos, que, ou hão de permanecer ambos, ou perder-se ambos: se se perde a relação de pai, logo também se perde a relação de filho; se se perde a relação de filho, logo também se perde a rela­ção de pai. Pois, se da parte do Pródigo se tinha perdido a relação e denomina­ção de filho: Jam non suar dignus vocari filius tuus — como da parte do pai se não perde a relação de pai? Pater, peccavi: — A razão é, diz o santo — porque este pai era Deus. Entre os homens, em se perdendo a relação de pai ou de filho, perdem-se ambas; em Deus não é assim: ainda que se perca a relação de filho, sempre fica a relação de pai. Perdeu-se da parte do Pródigo a relação de filho? Non sum dignus vocari filius tuus; mas da parte do pai não se perdeu a relação de pai: Pater peccavi. — Tal foi el-rei D. João com todos os Sumos Pontífices, se bem com os termos trocados: eles perderam a relação de pai, não querendo reconhecer a el-rei; el-rei não perdeu a relação de filho, reconhecen­do-os sempre a todos por pais; eles faltaram à igualdade de pai; não faltou ele nunca à obediência e reconhecimento de filho.

Aos preceitos da Igreja era obedientíssimo. Para o achaque, de que Deus o levou, lhe receitaram os médicos que comesse carne pela quaresma; mas nunca o puderam acabar com Sua Majestade. Eu lhe ouvi dizer que não sabia como se tinham por cristãos os que na quaresma comiam carne. Nos jejuns da quaresma, e em todos os do ano, era observantíssimo: e jejuava as sextas-feiras de quaresma a pão e água, e outros muitos dias. Nunca faltava à missa todos os dias. E, por grandes ocupações que tivesse, nunca perdeu sermão na capela, nem deixou de ouvir missa e vésperas camadas em todos os dias santos. De Quinta-Feira Maior até à manhã da Ressurreição, de dia e de noite, estava sempre acompanhando o Senhor, e não se assentava senão no chão. Em todas as procissões do Santíssimo Sacramento, a que se achava, levava sempre uma vara de pálio; e na irmandade do Santíssimo Sacramento de S. Julião, que é a freguesia do paço, aceitou Sua Majestade ser nomeado por juiz e no dia da procissão levou a vara que costumam levar os juízes, parecendo melhor esta vara naquela mão real que o mesmo cetro. Não faltou quem aconselhasse a Sua Majestade que no maior aperto das guerras se valesse das pratas das igrejas; mas não admitiu tal pensamento; antes, no mesmo tempo deu rendas a muitos conventos de religiosos, e lhes restituiu outras, que lhes estavam tiradas. Edificou a igreja de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa; o convento magnífico de Santa Clara de Coimbra e, ultimamente, estava ideando de novo a Capela Real: mas não é coisa nova em Davi impedir-lhe Deus a edificação de templos.

Na música, a que Sua Majestade era tão conhecidamente inclinado, foi coisa muito advertida e reparada que toda era ordenada ao culto divino. Até hoje não houve no mundo livraria de música como a que Sua Majestade tinha ajuntado de todo ele e de todos os famosos mestres de todas as idades. Mas que continha toda esta livraria? Missas, vésperas, salmos, poesia e versos divinos enfim, música eclesiástica. A música de Davi lançava os demônios fora dos corpos: há outra música que mete os demônios na alma. Toda a música de Sua Majestade era verdadeiramente música de Davi, nem podia ouvir outra. Tendo tantos músicos, e gastando tanto com eles, não tinha Sua Majestade músicos de câmara, senão só de capela. Quando queria ouvir música, não mandava cantar um tono, que é o gosto ordinário dos príncipes, e dos que o não são: mandava cantar um salmo, ou uma Magnífica, ou outra coisa sagrada, com admiração de todos. Muitos dos salmos de Davi têm por título: Ipsi David: Para o mesmo Davi. — Lede estes salmos, e achareis que todos continham louvores de Deus; de sorte que a música que era para Davi era juntamente para Deus, e a música que era para Deus era juntamente para Davi. Cá os reis do mundo têm música de câmara e músicos de capela: música para si e música para Deus. Davi e el-rei D. João não eram assim: os seus ouvidos eram como o seu coração, feitos pela medida dos ouvidos de Deus; e só o que nos ouvidos de Deus fazia consonância, tinha também harmonia nos seus ouvidos.

