Fonte: Biblioteca Digital de Literatura de Países Lusófonos

LITERATURA BRASILEIRA

Textos literários em meio eletrônico

Grandes manobras, de Horácio Nunes


Texto-fonte:

Horácio Nunes Pires, Bastidores. Teatro original,

Florianópolis: Gabinete Tipográfico Catarinense, 1898.

GRANDES MANOBRAS

Comédia original em 1 ato

Personagens

Bernardo                                          45 anos

Mariquinhas                                      17 anos

Malaquias                                         30 anos

Gregório                                           46  anos

Sinfrônio                                          25 anos

Oficiais de todas as patentes

ATUALIDADE

ATO ÚNICO

Praça. — Dia. — Ao subir o pano, a cena está vazia. — Ouve-se fora grande barulho de vivas e o estalar de foguetinhos da China.

CENA I

UMA VOZ. Viva o capitão Manduca!

MUITAS VOZES. Viva!

VOZ.  Viva o heroico tenente Sinfrônio das Chagas!

MUITAS VOZES. Viva!

VOZ. Viva o tenente coronel Gregório Pereira!

MUITAS VOZES. Viva!

VOZ. Viva a heroica guarda nacional!

MUITAS VOZES. Viva!

VOZ. Toque a música! (Ouve-se uma gaita de foles. — Espocar de foguetinhos. — Grande vivório — O barulho vai se afastando, até perder-se ao longe.)

CENA II

MALAQUIAS. (entrando, furioso, da esquerda.) Bandalheira! pouca vergonha!.. (Olhando pelo bastidor.) Andem, deem vivas, aticem foguetes, metam-se no pifão! Melhor rirá quem rir por ultimo!.. Pensam vocês que têm a coisa muito segura!.. Pois estão enganados!.. Todas as nomeações hão de ser anuladas!.. (Descendo.) Depois, quando um homem vira casaca, é sem vergonha, é canalha, não tem caráter!.. Pois olhem que eu agora tinha razão de sobra para virar casaca!.. Calculem que deram patentes da guarda nacional a todo mundo, menos a mim, — a mim, que tantos serviços tenho prestado ao meu partido!.. O Sinfrônio é tenente... Ora, o Sinfrônio!.. Os srs. conhecem o Sinfrônio?... Um pulha! Quando encontrarem um pulha aí na rua, é o Sinfrônio! O Manduca é capitão, o Chico é o diabo que o carregue!.. Todos receberam uma patente: só eu fiquei no tinteiro!.. Isto é um desaforo, uma pouca vergonha!.. Mas toda esta patifaria há de ser anulada!.. Chegaram a promover a alferes cidadãos que já eram tenentes, e a fazer capitães a três ou quatro defuntos... Não leram o “Diário Oficial”? Pois leiam, leiam, e depois conversem comigo! E o que mais me incomoda não é só a grande injustiça que me fizeram atirando-me para o canto. Quando me lembro que com esta chuva de galões, a Mariquinhas é capaz de apaixonar-se por algum deles... tenho ímpetos... tenho ímpetos de arranjar uma metralhadora e mandar todos para o inferno! (Pausa.) Foram todos fardar-se para o exercício... Mas que exercício vão eles faze, sem soldados?... Não há um único soldado!.. Se se procurar um soldado da guarda nacional para um sinapismo, não se encontra! Todos são oficiais... alferes, tenentes, capitães, majores, tenentes-coronéis e coronéis... Se houvesse marechais na guarda nacional, todo mundo era marechal!.. Mas também juro desde já que se a Mariquinhas der-me “gola” por causa de algum desses bonecos agaloados, perco a cabeça e faço uma asneira!.. Furo-a com o primeiro ferro que encontrar!.. Pouco me importa a cadeia! Perdido por um, perdido por mil!.. (Começa a passear, gesticulando.)

CENA III

MALAQUIAS E MARIQUINHAS

MARIQUINHAS. (vai atravessar a cena da direita para a esquerda, mas vê Malaquias a gesticular para o publico, e desce.) Ah! O que é que está fazendo, Malaquias?

MALAQUIAS. (suspende a gesticulação, mede-a de alto a baixo, enterra o chapéu na cabeça, mete, furioso, as mãos nos bolsos, e começa a passear.) Cebolório!

MARIQUINHAS. (muito admirada, à parte.) O que terá ele?

MALAQUIAS. (parando diante de Mariquinhas.) Onde vai a Sra.?

MARIQUINHAS. Vou à missa do dia. Pois não se lembra que o convidei ontem para ir também?

MALAQUIAS. A mim?... Está enganada, minha sra. Talvez convidasse a algum tenentezinho de meia tigela. A mim, não!

MARIQUINHAS. Estou estranhando os seus modos, Malaquias... O que é que o sr. tem?

MALAQUIAS. O que tenho? Quer que lhe diga o que tenho?

