Fonte: Biblioteca Digital de Literatura de Países Lusófonos

Álbum da rapaziada, de Francisco Moniz Barreto


Texto-fonte:

PELLEGRINI, Leônidas. Álbum da rapaziada:

o humor obsceno de Francisco Moniz Barreto. Dissertação de mestrado.

Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2008.

Este livro foi copiado do exemplar pertencente ao poeta baiano Aloysio de Carvalho. A cópia é fidelíssima, guardando até a mesma numeração da edição original. O Álbum da Rapaziada é raríssimo. Nunca vi outro exemplar além do de Aloysio de Carvalho. O seu autor é o poeta repentista baiano Francisco Moniz Barreto, que o escreveu para ganhar dinheiro — o que não alcançara com seus Clássicos e Românticos, em dois volumes. Não foi impresso em Bruxelas, mas na Bahia. O autor foi denunciado e procurado pelo promotor público Antônio Eusébio Gonçalves de Almeida, parente de Rui Barbosa, notável advogado e jornalista, homem de talento, e que foi Vice-Presidente da primeira Constituinte Republicana. Fazendo depois Barreto distribuir entre conhecidos este livro, mandou a um seu um exemplar, e quem o recebeu foi uma moça de família!

Anônimo

ÁLBUM DA RAPAZIADA

___________

ERÓTICOS

FEITOS E, NA MAIOR PARTE, IMPROVISADOS

Por

B.M.F.

______

BRUXELAS

TIPOGRAFIA DE RICHARD BRENNEKE,

Rua de Saint-Pierre

1864

ÍNDICE

Introdução

Dinheiro e cono; tudo mais é nada

A um velho, que se dizia o moisés...

Ao cono da mulata, referida em nota supra

A mulata, quando fode, parece querer voar.

Na jangada da comadre

Dezoito fodas de caralho preto

Pode apalpar, pode ver,

Entre as coxas de meu bem

Foi aqui... mas ninguém viu.

Lá no quarto do vizinho

A pica ressuscita a mulher morta.

Quando a porra perde o siso,

Menina, dá-me teu sundo,

A um velho petalógico...

Eu não sei... minhas irmãs

Grossa é a goma, que vomita a porra

A uma mulher de teatro...

Se achasse peles de cono,

‘Té nos dedos do pé tesões acendem.

O frade na roça

Padre! isto não é pica;

Lá na plaga alagoana,

Levou três dias a passar caralho.

As coisinhas brasileiras

Mote.

Alusivo a um filho de hipócrates.

Alusivo a um outro filho de hipócrates.

Ao mesmo doutor...

Os segredos do caralho

Plantei amor em meu peito

Plutão

O mesmo e um fanchono

Esfrega, minha mulata,

Nem pra cima, nem pra baixo

Aos marmoteiros

Aos negreiros

Lamentações de um impotente

Bailes e sambas

Aos assinantes e compradores deste álbum

Aforismos poéticos

Quer cono

Quer pica

 

INTRODUÇÃO

Rapazes, o vosso álbum

Aqui, afinal, vos dou;

Comprai-o todos, comprai-o;

Lede-o bem, e decorai-o;

Que bem lidas me custou.

É mais útil este livro

Que gazetas de aranzéis;

Nem há coisa mais barata:

Em papel, ou cobre, ou prata —

É seu preço dois mil réis.

Com eles, deveis, rapazes,

Ao poeta responder,

Que, por falta de dinheiro,

O ano passado inteiro

Levou, triste, sem foder!

Que desgraça...! Não me veio

Nunca à idéia em tempo algum,

Que, numa terra tão rica,

A pobre da minha pica

Sofresse tanto jejum!

Não façais como os ministros,

Que à larga fodem por lá,

E a quem os serve, e se esgana,

Não dão com que na semana

Uma vez foda por cá!

Que gente sem consciência

É a que rege o país!

Cruz dela, rapaziada!

Da pátria à boa pitada

É só para o seu nariz!

Uma foda por semana

Dispensai, pra que no mês

O trovador que vos fala,

Galo velho — que inda gala,

Foda, ao menos, uma vez.

Não deixeis que se esperdicem,

Rapazes, os meus tesões;

Atendei ao meu pedido;

De tanto sêmen retido

Aliviai-me os colhões...

C’os cobres, está bem visto;

Que, sem eles, fornicar

É hoje quase impossível,

Nesta época, insensível

A quanto não é ganhar.

A vós, velhos impotentes,

Também me dirijo eu:

Valei-me este membro! — e basta

Aquilo que mais não gasta

O vosso, que já morreu.

Várias produções alheias

Leva este álbum no fim;

As mais, bonitas, ou feias,

Do estro nas marés cheias

Foram pescadas por mim.

Rapazes da minha vida!

Deferi-me a petição;

A estes meus brados roucos

Não façais ouvidos moucos,

Como do Fisco o Patrão!

Se eu for feliz nesta empresa,

Que em vós fiado, intentei —

Para obras muito pano

Tenho ainda — e cada ano

Novo álbum vos darei.

 

DINHEIRO E CONO; TUDO MAIS É NADA

(Anônimo)

SONETO

(por ocasião da luta dos partidos nas últimas eleições)

Rapazes! No foder e no trabalho

Consiste a vida, desde Adão ’té agora;

A foda os tronos, as nações escora;

É a terra um vastíssimo serralho.

Da vã grandeza o mísero espantalho,

O poder, de que o vulgo se namora;

Tudo isso, qual fumo, se evapora;

O que aproveita é só cobra e caralho.

Deixai-vos de políticas bandeiras,

Que servido, entre nós, só tem d’escada

Para treparem lesmas[1], ou toupeiras.

Trabalhai e fodei, rapaziada!

Só nos trazem delícias verdadeiras

Dinheiro e cono; tudo mais é nada.

 

A um velho, que se dizia o Moisés de uma vila, e, ao passo que empregava as noites em furtar galinhas pelos quintais dos vizinhos, repreendia e até praguejava o filho por passá-las convivendo e até putariando!

Cala essa boca, velho hipócrita safado!

Não praguejes teu filho, porque fode;

Ir da próxima ao cu só é pecado

Para quem praticá-lo já não pode.

Eu sei que, quando moço, endiabrado,

No cio eras pior que gato, ou bode:

Transformaram-te os anos em doninha,

Hoje em vez de foder, furtas galinha...

Pior que o de teu filho é teu fadário;

Deixa o rapaz foder, até que morra;

Foder é lei do Eterno[2]; do contrário,

Criando o homem, não lhe dera porra.

Aqui fode o Juiz, fode o Vigário,

Fodes tu mesmo, santarrão de borra;

Do próximo, de quem Moisés te alcunhas

Eles fodem co’a pica, e tu co’as unhas.