§ IV

Quão santo foi o óleo com que Deus ungiu a el-rei D. João. A diferença deste rei aos outros reis. O desinteresse de Sua Majestade pelo cetro e pela coroa. A unção de el-rei Saul pelo profeta Samuel.

Oleo sancto meo unxi eum (SI. 88, 21): Ungi-o a ele como meu óleo santo: oleo sancto. — Foi el-rei D. João ungido com óleo santo. Muitos reis são ungidos com óleo pecador: Oleum autem peccatoris non impinguet capuz meum (SI. 140, 5) dizia Davi: Senhor, livrai-me que o óleo pecador me unja a minha cabeça. — São ungidos com óleo pecador aqueles reis que se introduzem nos reinos com pecado, com injustiça e com violência. Tal foi o primeiro rei que houve no mundo. Nembrot, e todos os impérios dele: o dos assírios, o dos persas, o dos gregos, o dos romanos, todos se introduziram com pecado, seguindo todos aquela máxima infernal: Si jus violandum est, propter regnum violandum est: Que, se por alguma coisa se deve quebrar a justiça, é por reinar. — Vede quão  santo foi o óleo com que Deus ungiu a el-rei D. João. Declarou el-rei em se testamento, que por escrúpulo aceitara a coroa muito contra o seu natural; e assim era, porque a nenhuma coisa tinha maior repugnância a inclinação natural de el-rei D. João que a ser rei. Eu lhe ouvi dizer que Deus, para o fazer rei, fora neces­sário trabalhar com ambas as mãos: — Com uma tapou-me os olhos, com outra trouxe-me pelos cabelos. — Olhai a diferença deste rei aos outros reis. Os outros reis entram a reinar por apetite. e sem escrúpulo: el-rei entrou a reinar por escrú­pulo, e contra o apetite. Os outros reis que faz Deus, ao menos concorrem para a coroa com o desejo: el-rei D. João foi tão puramente ungido por Deus, que nem com o desejo concorreu para a sua coroação: todo o óleo com que foi ungido em rei foi óleo santo: Oleo sancto. — E todo foi de Deus: Oleo sancto meo. — Nem concorreu para esse óleo com a ambição, nem com a negociação, nem com o desejo, nem com a inclinação: o mais que fez foi não recusar: nos outros reis é a coroa matéria de ambição, em el-rei foi matéria de paciência.

Pouco antes de Sua Majestade ser aclamado, teve uma doença, de que esteve à morte, e nela disse Sua Majestade a Deus estas palavras, como eu lhe ouvi repetir: Domine, si populo tuo sum necessarius, non recuso laborem: Se­nhor, se sou necessário para o vosso povo, não recuso o trabalho. — Notai: era Sua Majestade tão desinclinado a ser rei, que para Deus o reduzir a que não recusasse foi necessário pô-lo às portas da morte; e ainda nesse passo tão aper­tado, que disse? Si populo tua sum necessarius. — Que seria rei pela necessida­de do povo, e não por vontade própria. — E que mais? Non recuso laborem. — Não disse que aceitava a dignidade, senão que não recusava o trabalho. No ser rei são duas coisas muito distintas a dignidade e o trabalho: a dignidade é muita para apetecer, o trabalho é muito para recear; por isso os reis, ordinariamente, a dignidade tomam-na para si, o trabalho encomendam-no a outros. Não assim el-rei: ofereceu-se a Deus para o trabalho, e não para a dignidade da coroa: Non recuso laborem. — Ó rei verdadeiramente ungido com o óleo de Deus! — Oleo meo. Foi Samuel ungir Saul em rei; e porque Saul chegou tarde, mandou-lhe o profeta pôr a mesa, e nela o ombro direito de uma rês, dizendo: Comede, quia de industria servatum est tibi[4]. — Tinha-lho guardado de indústria porque o vinha ungir em rei. Pois. porque o vinha ungir em rei, parece que lhe havia pôr diante a cabeça, e não o ombro. Não, porque Samuel vinha ungir a Saul com o óleo de Deus e reis ungidos com o óleo de Deus coroam os ombros, e não a cabeça porque o ombro é o lugar do trabalho, e a cabeça é o lugar da  dignidade. Tal foi Sua Majestade: não recusou a coroa, mas quando a não recu­sou, não ofereceu a cabeça à dignidade. ofereceu o ombro ao trabalho: Non recuso laborem. — Isto foi ser o óleo de Deus: Oleo sancto meo.