MARIQUINHAS. Se lhe pergunto...

MALAQUIAS. (dando-lhe as costas.) Não tenho nada!

MARIQUINHAS. (suplicante.) Malaquias!..

MALAQUIAS. Eu não sou mais o Malaquias! Sou uma bomba, uma granada, um obus! Quando eu rebentar, então saberão para quanto presto!

MARIQUINHAS. Mas por que está tão zangado?... Sou, por acaso, culpada de alguma coisa?... O que fiz eu? (Com voz de choro.) Diga...

MALAQUIAS. (para um momento a olhá-la, vai a ela e toma-lhe as mãos.) Perdoa-me, Mariquinhas! Mas se soubesses a injustiça que me fizeram...

MARIQUINHAS. Mas que injustiça?

MALAQUIAS. Pois não sabes?

MARIQUINHAS. Não sei nada.

MALAQUIAS. Eu te conto. Mas hás de guardar segredo.

MARIQUINHAS. Prometo.

MALAQUIAS. Teu pai procedeu para comigo, como não se procede com um moleque...

MARIQUINHAS. Como?

MALAQUIAS. Lembras-te quando houve uma reunião em tua casa para tratar-se da escolha das pessoas que deviam ser propostas para oficiais da guarda nacional?

MARIQUINHAS. Lembro-me... Por sinal que houve uma discussão calorosa, e que tu quiseste brigar com o Sinfrônio...

MALAQUIAS. (exaltado.) Não me fales nesse homem!.. Odeio-o, detesto-o... tenho ganas de matá-lo!..

MARIQUINHAS. Mas, meu Deus! Por quê?

MALAQUIAS. Porque teu pai prefere-o a mim, porque quer que ele case contigo!.. Um pulha, o Sinfrônio!.. Pedante como ele só e burro como uma porta!

MARIQUINHAS. Mas não é a ti que eu amo? Que te importa o resto?..

MALAQUIAS. Mariquinhas... Mariquinhas... juras amar-me sempre?

MARIQUINHAS. Mas não é preciso jurar... Creio que te tenho dado bastantes provas de que só a ti amo...

MALAQUIAS. É certo... Mas o que queres? Tenho ciúmes de todos... Quando me lembro que podes esquecer-me para atenderes à vontade de teu pai, tenho vertigens!... Teu pai não é um homem, Mariquinhas!

MARIQUINHAS. (admirada.) Não é um homem? O que é então?

MALAQUIAS. É... é um tirano da escola antiga!

MARIQUINHAS. Mas estavas falando da reunião para escolha de oficiais, e mudaste de conversa...

MALAQUIAS. Mudei, porque falaste no nome daquele trampolineiro! (Pausa.) Pois nessa reunião ficou assentado que eu seria proposto para tenente da segunda companhia do batalhão de que teu pai é comandante...

MARIQUINHAS. Lembro-me perfeitamente. E não foste?

MALAQUIAS. Riscaram meu nome da proposta, e meteram o nome do Sinfrônio!.. Um pulha! Vê aí o dedo de teu pai, a preferência que ele tem pelo Sinfrônio!

MARIQUINHAS. Pois o Sinfrônio já é tenente?

MALAQUIAS. (zangado.) Pois o Sinfrônio já é tenente!... Estás muito contente, não? Parece que não é só teu pai que tem preferência pelo Sinfrônio!..

MARIQUINHAS. Eu não disse isso, Malaquias!

MALAQUIAS. Não dizes, mas pensas!... Pois vai... vai... agarra-te ao Sinfrônio, que levas um bom canalha!..

MARIQUINHAS. (quase chorando.) Oh! meu Deus!.. que homem!

MALAQUIAS. (acalmando-se.) Perdoa-me, Mariquinhas. Mas eu estou, que nem sei o que digo!

MARIQUINHAS. Eu te amo, Malaquias, e deves ter confiança no meu amor...

MALAQUIAS. Tenho... tenho... mas o maldito ciúme põe-me quase louco!

MARIQUINHAS. Mas eu ainda não te dei motivo para teres ciúme...

MALAQUIAS. Mariquinhas... (Repique de sino, fora.)

MARIQUINHAS. Vou-me embora... Já está tocando a terceira vez para a missa.

MALAQUIAS. Adeus... Ama-me sempre, sim?

MARIQUINHAS. Sempre. Adeus.

MALAQUIAS. Durante a missa, pede a Deus que proteja o nosso amor, ouviste?

MARIQUINHAS. E por que não vais também à missa?

MALAQUIAS. Não vou... Sinto-me incomodado... nervoso... Adeus, e pensa sempre em mim.

MARIQUINHAS. Adeus! (Apertam-se as mãos. — Sai pela esquerda.)