Mais que a foda a teu filho, há de esse vício

Perder-te, se algum dia te apanharem.

É maior para ti o precipício

Que pra ele, se as putas o arruinarem.

Mártir lhe chamarão, a ti flagício,

Os homens sérios, que um e outro encarem;

Quando a coisa pra os dois tornar-se feia,

Ele irá ao hospital, tu à cadeia.

Foderam Eva e Adão no Paraíso

Muito antes do crime cometido;

D’então ’té hoje, sem cautela e siso

Tem toda a humana geração fodido.

Para a vida o foder é tão preciso,

Quanto é o trazer o estômago nutrido;

Tua avó, tua mãe, tua consorte,

Foderam, sem reserva, até a morte.

Ralhas por ver teu filho amancebado,

E ele de casar foge discreto,

Temendo corno ser aperreado,

Como foste, e viver sempre inquieto.

Alguns na fronte o estigma estampado

Têm do traído conjugal afeto:

Pensa, pois, muita gente — e com razão —

Que antes ser putanheiro que cabrão.

Teu filho passa o tempo, um bem gozando;

Tu estragas o teu, um mal fazendo;

Ele as cricas, que encontra, vai chupando,

Tua as aves, que furtas, vais comendo.

Por ele estão as fêmeas suspirando,

Sobre ti maldições estão chovendo...

Quando na vida a parca te dê cabo,

No inferno Satanás há de ir-te ao rabo[3].

 

AO CONO DA MULATA, REFERIDA EM NOTA SUPRA

SONETO

É um prodígio da natura o cono

Da mulata gentil, que amei primeiro;

Durmo, dele fazendo um travesseiro,

Depois de o fornicar, bem largo sono.

É maior do que a testa do seu dono[4],

Da mão do meu discíp’lo o parrameiro;

Não invejo, trepado nesse outeiro,

Do Papa a mitra, de Alexandre o trono.

Que pena é que eu, ainda rapazinho,

Não tenha bem refeito este caralho,

E grande, como tem o meu vizinho[5]!

Que bigorna, Vulcano, pra o teu malho!

Que cono não perdeste, Frei Martinho,

Herói de Lísia no sem-par vergalho!

 

A MULATA, QUANDO FODE, PARECE QUERER VOAR.

De J.A.F.R.

Se é das de buço, ou bigode,

E cor bem agarapada,

Mais se torna endiabrada

A mulata, quando fode.

À ponta da lança acode

Com ardideza sem par;

E, depois de se espetar

Toda nela, em doce fúria,

Como águia de luxúria,

Parece querer voar.

Abrasa, agita, sacode

O vivente pelos ares,

De Vênus nos crespos mares,

A mulata, quando fode.

Por baixo, ou por cima rode

Da porra, nesse rodar,

Mal — que na base do altar

Sente bater-lhe os colhões,

Fazendo deles balões,

Parece querer voar.

Só a mulata um pagode

Completo of’rece ao caralho;

É princesa de serralho

A mulata, quando fode.

Branca, ou negra, não a pode

No rebolado igualar;

Quando, ardente, a se esporrar

A mulata principia,

Na asas da putaria

Parece querer voar.

 

NA JANGADA DA COMADRE[6]

F.C.J.

Gordo, dentão, inda vivo,

Mandado pelo compadre,

Tocou-me na pescaria,

Na jangada da comadre.

Contra mim embora o mundo

Todo se conspire e ladre;

Andarei de anzol e isca

Na jangada da comadre.

Bem metido por um rio,

Cujo fundo chamam madre,

Feliz quem vive pescando

Na jangada da comadre.

Que me importa que o meu gosto

A certa gente não quadre?

Serei pescador constante

Na jangada da comadre.

Se de Roma aqui viesse

Pio Nono, o Santo Padre,

Também pescara o seu peixe

Na jangada da comadre.

 

DEZOITO FODAS DE CARALHO PRETO

De M. Card.

SONETO

Em sessão putanheira a Carrasqueza[7]

Começa da fodança o expediente,

E a fêmea, que se julgue mais valente

Chama de Vênus à tribuna a Mesa[8].

Ufana, ei-la se of’rece a cabra Andreza,

Prometendo foder com toda a gente;

Trava-se a doce em continente,

E nela a cabra mostra-se princesa.

Cada um da membruda companhia

Arma o caralho, que parece espeto,

E no cono da heróica Andreza o enfia...

Fodendo, a cabra faz mais que um soneto;

Pois leva a eito, numa e noutra via,

Dezoito fodas de caralho preto.

 

PODE APALPAR, PODE VER,

DAS COXAS BEM PODE USAR;

POR FORA QUANTO QUISER

DENTRO NÃO; QUE HEI DE GRITAR.[9]

(Diálogo entre um estudante e uma donzela)

Estud. — Que duro é seu coração

Iaiá! Afaste esse pejo;

A menos, onde eu desejo,

Consinta-me por a mão.

Donz. — Ah! Que é muito pedinchão!

Já não o posso sofrer...

Depois de tanto querer,

Quer o tabaco também!

Pois tome-o lá, aí o tem;

Pode apalpar, pode ver.

Estud. — Iaiá, eu morro... Ó, que ninho

Tão macio e tão chibante!

Deixe nele um só instante

Meter o meu passarinho;

Eu meto devagarinho...

Donz. — Não, não posso concordar;

Isso... só quando casar:

Antes desse sacramento,

Para seu divertimento,

Das coxas bem pode usar.

Estud. — Bem, minha vida... Ó que ternas

Sensações eu vou sentindo!

Iaiá, ’stou quase me vindo...

Abra , meu amor, as pernas!

Donz. — É contra as lições maternas;

Pecarei se tal fizer;

A barriga, se vier,

Há de custar-me pancada;

Já disse: por dentro nada,

Por fora quanto quiser.

Estud. — Iaiá, somente a pontinha

Deixe meter; que com jeito

Será o brinquedo feito,

Sem risco seu, minha vida!

Donz. — Mas que ponta? A da lingüinha?

Meta e chupe a se fartar;

Beije, sim de amor o altar;

Encoste nele o seu rosto;

Por fora brinque a seu gosto;

Dentro não; que hei de gritar.

 

ENTRE AS COXAS DE MEU BEM

SUSTENTEI MEU PASARINHO.[10]

Sempre à lembrança me vem,

A par de angústias saudosas,

Horas que tive, ditosas,

Entre as coxas de meu Bem,

Sem que nos visse ninguém,

Quais aves no brando ninho,

Fruindo quanto carinho

A terna paixão inventa,

Do pomo, que amor sustenta,

Sustentei meu passarinho.

Não invejava o que tem

D’ouro abastada porção,

Gemendo em doce prisão,

Entre as coxas de meu Bem.

Ora um mimo... ora um desdém...