§V

D. João o IV, um rei que reinava. De que modo distribuía el-rei os traba­lhos pelos dias da semana.

Unxi eum: Ungi-o a ele. — Aos outros reis no dia da sua coroação não os ungem a eles, ungem aos seus criados e aos seus validos porque eles têm a coroa, e os validos têm o poder. Falando da prosápia de Davi, diz o profeta Jeremias: Regnabit rex, et sapiens erit (Jer. 23, 5.): Reinará o rei, e saberá. — Há reis que nem reinam nem sabem: eles são os reis, e os seus validos são os que reinam, porque os validos são os que põem e os que dispõem, e os que fazem o que querem; e assim como não reinam, também não sabem porque nem sabem a quem se dão os prêmios, nem sabem por que merecimentos: nem sabem a quem se dão os castigos. nem sabem por que culpas. Não foi assim el- rei   D. João: sabia tudo, e reinava sobre todos. Quando entrou Sua Majestade a reinar, reinava cm França Luís XIII mas quem tinha o governo era o cardeal Richelieu. Reinava em Espanha Filipe IV. mas quem tinha o governo era o conde duque. Só em Portugal reinava el-rei: Regnabit rex — e, assim como reinava sobre todos, também sabia tudo; assinava os papéis por sua mão, e em nenhum lançou a sua firma. como eu lhe vi e ouvi por muitas vezes, que, ou ele o não lesse. ou ouvisse ler por pessoa, de quem se fiava; e para ter notícia de todos os negócios, mandava despachar os de mais importância em sua presen­ça e para isso repartiu os conselhos pelos dias: à segunda-feira o conselho de estado, à terça o da fazenda, à quinta o despacho das mercês, à sexta a mesa do paço, ao sábado o da consciência. Pelas manhãs dava audiências públicas e

secretas, e despachava com os secretários, não lhe ficando uma só hora de vago, nem havendo jamais rei que tanto trabalhasse. Diziam que gastava tem­po com a música, e assim era: mas as horas da música tirava-as à pessoa, e não à coroa; tirava-as a si enquanto homem, e não a si enquanto rei: era uma à hora da sesta, outra à da madrugada, que ainda aos jornaleiros são forras: ele era o ungido, e ele o que lutava com os negócios: Unxi eum.

§VI

O socorro da mão de Deus e os repetidos sucessos guerreiros de el-rei D. João.

Manus enim maca auxiliabitur ei, et brachium meum confortabit eum: A minha mão o ajudará, e o meu braço o esforçará. — Este verso não há mister comento, basta a memória. Bem sabemos todos que no dia da aclamação de Sua Majestade, defronte da igreja de Santo Antônio, despregou a mão, e esten­deu o braço a imagem de Cristo crucificado: Manus mea auxiliabitur ei, et brachium meum confortabit eum.

Manus mea auxiliabitur ei. — O primeiro socorro da mão de Deus que experimentou el-rei D. João, não foi desbaratar Deus os exércitos de Castela, mas cegá-los, para que não obrassem logo o que puderam: este foi o primeiro golpe daquela mão onipotente, como pediu Eliseu: Percute gentem hanc caecitate[5]. — Obrigados do grande exército que estava naquele tempo sobre Catalunha, ofereciam os catalães sujeição. Votou o conde de Onhate que se aceitasse o oferecimento de Catalunha, e o exército marchasse logo a Portugal, enquanto estava desapercebido; e não há dúvida que este conselho era o que convinha a Castela, e o que nos podia ser de ruína naqueles princípios do reino; mas não é coisa nova em Deus que os conselhos de Aquitofel não prevaleçam contra ele. Foi este socorro da mão de Deus como o da espada de S. Pedro na defensão do Horto. Mete S. Pedro mão à espada, e investe com Malco. Pois, S. Pedro, com a lanterna o haveis? Não será melhor investir com as espadas e com as lanças: Cum gladiis, et fustibus? (Mt. 26, 47)? — Não: em semelhantes casos importa muito mais o deslumbrar que o ferir. No golpe que atirou à cabe- ça, cortou a orelha a um; no golpe que tirou à lanterna feriu os olhos de todos, porque os deixou cegos sem luz: assim se portou a mão de Deus em nosso favor. O Onhate alumiava bem; mas Deus, porque amava a Davi, enfatuou o conselho de Aquitofel. De S. João Batista se diz: Etenim manus Domini erat cum illo (Lc. 1, 66): Que estava a mão de Deus com ele, e o mesmo se podia dizer de el-rei D. João: Etenim manus Domini eras cum illo. — Vistes já em um painel a S. João apontando com o dedo, e a Deus Padre, com a mão estendida? Se houvera de retratar os sucessos de el-rei D. João, não se pudera buscar pintura mais própria. João apontando com o dedo, e Deus assistindo e execu­tando com a mão: Manus enim mea auxiliabitur ei.