CENA IV

MALAQUIAS. (depois de acompanhá-la com a vista.) Vai... vai... Pensas que me fio nos teus juramentos?... Era preciso que eu fosse uma besta! (Desce.) É impossível que eu não toma uma gola!. O Sinfrônio é tenente, e eu nem cabo de esquadra sou... o pai dela gosta mais do Sinfrônio do que de mim... A prova está na bandalheira que fez riscando o meu nome da proposta... (Reparando.) Mas aí vêm justamente os dois canalhas. Não quero encontrar-me com eles... Pode o sangue subir-me à cabeça, e eu ponho-os em gravetos!.. (Sai pela esquerda. — Entram pela direita Gregório e Sinfrônio, fardados.)

CENA V

GREGÓRIO E SINFRÔNIO

GREGÓRIO. Eu bem lhe dizia que se fiasse na minha influência...

SINFRÔNIO. Influência ilimitada, tenente coronel.

GREGÓRIO. O que eu quero, e o que se faz.

SINFRÔNIO. Pois eu, mais uma vez, lhe agradeço a proteção que me dispensou, comandante. O Malaquias é que há de estar bufando com a história!

GREGÓRIO. Ora! Quem é que faz caso daquilo.. Um tipo que não serve para coisa nenhuma querendo também impor-se, como se fosse gente!

SINFRÔNIO. Lá isso é verdade... Vive a dizer que é um homem cheio de serviços ao partido.. que tem feito... que tem acontecido... que...

GREGÓRIO. Língua só. No mais, não vale nada. Ter a petulância de andar arrastando a asa à Mariquinhas!.. Como se eu fosse dar a pequena a um pandilha daquela laia!

SINFRÔNIO. É exato. Só mesmo se o comandante estivesse maluco, podia dá-la ao Malaquias.

GREGÓRIO. (intencional.) Nada.. não me serve aquilo para genro... Quero um rapaz atirado, elegante, espirituoso, e que pelo menos seja tenente.

SINFRÔNIO. (à parte.) Aquilo é comigo, e eu pego!.. (Alto.) Tem toda a razão, comandante. Um tenente já é alguma coisa...

GREGÓRIO. (à parte.) O marreco entendeu! (Alto.) Sem dúvidas. Com a minha proteção, o tenente de hoje será amanhã capitão, depois de amanhã major, depois tenente coronel... O meu amigo já sabe que a minha influência serve para alguma coisa...

SINFRÔNIO. Perfeitamente. (À parte.) La vai uma bomba! (Alto.) Meu ilustre comandante, há muitos dias já que ando para tocar-lhe em um assunto de suma importância; mas, por diversas circunstâncias alheias à minha vontade, não pude ainda fazê-lo. O lugar agora não é próprio, mas quero aproveitar a ocasião, antes que ela mais uma vez me fuja...

GREGÓRIO. (à parte.) Vai falar-me na pequena: chegou ao rego! (Alto.) Então que negocio tão grave é esse?

SINFRÔNIO. Comandante, há bastante tempo que eu amo..

GREGÓRIO. É natural. Moço, solteiro, bonito...

SINFRÔNIO. E amo perdidamente... perdidamente...

GREGÓRIO. E por que não tem casado?

SINFRÔNIO. Ah! porque, desgraçadamente, a moça a quem adoro, não me ama...

GREGÓRIO. Homem, essa agora!.. Não acredito!

SINFRÔNIO. Pois é a pura verdade, comandante...

GREGÓRIO. E quem é essa moça?... Por acaso quererá ela algum príncipe para marido?..

SINFRÔNIO. A moça é... é sua filha, comandante...

GREGÓRIO. (à parte.) Finjamos surpresa. (Alto.) A Mariquinhas?..

SINFRÔNIO. Sim. Tenho empregado todos os meios para fazer com que ela me ame, mas inutilmente. A sua atenção esta toda voltada para o Malaquias, e nem sequer repara no meu sofrimento! (Trágico.) Novo Sísifo, rolo sem descanso a pedra enorme do meu tormento da base do meu amor ao cume da minha paixão, d’onde para logo ela torna a cair nas profundezas imensas dos abismos insondáveis da minha saudade!

GREGÓRIO. Meu amigo, quer que lhe diga uma coisa?... A Mariquinhas pode casar com o diabo, porque ninguém sabe para o que está no mundo; mas com o Malaquias não casa ela! Daqui a pouco vou mandar chamá-lo para dar-lhe um desengano redondo... O Malaquias!.. Pois aquele pífio não se enxerga!.. Para aquele traste todos são pulhas; no entretanto, não conheço ninguém mais pulha do que ele!.

SINFRÔNIO. Um pulha de primeira força!.. E medroso como ninguém!

GREGÓRIO. É o que lhe digo. Com o Malaquias a Mariquinhas não casa. Pode ele casar com o diabo que o carregue, mas a Mariquinhas, nunca!

SINFRÔNIO. (apertando-lhe a mão.) Ah! comandante, nem pode calcular a felicidade que me dão as suas palavras!.. Sísifo desapareceu... quem está na sua presença é Jove triunfante!..