Preso o meu ao seu corpinho...

Turva a vista, a face acesa...

No maná da natureza

Sustentei meu passarinho.

 

FOI AQUI... MAS NINGUÉM VIU.

F.C.J.

Depois de esgotar a taça

De Baco, com todo o ardor,

Para libar na de Amor,

Eu abraço-a; ela me abraça.

Por sobre nós esvoaça

O deus, que nos pressentiu...

Ela em delíquio caiu...

Eu desmaiado fiquei...

Ela gostou... eu gostei...

Foi aqui... mas ninguém viu.

 

LÁ NO QUARTO DO VIZINHO

ENCONTREI UM VIOLÃO!

Idem.

Depois de chupar de vinho,

Um pinga larga e rica,

Fui dar de comer à pica,

Lá no quarto do vizinho.

De Vênus no aberto ninho

Penetrei com viração...

Mas, em vez de — por brasão —

Ali encontrar um corno,

Dependurado de um torno,

Encontrei um violão!

 

A PICA RESSUSCITA A MULHER MORTA.

M.A.B.

SONETO

A pica o instrumento é que no mundo

Mais milagres tem feito e mais proezas[11];

A pica o melhor traste é das belezas,

Mal — que começa a lhes coçar o sundo.

A pica é o cão, que avança furibundo

A plebéias, fidalgas, e princesas;

A pica em chamas Tróia pôs acesas,

E a Dido fez descer do Urco ao fundo.

É a pica — carnal, possante espada,

Que o mundo, perfurante, emenda, entorta,

E tudo vence, como bem lhe agrada.

A pica, ora é calmante, ora conforta;

Sendo em dose alopática[12] aplicada,

A pica ressuscita a mulher morta.

 

QUANDO A PORRA PERDE O SISO,

NÃO GUARDA CONTEMPLAÇÃO.[13]

Fraqueia o melhor juízo,

Quando perto cheira a cono;

Ninguém da vontade é dono,

Quando a porra perde o siso.

Homens castos, é preciso

Evitar a ocasião!

Entre as pernas um leão

Tendes, que, quando se assanha,

E investe, à presa que apanha,

Não guarda contemplação.

Qual a Mãe[14] no paraíso,

O homem, também tentado,

Não se lembra do pecado,

Quando a porra perde o siso.

Não há risco, ou prejuízo,

Que o faça recuar — não;

Instigado do tesão...

Adeus, minhas encomendas!

Não se importa de contendas,

Não guarda contemplação.

O peito mais puro e liso

Se atola em venéreos lodos;

Peca o Papa, pecam todos,

Quando a porra perde o siso.

Da luxúria ao mago riso

Cala-se e foge a razão...

A porra é danado cão;

Ninguém com ela se meta;

Quando se enfeza, e vê greta,

Não guarda contemplação.

Não há ninguém, que, indeciso,

Deixe de avançar à brecha,

Quando se lhe ascende a mecha,

Quando a porra perde o siso.

Ela, em Vulcano, ou Narciso,

Em devasso, ou santarrão,

É espada de Roldão,

Que, quando o ardor se lhe apura,

Escala, fura e perfura,

Não guarda contemplação.

 

MENINA, DÁ-ME TEU SUNDO,

QUE EU TE DAREI MINHA PICA;

CHUPA TU A MINHA PORRA,

QUE EU CHUPAREI TUA CRICA.[15]

J.E.C.

Agora que sós estamos,

Em completa liberdade,

De fartar nossa vontade

Os momentos não percamos;

Nossas almas desprendamos

Desse acanho pudibundo;

O melhor que tem do mundo

Saboreemos sem medo;

De amor comece o brinquedo...

Menina, dá-me teu sundo.

Entre soluços te pede

Este membro que lhe acudas;

Do triste às expressões mudas,

Meu bem, sem demora cede!

Teu coração se embebede

No licor, que já lambica;

Com teu negrinho debica

Do céu o melhor manjar;

Anda; vem-me o cono dar,

Que eu te darei minha pica.

Que câmbio tão excelente!

Que comércio tão gostoso!

Bocado tão saboroso

Nenhum outro engole a gente!

Abriga o teu padecente,

Antes que entre ânsias morra;

Deixa que em teu vaso escorra

Veneno, de que está cheio,

E, para maior enleio,

Chupa tu a minha porra.

A teu arbítrio a postura

Fique; que eu me satisfaço;

Pega e vê; não sou escasso

Em comprimento e grossura;

Dura, e cada vez mais dura,

Dar-te-á gosto esta pica;

E porque este trono à bica

Mais se ajuste e fortaleça,

Mama-lhe tu na cabeça,

Que eu chuparei tua crica[16].

 

A um velho petalógico, que na porta d’Alfândega asseverou um dia, que uma das galinhas do seu quintal se havia de repente metamorfoseado em galo![17]

SONETO

Ouçam lá um fenômeno! Contá-lo

Bem o posso, que o vi na casa minha:

Mãe de basta ninhada, uma galinha,

Depois que fora, transformou-se em galo.

Bem sabem que não minto: acreditá-lo

Devem portanto. Ora a ave já não tinha

De fêmea visto algum; e na coisinha

Vê-la as outras montar — era um regalo.

Se as galava não sei; mas sei — que ousado

E mui bonito galo era no todo...

Ó! De vê-lo ainda hoje ando pasmado!

Receio (e este receio me põe doudo)

Que, tendo as damas da galinha o fado,

Possam vir-me a foder as que ora fodo[18].

 

EU NÃO SEI... MINHAS IRMÃS

SÓ NAS PREGAS LEVAM DOZE[19].

(Diálogo entre um lojista e um cavalheiro)

Lojista — Meu senhor, moças mais chãs

De casa levam dez varas:

Quantas quer pra manas caras?

Cavalheiro — Eu não sei... minhas irmãs...

Lojista — Se são magras como rãs[20]...

Cavalheiro — Não há, quem dizê-lo ouse...

Lojista — Bem; então leve quatorze;

Cavalheiro — Acho pouco para elas;

As minhas maninhas belas

Só nas pregas levam doze.

 

GROSSA É A GOMA, QUE VOMITA A PORRA

J.P.B.

SONETO

(Diálogo entre mãe e filha)

Dizia uma tarasca endiabrada

À filha (coitadinha) inda inocente:

“Ora pois! Quero ver-te em continente

C’o português da venda amancebada.”

— Mamãe! Isso é fazer-me desgraçada;

Eu quero me casar... “Com quem, demente?”

— Com aquele rapaz, que mora em frente...

“Isso é um pobretão, excomungada.”

“Quero, e já, que te metas c’o maroto,

Pra ficar do que lhe devo forra;”

— Mas, mamãe, minha honra...? E o Canhoto...?

“Qual honra, qual Canhoto; história, borra!”