Primeiro que tudo. Apontou el-rei D. João para Lisboa; aplicou Deus a mão, e veio Lisboa, sem haver quem tirasse uma espada, todos dizendo: Viva. Estava o castelo presidiado de castelhanos, e com os canhões sobre a cidade: apontou el-rei ao castelo: pôs Deus a mão, e rendeu-se o castelo no mesmo dia. Apontou el-rei para os galeões de Castela, que estavam no rio de Lisboa com gente, mantimentos e velas metidas, e se puderam quando menos sair pela bar­ra, cujas forças ainda se sustentavam por Castela; pôs Deus a mão, e renderam-se os galeões. Apontou el-rei para a fortaleza de S. Gião, da qual dizia... que se se perdesse Espanha, por ela se podia restaurar: pôs Deus a mão, e veio a fortaleza de S. Gião. Apontou para todas as fortalezas do reino, presidiadas por sessenta anos de Castela: pôs Deus a mão, e renderam-se todas. Apontou el-rei para todas as povoações e com arcas do reino: pôs Deus a mão, e vieram todas, sem ficar uma aldeia, nem uma casa, nem uma... por Castela. Apontou el-rei ao Brasil, e primeiro à cabeça, onde estavam dois terços de infantaria castelhana, e um de napolitanos, com um vice-rei tão beneficiado de Castela: pôs Deus a mão, veio a cabeça do Brasil, e após ela todos os membros. Apontou el-rei para a Índia, e com estar tão remota, pôs Deus a mão, e veio a Índia; e houve homens que vieram de Macau só a ver rei português. Apontou el-rei para Angola, e S. Tomé: pôs Deus a mão, veio S. Tomé e Angola. Apontou para Tanger e Masagão: veio Masagão e Tanger. Apontou para todas as ilhas: vieram as ilhas todas. Só restava o fortíssimo e inexpugnável castelo da Terceira, governado e presidiado de castelhanos, e quatro vezes socorrido de Castela aplicou Deus a mão, e rendeu-se o castelo não a sítio de capitães e soldado; pagos, senão ao que por mar e por terra lhes fizeram os moradores e lavrado res, com assombro do mundo: no princípio do sítio não tinham mais que un barco, e no cabo dele defendiam as entradas do mar com nove navios de guer- ra, tomados todos aos castelhanos. Isto fez Deus com a mão: Manus enim mea auxiliabitur ei.

§VII

O auxílio do braço de Deus. Os excessos do valor destemido de el-rei ante as grandes diligências que Castela fazia por lhe tirar a vida nas ações e nos lugares mais sagrados.

Com o braço, como maior empenho, ainda fez Deus mais: Et brachium meum confortabit eum. — O que fez o braço de Deus, foi fortalecer o coração de el-rei, o qual coração verdadeiramente foi, entre tantos milagres, o maior milagre. Aclamado el-rei em Lisboa, parte-se de Vila Viçosa em um coche, acompanhado só de dois fidalgos, com a mesma segurança com que o pudera fazer el-rei D. Dinis ou el-rei D. Manuel na mais alta paz do reino. Costumam os príncipes em semelhantes casos andarem armados; e o peito de prova que vestia el-rei era um gibão de tafetá singelo. Costumam os príncipes multiplicar as guardas; e el-rei não acrescentou um soldado à guarda ordinária do reino, nem às portas do paço havia mais que os porteiros ordinários da Cana poden­do-se dizer de el-rei D. João o IV, o que se cantou ao terceiro: Com duas canas diante his armado e his temido. — Costumam os príncipes recolher-se a alguma cidadela ou lugar forte; el-rei não só vivia nos paços da Ribeira, deixando os do Castelo, senão que até de Lisboa se saía, passando os verões em Alcântara, e os invernos em Almelrim, Estava o Tejo fervendo em navios e chalupas es­trangeiras de todas as nações; e el-rei metia-se em uma gôndola, só, pelo rio abaixo, quando fora muito fácil sair dos navios quem o levasse pela barra fora. Na caça, quantas vezes se apartava dos monteiros e dos fidalgos que o segui­am, e andava só pelos bosques e pelos campos, como se com se levar a si  levasse toda a sua guarda consigo: e assim era, porque levava o braço de Deus, que o esforçava: Et brachium meum confortabit eum.