GREGÓRIO. Quem é esse Jove?... Se é gente que pague a pena, pergunte-lhe se quer ser alferes do meu batalhão. Quero uma oficialidade (?)

SINFRÔNIO. Comandante, Júpiter... Júpiter ou Jove...

GREGÓRIO. (sem o atender.) A filha do Gregório Pereira, tenente coronel, comandante de um batalhão de guardas nacionais, alferes honorário do exército, cavaleiro da ordem da Rosa, condecorado com a medalha da campanha do Paraguai, casar com o Malaquias Lagartixa, um tipo, um traste, um pulha, que nem cabo de esquadra é!.. Nunca!

SINFRÔNIO. Desengane-o, comandante. É preciso dar uma lição àquele biltre!

GREGÓRIO. Sem dúvida! Vou pôr os pingos nos “ises”!.. O que mais me admira não é o Malaquias querer casar com a Mariquinhas; é a Mariquinhas querer casar com o Malaquias!.. Nunca fui tirano, mas creio que desta vez hei de ser um Nero! Se for preciso, mando prendê-lo!

SINFRÔNIO. Por certo. Oito ou dez dias de solitária hão de arrefecer-lhe os entusiasmos matrimoniais! Comandante, coloco o meu amor sob a sua proteção.

GREGÓRIO. Deixe estar. Fie-se em mim, e deixe o marfim correr.

SINFRÔNIO. Estou perfeitamente sossegado.

GREGÓRIO. Ora, o Malaquias! O Malaquias é tolo!

SINFRÔNIO. E petulante também, porque é uma petulância dele querer casar com a filha do tenente-coronel Gregório Pereira!

GREGÓRIO. Boa dúvida!

SINFRÔNIO. Bem. Vou aqui adiante e volto já.

GREGÓRIO. Mas não se demore. Olhe que o exercício está marcado para as onze horas em ponto.

SINFRÔNIO. Não me demoro, comandante. Até já.

GREGÓRIO. Se encontrar por aí o Malaquias, mande-o cá.

SINFRÔNIO. Muito bem. (Sai pela esquerda.)

CENA VI

GREGÓRIO. (depois de um momento de reflexão.) Mas se eu desenganar o Malaquias, quem é que há de ser o instrutor do meu batalhão.. Aqui, diga-se a verdade, o único animal que entende alguma coisa de manobras é ele. Eu não pesco patavina.. O Sinfrônio... nesse não se fala: é uma besta!.. (Pausa.) Ah! tenho um meio. Digo-lhe que foi o governo que o riscou da proposta, prometo fazê-lo oficial na primeira vaga e peço-lhe para instruir os rapazes... Ele cai como um tolo, e eu estou feito. Se falar-me na pequena, dou-lhe esperanças... O que menos custa é dar esperanças (Pausa.) Realmente, foi uma bandalheira que eu fiz, riscando o nome do Malaquias, depois de lhe ter garantido a nomeação, e metendo o nome do Sinfrônio... Foi uma patifaria, foi... Mas a mãe do Sinfrônio pediu-me tanto, que eu não tive outro remédio.. Além disso, como estampa, o Sinfrônio é muito superior ao Malaquias!

CENA VII

GREGÓRIO E MALAQUIAS

MALAQUIAS. (atravessando d’esquerda para a direita.) Maus raios partam a todos eles... Canalha!

GREGÓRIO. Oh! Malaquias, onde vai tão zangado?

MALAQUIAS. Deixe-me, sr.! deixe-me!

GREGÓRIO. Venha cá, homem! (Segura-lhe o braço.) Por que é que já não aparece lá em casa?... Quem foi que matou o seu cachorrinho?..

MALAQUIAS. (à parte.) Este canalha quer fazer-me alguma tratantada... Olho vivo!

GREGÓRIO. Então não diz nada?..

MALAQUIAS. O sr. deve sabê-lo muito melhor do que eu.

GREGÓRIO. (fingindo-se admirado.) Como?

MALAQUIAS. O que foi que me fizeram em sua casa?... Fica assentado que eu seria proposto para tenente da 2ª companhia, e no entretanto riscam o meu nome e metem o do Sinfrônio!

GREGÓRIO. Não sei... A minha proposta seguiu tal qual tinha sido combinado. A substituição foi feita pelo governo. Dei o cavaco, porque, realmente, foi péssima a escolha do Sinfrônio... Aquilo é um traste!

MALAQUIAS. É um pulha!

GREGÓRIO. O Sinfrônio é um tipão, um ignorante, um tolo! Você nem se compara com ele... Você está a par de todas as manobras. É um rapaz atirado, talentoso e elegante. (À parte.) É preciso afagar-lhe o amor próprio.

MALAQUIAS. Então não foi o sr. que riscou o meu nome?