“E de mais, pra grudar o virgo roto,

Grossa é a goma, que vomita a porra.”[21]

 

A uma mulher de teatro, muito feia, que usava de cabeleira, e que fornicava desencadernadamente.

JÁ NÃO TEM PREGAS NO CU;

PASSARAM TODAS PRA CARA!

M.G.C.

De assalto de nervo cru

Nas duas vias — o mono

Já traz arrombado o cono,

Já não tem pregas no cu.

Ao crânio, de pelo nu,

Francesa peruca ampara...

E as pregas? Ó, coisa rara!

Ouçam, rapazes! As pregas,

Co’a velhice e co’as esfregas,

Passaram todas pra cara!

 

SE ACHASSE PELES DE CONO,

DELAS FARIA UMAS BOTAS.

C.G.M.F.

Se um dia eu subisse a um trono,

Sem me importar de ouropeles,

O forraria de peles,

Se achasse peles no cono.

Do meu reino o mor fanchono

Despelaria as marmotas;

E de negras e cabrotas

Peles tirando aos conaços,

Para andar pelos meus paços,

Delas faria umas botas.

 

TÉ NOS DEDOS DO PÉ TESÕES ACENDEM. [22]

SONETO

Por mais bela que seja no pecado,

Mulher não amo, que se diz do mundo;

À vista, às bordas do comprado sundo

Muita vez o tesão me tem faltado.

Só me inflamam mulheres, cujo agrado

Vem de um sentir poético e profundo;

Mulheres, que não são de um cono imundo,

Onde centos de canos te vazado.

A elas, sim, me entrego todo inteiro;

A elas, que, briosas, jamais vendem

Beijos, abraços, fodas por dinheiro.

Seus olhos, que, de amor, todo me rendem,

Num lânguido requebro feiticeiro,

Té nos dedos dos pés tesões acendem.

 

O FRADE NA ROÇA

POEMETO

De nédia pança, cachaço largo,

Andava lá por fora um Franciscano[23];

De esmoleiro exercendo o santo cargo,

Passeava e fodia todo ano.

Nunca da sorte exp’rimentara o amargo

Fel o Cupido de Capuz, magano;

Quanto mais fornicava e mais pedia,

Mais o cachaço, a pança lhe crescia.

Onde quer que lhe davam agasalho,

E achava o fradalhão ensejo e brecha,

Fazendo ia conquistas de caralho,

Para as quais tinha sempre acesa a mecha.

“Meu deus (ele dizia) é o meu vergalho;

De ladrão e fodaz lucro co’a pecha;

Sou mais que um Papa-Rei, tendo a mingola

Sempre pronta, e dinheiro na sacola.”[24]

Herói de mil façanhas putanheiras

Era o frade, por todos proclamado;

De rapazes dezenas de traseiras

Tinha co’a voraz porra varejado.

Já, do Reverendíssimo, as parteiras

Haviam muitos filhos aparado;

Afora — do adultério alguns nascidos,

Que corriam por conta dos maridos.

Do Enéas de coroa era um donato

Fidelíssimo Achates, que ligeiro

Nos telhados trepava como um gato,

Como um bode subia pelo outeiro;

Tinha faro de cão, e pelo mato

Não lhe escapava cono nem dinheiro;

Era de mão furada o tal fradinho,

E, no membro, bom neto de Martinho.

Horrorizava ouvirem-se as palestras

Daquelas duas almas tão amigas!

“Arranja-te co’as mães, que já são mestras,

Que eu irei ensinando as raparigas;”

Dizia Frei Tomás.[25] “Olha — às mais destras

E mais largas — convêm grandes espigas;

E a tua, meu rapaz, é um portento,

Pouco visto, em grossura e comprimento.

Fode, meu filho, sim, fode as matronas,

Que eu cá vou debicando nas meninas;

Acredita que há fêmeas quarentonas,

Que na arte da foda são divinas.

Eu já me pus em trinta de caponas,

Que eram umas Vênus peregrinas!

Mas galo já não sou para galinhas;

Hoje só poderei galar franginhas.”

O esperto do donato compr’endia

A fundo a lábia do provecto irmão;

Mas — sim — a tudo, humilde, respondia

Para ter nas esmolas bom quinhão.

Entanto, do pecado na folia,

Ia, a rir-se do velho, astuto cão,

Fodendo por diante e por detrás

A quantas fornicava Frei Tomás.

Esta, a todas as manhas de um mau frade

Unido a de afetada continência,

Singeleza, candura, e santidade

De monge dado a Deus e à penitência,

Por onde percorria, achava grade,

E pasto à vil, brutal concupiscência,

Ovelhinha papando em todo aprisco,

À fiúza de esmola a São Francisco.

Um dia, enfim, chegando em certa roça

O frade e seu acólito dileto,

Vão à porta bater da humilde choça,

Cujo dono os acolhe com afeto.

Este, a mulher chamando, ainda moça,

E a filha, que de um anjo tinha o aspecto,

Diz-lhes que beijam, em fé viva ardendo,

A manga e o cordão do Reverendo;

E, como quem ao próximo bem ama,

E todo do senhor na lei se abrasa,

Manda que para os dois vão mesa e cama

Preparar, do melhor que houver em casa.

Já em lascívia o Frei Tomás se inflama,

Esperando no jogo fazer vasa;

E vendo ali segura boa isca,

Para ele o donato o olho pisca.

Veia a ceia; e os filhos dois bastardos

De Assis[26] à larga, e sem parar, comeram,

Como outrora comiam os Bernardos,

Que de parvos co’a fama o mundo encheram.

Depois da refeição, com passos tardos,

Ao quarto de dormir se recolheram:

Ali, ora do bom roceiro riam,

Ora à mulher e à filha o laço urdiam.

Logo ao alvorecer, com humildade,

O roceiro, que mal nenhum presume,

Vai ter com Sua Santa Caridade,

Para dar-lhe os bons dias do costume.

Este, assumindo o ar de gravidade,

Com que sói disfarçar d’alma o negrume,

Lhe diz: “Na paz de Deus, meu filho, seja

Para amparo dos pobres e da igreja!

Mas o que é isto? Em trajes de jornada

O vejo? Aonde vai?” — “Cuidar da vida,

Padre-mestre; mas isso não tem nada,

Co’a hospedagem que lhe é devida;

Fica minha mulher sua criada,

De fazer minhas vezes incumbida;

E espero em sua grande diligência

Que nada falte à Vossa Reverência.”

“Mas... quando volta?” — “À noite.” — “Bem; não tarde

Que à noite sempre há riscos no caminho...

Deus, meu bom filho, o acompanhe e guarde;

Que eu por cá guardarei este seu ninho.”