Todos estes excessos de valor destemido fazia aquele grande coração, cons­tando-lhe das grandes diligências que Castela fazia por lhe tirar a vida nas ações e nos lugares mais sagrados. Ah! que se me perde aqui a minha semelhança de Davi! Mas eu a dou por bem perdida. Davi, vendo-se perseguido de Saul: Ascenderunt ad tutiora loca (1 Rs. 24, 23) — buscava os lugares mais seguros; mas o nosso Davi metia-se pelos mais arriscados, não desprezando os perigos, mas sabendo que não periga quem é defendido do braço de Deus. Parecia-lhes a todos os estrangeiros de Itália, França, Inglaterra, Alemanha, com muitos dos quais falei nestes tempos, que seria grande o desvelo e contínuo sobressalto de um príncipe, que, dentro em sua própria terra, tinha tomado um reino a um monarca por sobrenome o Grande; cuida­vam que não poderia dormir, nem aquietar, nem ter um momento de gosto ou de sossego; e quando ouviam dizer que el-rei de Portugal tinha todas as semanas um dia de caça, e todos os dias duas horas de música, pasmavam e ficavam assombra­dos. Das fronteiras de Badajós, veio prisioneiro um título de Flandres, general da cavalaria, o qual disse que sentia menos a sua prisão, só por poder ver um homem que, tendo tomado um reino a el-rei de Espanha, dentro em Espanha tinha ânimo para caçar e cantar. Naquele fatal dia de 19 de agosto de 41, em que no Rocio de Lisboa se cortaram juntas as maiores cabeças que em muitos séculos se viram cortar em Espanha, estando ainda o reino tão em mantilhas e estando empenhadas na conjuração tantas casas grandes, por não dar audiências, e evitar rogativas, deitou-se el-rei na cama. Tão desassustado estava o seu coração, e tão sem cuidado nem receio. Isto foi mui advertido de todos; mas eu notei muito mais, que dois dias antes tinha Sua Majestade mandado sair as duas armadas de França e Portugal em deman­da de Cádis, parecendo a el-rei, e mostrando a todo o mundo que era e estava tão rei de Portugal que, para cortar as maiores cabeças dele não tinha necessidade de socor­ros de armas estranhas, nem ainda da assistência das suas; mas que muito, se estava assistido do braço de Deus? Et brachium meum confortabit eum...

Por fim deste sermão daremos o epitáfio seguinte, que da mesma letra do Padre Antônio Vieira se achou entre os seus papéis:

Post asseriam Patriae libertatem,

(Majore felicitate, an fortitudine, incertum)

 Avito .sceptro liberis relicto,

JOANNES QUARTUS

Hic victor quiescit.

Vixit in lmperio annos sexdecim:

Sibi satis, hostibus nimium, nobis parum[6].

Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística

[1] Achei a Davi, meu servo; com o meu santo óleo o ungi; porque a minha mão lhe assistirá a ele. e o meu braço o confortará (SI. 88, 21).

[2] Gosto meu, e coroa minha (Flp. 4. I ).

[3] Pai, pequei contra o céu, e diante de ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho (Lc. 15, 21).

[4] Come, porque expressamente se reservou para ti (1 Rs. 9, 24).

[5] Fere de cegueira a esta gente (4 Rs. 6. 18).

[6] Depois de assegurada a liberdade da pátria, não se sabe se com maior êxito ou valentia, deixando aos filhos o cetro paternal, JOÃO QUARTO, descansa aqui vitorioso. Viveu no império sessenta anos, bastantes para si, muitos para os inimigos, pouco para nós.