GREGÓRIO. Eu não! Nem você devia formar tão mau juízo de mim. Substituir o seu nome pelo do Sinfrônio! Isso foi um canalhismo que me pôs furioso!.. Mas garanto-lhe que dentro em poucos dias hei de fazê-lo capitão, ou eu não serei mais o tenente coronel Gregório Pereira!

MALAQUIAS. Promete?

GREGÓRIO. (à parte.) Prometer não custa. (Alto.) Sem dúvida. Pode até mandar fazer a farda e pregar-lhe as batatas... Isto são favas contadas.

MALAQUIAS. E... e...

GREGÓRIO. E... o quê?..

MALAQUIAS. Sim... quero dizer... não sei se me faço compreender.

GREGÓRIO. (à parte.) Já te entendo. (Alto, insinuante.) E não fui eu só que dei o cavaco com a substituição do seu nome... Houve mais alguém que...

MALAQUIAS. (alegre.) O que me diz, tenente-coronel?

GREGÓRIO. Isto mesmo. Se eu esbravejava para um lado, essa pessoa gritava para o outro. Chegou a chorar, meu amigo, chegou a chorar!.. Não lhe digo o nome dessa pessoa, mas o caso é certo.

MALAQUIAS. (desconfiado.) Mas, comandante, essa pessoa ignorava até há pouco que eu (?) tivesse sido preterido...

GREGÓRIO. (à parte.) Apanhou-me! (Alto.) Quem lhe disse?

MALAQUIAS. Ela mesma, aqui.

GREGÓRIO. (à parte.) Falaram-se...

MALAQUIAS. De modo que não sei em quem deva acreditar: se nela, se no comandante...

GREGÓRIO. (atrapalhado.) Em mim, meu amigo... em mim... Eu lhe explico o negocio... A Mariquinhas... quero dizer... essa pessoa... disse-lhe... jurou talvez que ignorava tudo, para não aumentar o seu desgosto... sim... porquê...

MALAQUIAS. Pode ser...

GREGÓRIO. É certo... (Outro tom.) É verdade: tenho um pedido a fazer-lhe, e espero que não deixe de atender-me.

MALAQUIAS. Tudo quanto quiser, comandante. (À parte.) Ela chorou!.. Ai! Mariquinhas!..

GREGÓRIO. Hoje, às 11 horas, temos de fazer um pequeno exercício, e estou apertado...

MALAQUIAS. Por quê?

GREGÓRIO. Porque não tenho um instrutor.

MALAQUIAS. (intencional.) Tem o Sinfrônio.

GREGÓRIO. Ora! Aquilo é uma besta! Se o Sinfrônio cair de quatro pés, não se levanta mais, aposto! Nada: o Sinfrônio não serve. Você, que entende a léguas do riscado, é que podia...

MALAQUIAS. Garante-me a patente de capitão?

GREGÓRIO. Pois não. Garanto.

MALAQUIAS. E não se opõe...

GREGÓRIO. (à parte.) Aí vem outra vez a Mariquinhas... (Alto.) Opor-me... a quê?... Não me oponho a coisa nenhuma...

MALAQUIAS. Então, estou pronto. Mande reunir a tropilha e disponha de mim.

GREGÓRIO. Vou mandar já. Quero vê-lo fazer brilhanturas... O Malaquias! o capitão Malaquias é um herói!.. Modéstia à parte, meu amigo: você é um bravo!

MALAQUIAS. O comandante confunde-me...

GREGÓRIO. (saindo juntos pela direita.) Acredite: você é um bravo, um herói, um novo Carlos Magno!

CENA VIII

SINFRÔNIO E MARIQUINHAS

SINFRÔNIO. (entrando da esquerda, ao lado de Mariquinhas.) Mas D. Mariquinhas, a sra. não tem coração!

MARIQUINHAS. (incomodada.) Deveras?

SINFRÔNIO. Há tanto tempo que a amo, que a adoro, que deliro pela sra.!..

MARIQUINHAS. Está muito poético hoje! Onde foi aprender isso? No “Mensageiro dos amantes”?

SINFRÔNIO. (dramático.) Cruel! alma de gelo!.. Vê que me consumo lentamente, horrorosamente, queimado pelas chamas abrasadas deste amor ardentíssimo, louco, fatal, imenso, e nem ao menos comove-se aos meus lamentos, às minhas suplicas, às minhas lágrimas!.. Cruel! mil vezes cruel!..

MARIQUINHAS. (resoluta.) Quer que lhe diga uma coisa?

SINFRÔNIO. Cem coisas, coração de pedra!

MARIQUINHAS. O sr. já está passando a ser aborrecido!

SINFRÔNIO. (trágico.) Oh! tempestades do céu ! oh! espíritos celestes!.. Aborrecido, eu!

MARIQUINHAS. Não é aborrecido?

SINFRÔNIO. Nunca! oh! nunca!

MARIQUINHAS. Então é ridículo!