“Trago de santo lenho o meu bentinho;

Sou firme no perigo, qual rochedo;

De ofender ao Senhor só tenho medo.”

Despediu-se o roceiro; e, de contentes,

Por vê-lo pelas costas, já pulavam

As duas de burel negras serpentes,

Que a dar ao ímpio assalto se aprontavam.

Entanto para o almoço as inocentes

Vítimas imolandas os chamavam.

O nome, de família, da menina

Era Anica, e o na mãe dizem que Alcina.

Tomou assento ao lado da caseira

O donato, e o frade co’a donzela

Repimpou-se da mesa à cabeceira,

Ficando com o joelho unido ao dela.

Três garrafas de vinho de Madeira,

Que ao Padre Guardião furtou de cela,

Vai tirar o donato do seu saco,

E traz, para que ajude a Vênus Baco.

“Bebam (diz Frei Tomás) bebam, senhoras,

Que é o sangue de Cristo que nos cura

Dessas ruins tendências pecadoras,

Que têm perdido a tanta criatura.

Nestas gotas de néctar salvadoras

Afoga-se o demônio, a desventura;

Quem quiser para o Céu ir direitinho,

Deve sempre no almoço beber vinho.”

As coitadas a pílula engoliram,

E do santo elixir copos viraram;

E mal que à rédea solta os dois as viram,

Para um passeio no campo as convidaram;

Ao convite as incautas anuíram,

E com eles no mato se internaram;

Por um lado o donato com Alcina,

E pelo outro o frade co’a menina.

Deixemos o donato co’a matrona;

Que essa bem pouco resistiu à foda;

Ou por já conhecê-la; ou porque a mona

Mais a cabeça lhe pusesse à roda.

Vamos ao Frei Tomás, que uma tapona

Levou, ao intentar do virgo a poda;

Que a menina, apesar de escandecida,

Desconfiou da graça da investida.

Qual galo, que campeia no terreiro,

Com bico a franga, que lhe foge, amima,

Assim co’as mãos o frade putanheiro

Ameiga a ninfa, e se lhe trepa em cima;

Ela, vendo já perto do mijeiro[27]

A dura espada da venérea esgrima:

“Jesus! Que é isto?!” — Diz; “Cala-te, Anica!

(Resmunga Frei Tomás) é pica, é pica.”

“Pica?! Que coisa feia! Vá-se embora,

Senão eu grito por mamãe, que venha;

Que você quer matar-me nesta hora,

Dentre as pernas tirando um pau de lenha...”

“Que pau, menina! É nervo, que se arvora

Para lhe dar prazer; medo não tenha;

É contra olhados milagrosa figa;

É de milho do Céu gostosa espiga.”

“Qual milho! Vosmicê está me enganando...”

“Não, não; se quer saber o que é doçura.

Este gomo de cana vá chupando;

Que no Céu lhe dará glória segura.”

Já pelo verde cono, a custo, entrando,

O fradesco instrumento o virgo fura...

O grito, que a donzela então soltara,

Inda o eco repete, que o escutara!

Passada a sensação desagradável,

Começou a fodida, já se vindo,

A fruir esse gosto inexplicável,

Que só é pena que não seja infindo.

Deposto o pejo,a tabaroa amável,

Já desta, com os quadris is bolindo,

O frade, luxurioso, dando o urro

De prazer, esporrou-se como um burro.

Ouve-o o pai da vítima, que vinha

Mais cedo para os lares; e, inspirado,

Ao lugar do ruído se encaminha;

Olha.. Vê...[28] E recua de assombrado!

A uma rocha encosta-se, vizinha...

E, na filha se vendo desonrado,

Não ficou homem, não; mas mudo e quedo,

E junto de um penedo outro penedo.[29]

Tornado a si, a cólera modera,

E jura se vingar do ímpio e ingrato,

Dirigindo-se à casa, onde já era

De volta a dona com o sagaz donato;

Para do claustro a hórrida pantera

Não encarar então, com os dois trato

Evita, recolhendo-se ao aposento

Co’a vingança no peito e pensamento.

Disse à mulher que, quando regressasse

Frei Tomás do passeio co’a inocente,

Com ele muito e muito desculpasse

De não lhe aparecer, por vir doente.

Depois, sem que ninguém o suspeitasse,

Alta noite saiu, e um seu parente

Chamando e os três escravos seus possantes,

Ao quarto vão bater dos dois tratantes.

Abre-lhe a porta Frei Tomás em fralda,

Nela ainda mostrando mal enxuta

Do membro a grossa, derramada calda,

Vestígio certo de amorosa luta;

E, como contas de honra, às vezes, salda

A gente que nas Cortes se diz bruta,

Trata o roceiro de ajustar a sua

Com o Frade, e depois pô-lo na rua.

“Então, gostou meu padre, do marisco,

Com que foi lá na moita regalar-se?”

(Diz-lhe) “Pois chuche agora outro petisco,

Que a rufiões aqui é uso dar-se...”

 “Perdão, Senhor! Perdão por São Francisco!

(Exclama o frade, trêmulo, a mijar-se)

Não fui eu; o donato foi a origem

Daquela diabólica vertigem.”

“É mentira, pergunte-o à sua esposa”

(Pronto o donato, a se vazar, acode);

“Este frade é pior do que raposa;

A quanta moça encontra, avança e fode.

Eu cá, por onde ando, jamais coisa

Faço, que ao meu bom próximo incomode...”

Alcina, que, espreitando, o tinha ouvido,

Grita à porta: “É verdade, meu marido!”

Como a um porco, ao devasso Franciscano

De pés e mãos, ligeiros, amarravam

Os quatro atletas, com furor insano,

E, para não mexer-se, o seguravam;

Isto feito, o roceiro pouco humano,

Cujos olhos, de ira, chamejavam,

Depois de o açoitar com tiririca,

A golpe de facão cortou-lhe a pica[30].

Pena de surra e porra decepada

O donato, talvez, também sofresse,

Se em seu favor falando a espevitada,

A cúmplice gentil não no valesse.

Mas, enfim, como parte na tratada

O ofendido entendeu que ele tivesse,

Deu-lhe, depois de ensangüentar-lhes as ventas,

Um clister de onze dúzias de pimentas

A ele e ao seu patrão, que do acidente,

Voltou, que o cérceo membro lhe causara,

Furiosos o roceiro, em continente,

Depois de muito lhes cuspir na cara,

Expeliu de seu prédio, que insolente

E cínico esse par enxovalhara;

Jurando nunca mais dar agasalho,

Quem quer que fosse, a bicho de caralho[31].

Assim, viu-se o roceiro despicado,

E também frei Tomás[32], que quase morre...

Que ao claustro recolheu-se amargurado[33],

E ali pouco durou, por certo corre.