SINFRÔNIO. Ridículo!.. Ah! “Senhor, Deus dos desgraçados! onde estás tu, Senhor Deus”!

MARIQUINHAS. Isso é roubado! Diga coisa sua.

SINFRÔNIO. Isto é meu!

MARIQUINHAS. Não é!

SINFRÔNIO. É meu! é meu! é meu!.. Ora aí tem!

MARIQUINHAS. Não é! não é! não é! Ora, aí está. Deixe-se de ser prosa. É de Castro Alves. (Outro tom.) Já lhe tenho dito cem vezes que é inútil estar a perseguir-me com as suas declarações de amor. Eu não o amei, não o amo, nem nunca hei de amá-lo. Procure outra, e não me aborreça!..

SINFRÔNIO. E por que é que não me ama?

MARIQUINHAS. Porque não quero!

SINFRÔNIO. E por que é que não quer?

MARIQUINHAS. Porque não gosto da sua cara!

SINFRÔNIO. E por que é que não gosta da minha cara?

MARIQUINHAS. Porquê... porquê... Quer que lhe diga?

SINFRÔNIO. Diga, sim, diga!

MARIQUINHAS. Porque o sr. é um tolo!

SINFRÔNIO. (recuando.) Um tolo, eu! Eu um tenente da guarda nacional!..

MARIQUINHAS. Podia até ser general! Nem por isso deixava de ter cara de tolo!

SINFRÔNIO. Ah! potestades do céu ! ah! espíritos celestes!

MARIQUINHAS. Esse pedacinho também não é seu. Já o disse duas vezes sem citar o nome do autor.

SINFRÔNIO. Ah! não me ama!.. não gosta da minha cara! diz que sou tolo!.. Eu sei porque é tudo isto!..

MARIQUINHAS. Por que é?... Pode dizer.

SINFRÔNIO. É por causa do patife do Malaquias!..

MARIQUINHAS. (espinhando-se.) Alto lá!.. O Malaquias nada lhe deve, entende?... Gosto dele, e não consinto que diga a mais pequena coisa a seu respeito!..

SINFRÔNIO. Hei de fazer-lhes as contas, deixe estar!

MARIQUINHAS. Ora, o Malaquias faz muito caso das suas contas!

SINFRÔNIO. Mas há de fazer das de seu pai, que não quer vê-lo nem pintado e que ainda há pouco me garantiu que a Sra. havia de casar comigo! Par lá vamos... para lá vamos...

MARIQUINHAS. Meu pai disse isso?

SINFRÔNIO. Disse, sim, ainda não há meia hora, aqui mesmo.

MARIQUINHAS. Pois vá se fiando nas garantias de meu pai, e não corra.

SINFRÔNIO. Como?

MARIQUINHAS. Hei de casar com o Malaquias, hei de casar, hei de casar, e hei de casar!.. E adeusinho! (Sobe e volta-se.) Tolo! tolo! tolo! (Sai pela direita.)

CENA IX

SINFRÔNIO. (trágico.) Tolo!.. Ah! inferno e céu ! anjos e demônios! Chamar-me tolo mesmo nas bochechas!.. Insultar em mim toda a denodada classe dos tenentes da guarda nacional!.. Um insulto destes não pode ficar impune!.. Ah! mas quem vai pagar-me com língua de palmo é o Malaquias!.. Hei de torcer-lhe o pescoço, como se faz a um frango!.. Ah! potestades do céu ! ah! espíritos celestes! anjos e demônios!.. Vou procurá-lo!.. (Sobe.)

CENA X

SINFRÔNIO E MALAQUIAS

MALAQUIAS. (entrando da direita.) Está decidido: a Mariquinhas é minha.

SINFRÔNIO. Uma palavra, cavalheiro.

MALAQUIAS. O que deseja?

SINFRÔNIO. Desejo que me dê uma palavra.

MALAQUIAS. Pois fale de uma vez, porque tenho pressa.

SINFRÔNIO. Quero que me explique a razão porque anda namorando a Mariquinhas.

MALAQUIAS. (avançando.) Oh! “seu” cachorro!

SINFRÔNIO. (recuando.) Não se chegue!

MALAQUIAS. Pois eu tenho que dar-lhe satisfações, “seu” patife!

SINFRÔNIO. O Sr. insulta-me!

MALAQUIAS. Quem é você para me fazer perguntas dessas?

SINFRÔNIO. Veja que sou um tenente!

MALAQUIAS. Se pensa que me assusta com os seus galões, está muito enganado!

SINFRÔNIO. Veja o que diz!.. Eu mato-o!...

MALAQUIAS. (segurando-o pela gola.) Pois mata, pulha de uma figa! mata!

SINFRÔNIO. (forcejando.) Oh! “seu” Malaquias.. largue-me... Olha que me machuca o colarinho... Estou quase sufocado... Deixe-me, pelo amor de Deus... (Toque de corneta.) Largue-me... Já está tocando chamada.

MALAQUIAS. Fica sabendo que se continuares com pretensões a mão da Mariquinhas, dou-te uma sova que te ponho em panos de vinagre!.. (Dando-lhe um pontapé.) Vai-te embora, tenente de... daquilo!..

SINFRÔNIO. (correndo para o fundo.) Atrevido! Havemos de nos encontrar! Agora não, porque vou para o exercício... mas amanhã ou em outro qualquer dia... A Mariquinhas há de ser minha mulher!

MALAQUIAS. (subindo.) Vem cá, poltrão!.. (Sinfrônio foge. — Seguindo-o, a gritar.) Pulha! pulha! pulha!

CENA XI

MARIQUINHAS. (entrando da direito.) Que barulho foi este aqui?... Pareceu-me ouvir as vozes do Malaquias e do Sinfrônio... (Pausa.) Felizmente, já desenganei aquele tolo! Mas o pancada é teimoso como um burro!.. (Rumor dentro: foguetes, vivas.) Que rumor é este?... (Reparando pela direita.) Ah! é o exercício... Apreciemos isto, que deve ser divertido. (Vai para o fundo.)

CENA XII

MARIQUINHAS, MALAQUIAS, GREGÓRIO, SINFRÔNIO, OFICIAIS

(Todos fardados. Gregório com as insígnias de tenente coronel; Sinfrônio com as de tenente; os outros com as de alferes, tenentes, capitães e majores. — Todos trazem espadas ao ombro, como se fossem espingardas. — Entram marchando sob o comando de Malaquias, que está fardado de soldado e traz um cassete à guisa de espingarda. — Todos trazem chapéus de diferentes feitios e cores, menos Gregório e Sinfrônio, que trazem bonets.)

MALAQUIAS. Alto! (Todos param. — A Gregório.) Comandante, proíba ao sr. Sinfrônio que levante tanto a cabeça em forma. Isto é ridículo!

GREGÓRIO. Mas, sr. instrutor, isto é uma prova de entusiasmo.

MALAQUIAS. Qual entusiasmo! É ridículo!

SINFRÔNIO. Ridículo!.. O termo é duro...

MALAQUIAS. Senhor tenente, guarda a viola no saco e não meta o nariz onde não é chamado.

SINFRÔNIO. Senhor Malaquias!

MALAQUIAS. Silêncio, ou prendo-o imediatamente!

GREGÓRIO. Oh! sr. instrutor, repare que o sr. Sinfrônio é um tenente.

MALAQUIAS. É um tenente que não sabe nada, e que está aqui recebendo as minhas lições, como V. S.

GREGÓRIO. Basta! basta! Já não está aqui quem falou...

SINFRÔNIO. (trágico.) Eu me contenho... porque me contenho!..

MALAQUIAS. Silêncio na fileira! Sentido! Olhar frente!

GREGÓRIO. Oh! “seu” Malaquias.

MALAQUIAS. O que deseja?

GREGÓRIO. Olhe que isso de olhar frente parece-me uma asneira.

MALAQUIAS. Por quê?

GREGÓRIO. Porque ninguém tem olhos atrás...

MALAQUIAS. Ora, comandante, que o tenente Sinfrônio dissesse essa asneira, estava no seu papel; mas o sr.!

SINFRÔNIO. O que é diz?..

MALAQUIAS. Silêncio na fileira!.. Esquerda volver! (Fazem.)

SINFRÔNIO. (volvendo a direita.) Ora, bolas!

MALAQUIAS. (zangado.) Primeira forma! primeira forma!.. (Fazem. — A Sinfrônio.) Oh! “seu” tenente, qual é a sua mão direita?

SINFRÔNIO. (mostrando.) É esta.

MALAQUIAS. E a esquerda?

SINFRÔNIO. (zangado.) Ora, pílulas!.. É esta.

MALAQUIAS. Então como é que errou a manobra?

SINFRÔNIO. Basta, sr.!

MALAQUIAS. Silêncio na fileira! Marcar passo! (Fazem.)

SINFRÔNIO. Que amolação!

GREGÓRIO. Que cacetada!

MALAQUIAS. Silêncio na fileira!.. Comandante, se tornar a abrir o bico, mando prendê-lo!

GREGÓRIO. Basta! basta! Já não está aqui quem falou!

MALAQUIAS. Esquerda volver! (Fazem.) Ordinário, marche! (Fazem.) Em frente, alto! (Fazem.) Marcar passo! (Fazem.) Meia volta, alto! (Fazem.) Acelerado, marche! (Fazem.) Alto! (Fazem.) A dois formar! (Fazem.) Direita volver! (Fazem.) Ordinário, marche! (Fazem.) Alto! (Fazem.) Meia volta! Alto! (Fazem.) Descansar!

SINFRÔNIO. (sentando-se no chão.) Vou descansar! (Cruza as pernas.)