O fato verdadeiro, aqui narrado,

Jamais o povo da memória borre,

Para que andem todos de atalaia,

Quando virem burel junto de saia.

 

PADRE! ISTO NÃO É PICA;

É DA COSTA MENDUBI.[34]

Puta de folhuda crica,

A um padre, que morto é já,

Disse: “Ora vá-se pra lá,

Padre! Isto não é pica.”

- Que hei de fazer, minha rica!

Ele exclama: - assim nasci!

“Pois morra, meu caro; aqui

Só tem entrada vergalho;

Isto não; não é caralho;

É da Costa mendubi.”

 

LÁ NA PLAGA ALAGOANA,

QUANDO LÉLIO ERA OUVIDOR,

TEMPERAVA A NATUREZA

CONOS COM ÁGUA DE FLOR.

Conos grandes e pequenos,

Conos fêmeas, conos machos,

Em corpos altos, ou ba’xos,,

Mais alvos, ou mais morenos;

Conos com mais racha ou menos,

Tem toda a plaga mundana;

Mas conos, que tanta gana

Desafiem de foder,

Só podem achar-se e ver

Lá na plaga alagoana.

Não sei, se hoje é assim;

Se há conos tão saborosos,

Ou se tempos desditosos

A tais conos deram fim;

Porém, segundo o que a mim

Relataram com furor,

E certo Padre, e Inspetor

De queixo caído ouviam,

Conos raros lá se viam,

Quando Lélio era ouvidor.

Esses conos sempre davam

Ao caralho estrada enxuta;

Inda da foda na luta,

Inda suando,cheiravam;

Té do velho restauravam

No bambo membro a rijeza[35];

Neles com suma limpeza,

Para regalo das picas,

As iguarias mais ricas

Temperava a natureza.

Pareciam de encomenda

Conos vindos lá de cima,

Quer da fodança na esgrima,

Quer dos chupões na contenda;

Tinham cricas como renda,

Conos de tanto primor;

Conos que à Deusa do amor

Podiam servir de enfeite;

Conos como arroz de leite;

Conos como água de flor[36].

 

LEVOU TRÊS DIAS A PASSAR CARALHO.

Bocage

SONETO

Era uma vez — moçoila de espavento,

De furor uterino incendiada,

Dava fodas e fodas de enfiada,

E houve dias de gramar um cento.

Velho, moço, taful, negro bichento,

Tudo servia à meretriz danada;

Não comendo e dormindo quase nada,

Era pica e mais pica o seu sustento.

Tanto e tanto fodeu; que se assegura

Que, quando desfechou-lhe o rijo talho

Crua foice de morte prematura[37],

Dos que o cono puseram-lhe em frangalho,

Seu corpo acompanhando à sepultura,

Levou três dias a passar caralho.

 

AS COISINHAS BRASILEIRAS

SÃO SEMPRE MAIS SABOROSAS.

F.J.C.R.

Eu das coisas estrangeiras

Não desgosto; mas prefiro

Coisinhas, por que deliro,

As coisinhas brasileiras.

Do Brasil as quituteiras

São mais limpas, mais mimosas;

As comidas, que, dengosas,

Preparam com tanto esmero,

Têm sempre melhor tempero,

São sempre mais saborosas.

Não me influem cabeleiras,

Por moças da Europa usadas;

Amo as coisinhas rapadas,

As coisinhas brasileiras.

Estas, com suas bandeiras,

Rubras, ou roxas, que rosas,

Ou lírios fingem, formosas,

Sabem melhor arreitar;

Do caralho ao paladar

São sempre mais saborosas.

 

MOTE.

 

ALUSIVO A UM FILHO DE HIPÓCRATES.

ESTE HOMEM TEM FEITIÇO;

É QUENTE COMO O DIABO.

Quando Jônio no cortiço

De Vênus entra chibante,

Diz a mãe da bela amante:

Este homem tem feitiço.

É verdade; estou por isso;

É dos fodazes o cabo;

(Diz a filha) e quado ao rabo,

Minha mãe, ele me vai,

Mesmo a um frade sobressai,

É quente como o diabo.

Sobre favas um chouriço

Tem este homem que espanta;

Seu modo cativa, encanta;

Este homem tem feitiço.

Um traste, assim tão roliço,

Tão comprido e grosso nabo,

O Gomes, segundo acabo

De ouvir, tem também, e duro;

Mais que lanceta, é no furo;

É quente como o diabo[38].

 

ALUSIVO A UM OUTRO FILHO DE HIPÓCRATES.

O DOUTOR, FRACO, IMPOTENTE,

COMO PODERÁ FODER?

Para iludir o inocente,

Que tem moça, que dá isca,

Faz-se, quando mais petisca,

O Doutor, fraco, impotente.

Entretanto mui valente

E picudo dizem ser:

A mulher, que, com prazer,

Lhe chupar a caralhada,

Com pica menos salgada

Como poderá foder?

 

AO MESMO DOUTOR, RESPONDENDO ELE EM UMA COLCHEIA TAMBÉM, EM QUE DAVA O AUTOR POR NEGREIRO.

Tu das crioulas o rabo

É que esfregas, meu Galeno;

És tu, que nunca sereno

Deixas pousar esse nabo;

És tu, que, como um diabo,

Fodes Joanas, Maricas;

És tu, que devoras cricas;

És tu, que come punhetas;

É tua pica, que às gretas

Vale por dúzias de picas[39].

 

OS SEGREDOS DO CARALHO

NINGUÉM OS SABE ENTENDER:

ALEGRE QUANDO TEM FOME,

TRISTE DEPOIS DE COMER! [40]

No seu crescer e minguar,

No seu tédio, em seus folguedos,

Tem o caralho segredos,

Que a todos fazem cismar.

Mil enigmas decifrar

Dos homens pode o trabalho;

Mas nem mestra de serralho,

Nem de barregãs rainha,

Nem mesmo o cono adivinha

Os segredos do caralho.

Cabeça e corpo só tem

Este fenômeno raro;

Não tem nariz, mas tem faro;

Não tem olhos, mas vê bem;

Sempre vômitos lhe vêm

Depois do estômago encher;

Tudo isto, e mais não morder,

Tendo de cobra o feitio,

São pontos de oculto fio,

Ninguém os sabe entender.

Dizem provectos varões,

De saber vasto e profundo,

Que tais mistérios ao mundo

Se encerraram nos colhões.

Porém, nas cogitações

Nossas, o que mais consome,

É ver, como, quando come,

Murcha, e se entristece a pica,

E como viceja, e fica

Alegre quando tem fome.

Prometeu Vênus um dia

Um prêmio a quem explicasse

Este segredo, e o mandasse

Das putas à academia;

Mas té hoje à putaria

Ninguém o soube dizer;

E o caralho, esse poder,

Que a tudo avassala e prostra,

Com fome — alegre se mostra,

Triste — depois de comer.