MALAQUIAS. Oh! “seu” pandorga, então descansa sentado? (À parte.) Hei de descompor este pulha!

SINFRÔNIO. (erguendo-se.) O sr. mandou descansar, e eu, como não tinha cadeira, sentei-me no chão...

MARIQUINHAS. (ao fundo à parte.) Que tolo, meu Deus!

MALAQUIAS. Fora de forma! (Debandam, formando grupos.)

GREGÓRIO. (a Malaquias.) O que diz dos seus discípulos?

MALAQUIAS. Assim, assim... Com franqueza, tenente coronel, não são tão estúpidos como parecem...

GREGÓRIO. (rodando nos calcanhares e vendo a filha ao fundo.) Oh! filha, estavas aí?

MARIQUINHAS. (descendo.) É verdade: não pude resistir ao desejo de ver o exercício...

GREGÓRIO. E gostaste?

MARIQUINHAS. Muito. O sr. Malaquias comanda como um general. Quando todos estiverem perfeitamente ensinados, hão de apresentar-se de modo a causar pasmo.

SINFRÔNIO. (à parte, trágico.) Está elogiando o patife!.. Ah! céu  e inferno! anjos e... (Aproximando-se do grupo, secamente.) Então, gostou das manobras?

MARIQUINHAS. Gostei de todos... menos do sr.

SINFRÔNIO. Menos de mim? Por quê?..

MARIQUINHAS. Porque o sr. faz tudo ao contrário.

MALAQUIAS. (à parte.) Toma lá, pulha!

SINFRÔNIO. (levando Gregório à parte.) Comandante, exijo imediatamente o cumprimento da sua palavra.

GREGÓRIO. Que palavra, homem?

SINFRÔNIO. O meu casamento com sua filha.

GREGÓRIO. Oh! tenente... mas um matrimônio, assim, no meio da rua!... (Conversam.)

MALAQUIAS. (á Mariquinhas.) Obrigado pela lição que acaba de dar-lhe.

MARIQUINHAS. Está contente?

MALAQUIAS. A sra. é um anjo! (Conversam.)

SINFRÔNIO. Vamos, comandante, decida-se.

GREGÓRIO. Mas isto é o diabo... (Conversam.)

MALAQUIAS. (á Mariquinhas.) O que estarão eles conversando?

MARIQUINHAS. Aposto que é a meu respeito. Mas não tenha receio.

MALAQUIAS. Confio na sra.

GREGÓRIO (indo à filha.) Menina, o tenente Sinfrônio acaba de fazer-me um pedido...

MARIQUINHAS. Já sei. Pode dizer ao tenente Sinfrônio que agradeço a honra, mas que não quero casar-me com ele.

SINFRÔNIO. (à parte.)  Com o Lagartixa! (Dando um berro trágico.) Ah!

GREGÓRIO. (muito assustado, escondendo-se atrás de Malaquias.) Às armas! às armas!.. (Todos os oficiais, assustados, escondem-se uns atrás dos outros.)

MALAQUIAS. (rindo.) Não tenham medo, meus srs. Foi o tenente Sinfrônio que deu um berro!

SINFRÔNIO. (trágico.) Um berro!

GREGÓRIO. (com ares de valentão.) Eu logo vi! Tanto que não mudei de posição!

MALAQUIAS. (à parte.) Que pulhas!

GREGÓRIO. (á filha.) Mas, menina...

MARIQUINHAS. Tenho dito. Quero casar-me, e hei de casar-me com o sr. Malaquias, e já o previno, meu pai, que se quiser obrigar-me, fujo de casa.

GREGÓRIO. (benzendo-se.) Padre, Filho, Espírito Santo... (A Sinfrônio.) Está ouvindo, “seu” Sinfrônio?

SINFRÔNIO. (trágico, adiantando-se.) Fúrias do Averno, gênios maléficos das trevas, vinde em meu auxilio!.. Caia muito embora por terra essa esperança que me alimentava a alma, que me enchia o coração de chamas, que me povoava o cérebro de risonhas imagens... eu serei invulnerável como Aquiles, imortal como os deuses, para persegui-los como um flagelo eterno, como a febre amarela, como o cólera-morbo!

MARIQUINHAS. Isso é bonito, mas não é seu. (A Malaquias.) Meu noivo, aqui tem a minha mão.

MALAQUIAS. (apertando-lhe a mão.) Obrigado!

SINFRÔNIO. (trágico.) Ah! Satanás, filho da...

MALAQUIAS. Sentido! (Todos entram em forma.) Firma!.. Olhar frente!.. Direita volver! (Fazem.) Ordinário, marche! (Fazem.) Alto (Fazem.) Tirar misturadas! (Enfia o chapéu no cacete.)

TODOS. (tirando os chapéus e curvando-se, em atitude de quem cumprimenta, aos espectadores.) Boa noite! Como passaram?..

FIM