 

PLANTEI AMOR EM MEU PEITO

PENSANDO QUE NÃO PEGASSE. [41]

Alguém, sem razão, defeito

Acha em você, meu Sagüim;

Mas eu, por você, por mim,

Plantei amor em meu peito.

E quer você que desfeito

Em prantos eu sempre passe?!

Condena que lhe arrumasse

Do mundo a coisa mais rica?

Perdõe-me; eu lhe dei a pica,

Pensando que não pegasse. [42]

 

PLUTÃO

 (A um sacana mor, que entrou no inferno)

SONETO

Vem cá, puto de merda, sem vergonha,

De que enfim, viu-se o mundo aliviado!

Eu mesmo, de te olhar, horrorizado,

Não sei, para punir-te, onde te ponha.

Trazes ainda de viril peçonha

Suja a destra, e o roto cu babado!

Inimigo dos conos! Desgraçado!

Escuta a pena, que vais ter, medonha.

Co’a tua infame profissão nociva

De muitas almas me roubaste o gozo,

E a posse que da cópula deriva...

Pois bem: para castigo teu penoso,

Co’a mão aberta sempre em chaga viva,

Irás pívias fazer ao cão tinhoso[43].

 

O MESMO E UM FANCHONO

SONETO

Plutão - O que busca por cá, senhor fanchono?

Acaso de algum puto vem ao cheiro?

Ou também quer comer-me, sô brejeiro,

A mim que sou desta morada o dono?

Fanch - Não senhor; venho aqui dormir meu sono...

Plutão - O quê? Dormir, patife?! Travesseiro

E colchão dar-te-ei, mas num braseiro,

Que é a cama dos réus de leso-cono[44].

Leva daqui, Megera[45], este birbante;

Tu e as tuas irmãs, com fúria brava,

Pena lhe inflijam, que ao meu reino espante:

Na boca, que mulheres não beijava,

Mijem-lhe todas três, de instante a instante,

De chumbo derretido ardente lava[46].

 

ESFREGA, MINHA MULATA,

A PRIMA DESTA VIOLA.

(Dado por J.R., como estribilho para uma chula)

Acoites de disciplina

Merece o herege, ou patola,

Que à mulata não se inclina

Desde menino d’escola.

Esfrega, minha mulata,

A prima desta viola.

Quem a mulata não ama,

Perdida traz a cachola;

Só a mulata na cama

Bem se agita e bem rebola.

Esfrega, minha mulata,

A prima desta viola.

De camisa de cambraia,

De fina renda na gola,

Mulata, forra ou lacaia,

Faz à roda andar à bola.

Esfrega, minha multa,

A prima desta viola.

Deve à cadeia, à tábua,

Ser mandado o mariola,

Que deixa a mulata, e sua[47]

Por negra gêge, ou angola.

Esfrega, minha mulata,

A prima desta viola.

A peso d’ouro ou de prata,

Ou de graça, ou por esmola,

No rebolo da mulata

Feliz quem seu ferro amola!

Esfrega, minha mulata,

A prima desta viola.

Excomungue o Papa a tudo,

Que de calça, ou camisola,

Não vai meter seu bicudo

Da mulata na gaiola.

Esfrega, minha mulata,

A prima desta viola.

Procuram, grandes, pequenos,

Quando o tesão mais se empola,

Para os quitutes de Vênus

Da mulata a caçarola.

Esfrega, minha mulata,

A prima desta viola.

Quando da mulata a crica

Pelo caralho se enrola,

Teso no cono ele fica,

Qual defunto em padiola.

Esfrega, minha mulata,

A prima desta viola.

Maldito, quem da punheta

Ao torpe vício se imola,

E da mulata na greta

Todo inteiro não se atola.

Esfrega, minha mulata,

A prima desta viola.

Homem, que a cor de canela

Não ama, é feito de sola;

Das cores todas, só ela

Bem enverniza a mingola.

Esfrega, minha mulata,

A prima desta viola.

Da putaria a rainha,

Do tesão primeira mola,

Trepa-te em mim, mulatinha!

Rebola, meu bem! Rebola!

Esfrega, minha mulata,

A prima desta viola.

 

NEM PRA CIMA, NEM PRA BAIXO

J.C.F.

A respeito do tesão

No mesmo ponto me acho;

A minha pica não anda,

Nem pra cima, nem pra baixo.

Não há luxúria possível,

Nem se pode ser bom macho

Com mulher que não rebola

Nem pra cima, nem pra baixo.

À vezes, quando esta porra

Das cricas não topa um cacho,

Se arrefece, e não se move,

Nem pra cima, nem pra baixo.

Com fêmea de lasso cono,

E aguado como riacho,

O caralho não se altera,

Nem pra cima, nem pra baixo.

Por melhor que seja o membro

Do homem que está borracho,

Tolo fica, e não caminha,

Nem pra cima, nem pra baixo.

A mulher, que, perra e fria,

Na foda não tem despacho,

É barco, que não navega,

Nem pra cima, nem pra baixo.

O caralho, se o desgostam,

É malcriado muchacho;

Emperra, e não se mexe,

Nem pra cima, nem pra baixo.

Arrenego do tratante,

Que é de putas vil capacho!

Não devem querê-lo as belas,

Nem pra cima, nem pra baixo.

Quando da lascívia acende

Vênus bela o mago facho,

Não quer pica escassa e frouxa,

Nem pra cima, nem pra baixo.

Triste de mim, quando um dia,

O membro de todo laxo,

Não me quiseram as damas,

Nem pra cima, nem pra baixo.

 

AOS MARMOTEIROS

Um dia, em que pelo mundo,

De botas, o demo andou

De um prostíbulo no fundo,

A marmota inaugurou.

Vênus do ato se arrepela...

E na foda, desde então,

Tornou-se a mulher cadela,

O homem tornou-se cão.

Foder à vista uns de outros,

Com passos de candomblé,

É foder d’éguas e potros,

Foder de gente não é.

Quem fode, do cono em perda,

Pela via de cagar,

É putanheiro de merda,

Que em merda se há de tornar.

Foder duas, três mulheres,

Juntas, como aí se faz,

Ou vice-versa[48], é de alferes

Das tropas de Satanás.

Dirão também que é progresso

Tal foder, que faz horror?!

Então, eu vênia já peço

Para ser conservador.

Sem testemunhas fodiam,

E sem luz, nossos avós;

E, assim, mais anos viviam,

E eram mais fortes que nós.

Eu não quero, minha gente,

Na foda esse espesso véu;

Quero mais claro e patente

De Amor ou Vênus o céu.

Quero moça,de cabelos

Soltos, nua, a rebolar,

A dar-nos os peitos belos,

As cricas para chupar.

Quero da língua e dos lábios

Sorvetes em profusão,

Inventados pelos sábios

Para acender o tesão.

Quero — de beira da cama

A foda, que é magistral;

A que — à gateza — se chama,

Mas pela estrada real.

Quero que arda em doce fúria

Quem mulher boa foder;

Quero tudo, que a luxúria

Avive, e aumente o prazer.

Mas nada de marmoteiros,

Que , de brutos no furor,

Não são homens, são sendeiros

Da estrebaria de Amor.

O diabo que os carregue

Pra o reino, onde não há luz!

De marmotas se arrenegue:

Cruz delas, rapazes! Cruz!

 

AOS NEGREIROS[49]

Quem diz que não fode negras,

Que a elas tem aversão,

E, quando as vê, faz carrancas,

Ou quer enganar as brancas,

Ou mente, ou não tem tesão.

Negra, crioula, ou da Costa,

É sultana de Guiné;

Seio duro, bunda chata,

Rivaliza co’a mulata

A pôr o caralho em pé.

Creme é da mesa de Vênus

Alva ou morena iaiá;

A mulata é a empada;

A negra é a feijoada

Co’a branca pinga de cá.

Fascina-me a cor de neve,

A mim que sou trovador;

Queima-me a cor de canela;

Em cútis macia e bela

Do ébano arreita-me a cor.

Quem bebe cachaça, e negras

Beija, vergonha não tem:

Dizia-se antigamente:

Hoje de negra e aguardente

Gosta todo homem de bem.

E sempre de ambas gostaram

Pequenos e figurões[50];

Hoje as saias mais convidam

Aos que, com razão duvidam

Dos impostores balões.

Ide avante, meus negreiros!

De amar negras não vai mal;

Para o caralho com fome

Tudo é carne; e melhor come

Do que gosta, cada qual.

Finos, compridos cabelos,

Faces de neve e carmim,

Mãos de açucenas, mimosas,

Grossas colunas formosas

De alabastro ou de marfim;

Isso lá — é papa fina;

Tem o primeiro lugar;

Mas, pra fodas, da empreitada,

Negra bonita, asseada,

Não se pode dispensar.

Cono — fresco, como alface,

Tem a crioula gentil,

E mais ainda a africana,

Trazida por mão tirana,

Cativa — para o Brasil.

Que menos gálico a negra

Tem — a ciência nos diz;

Dela moído no caco,

É mais sadio o tabaco,

Debaixo para o nariz.

É fazenda mais barata,

Quando se expõe a granel;

O que for pobre ou forreta,

Exercer em tela preta

Deve de carne o pincel.

Ó que bela pincelada

Numa crioula se dá!

Quantas na idade de fogo,

Durante o marvócio jogo,

Não dei no meu Pirajá!

Convém, pois, brancas, mulatas,

Crioulas, todas foder;

Brancas, para poetar-se;

Mulatas, para gozar-se;

Crioulas, para viver.

Negreiros da minha terra,

Eis a minha opinião:

Quem diz que negras não fode,

Num encontro, ou num pagode,

Ou mente, ou não tem tesão[51].

 

LAMENTAÇÕES DE UM IMPOTENTE

A MINHA PICA MORREU!

Ai de mim, que já tão cedo

No mar de Vênus dei fundo,

E de ver aberto um sundo

Já me esquivo, e tenho medo!

Porque terrível segredo

Este membro emurcheceu?!

E pra que mais vivo eu?

De que me servem haveres?

Tiveram fim meus prazeres!

A minha pica morreu!

E como viver sem pica

Pode neste mundo alguém?

Que outra dita, que outro bem

Consola a quem não fornica?

Foi-se a chupeta da crica,

Que era o maior gosto meu!

O meu sol se escureceu!

Fêmeas da rua de Baixo,

Tendes de menos um macho;

A minha pica morreu!

Inútil artilharia,

Que já não atira à greta,

Dos colhões sobre a carreta

Jaz esta porra hoje em dia!

Não, não foi de apoplexia

Que a infeliz pereceu;

Não foi tifo que lhe deu,

Nem moléstia de outro nome...

Coitada! De frio e de fome

A minha pica morreu!

Se me afoito, e me dirijo

A alguma carnal empresa...

Que desgraça! Que moleza

No traste, que era tão rijo!

Nem mesmo o tesão de mijo

(Infeliz) já tenho eu!

Depois que muito fodeu

Brancas, mulatas, crioulas,

No fundilho das ceroulas,

A minha pica morreu!

Natureza! Os teus arcanos

Quem pode compreender?

A uns, infindo poder;

A outros, baques tiranos!

Muito além dos novent’anos

Fodera o grego Dirceu[52];

No undécimo lustro meu,

D’onça tornando-se vaca,

Como de morte macaca

A minha pica morreu!

De cantáridas fricções,

Beberagens excelentes,

Que dizem ser evidentes

Para restaurar tesões,

Abacates, camarões,

Tudo tenho usado eu;

Mas a nada obedeceu

A fatal paralisia!

Como hei de morrer um dia,

A minha pica morreu!

Adeus, ó mão dos Amores!

Adeus, donzelas e donas!

Adeus, moças e matronas,

Minhas delicias e dores!

Adeus, de todas as cores

Mulheres do culto meu!

A quem por vós se perdeu,

Putas, cantai tristes hinos!

Sacanas, dobrai os sinos!

A minha pica morreu!

 

BAILES E SAMBAS

Só quem tem já fria e bamba

A porra, condena o samba

D’imoral.

Pois o samba é desonesto,

E o baile não? Eu contesto:

Não há tal.

Que dif’rença há na embigada

E na doida galopada

Dos salões?

Ambas — com seus atrativos

E toques — são incentivos

De tesões.

Na primeira ensaia o amante

Uma foda por diante

C’o seu par;

Na segunda, com despejo,

De banda uma foda eu vejo

Ensaiar.

Mais ou menos luxuriosa,

Toda dança é perigosa,

A meu ver:

Como o lundu, a quadrilha

É também uma armadilha

Pra foder[53].

Cá o meu patriotismo

Acha mais brasileirismo

No lundu;

É dança que mais se sente;

A quadrilha impertinente

É angu[54].

Como praça de sambista

Não tenho, nem de bailista,

Posso dar

O meu voto neste assunto,

Com o meu fraco besunto

Me ditar.

O baile é samba do nobre;

O samba é baile do pobre;

Ambos tem

Mais ou menos desaforos,

Seus fretes e seus namoros

Para alguém.

Eu não sei, qual dos folguedos

Nos seus lascivos segredos

É pior;

No samba é franco o petisco;

Da honra, no baile, o risco

É maior.

O padre, o fidalgo, o rico,

Que ao samba chama impudico,

Nele cai:

A respeito, pois, de sundo,

Deixemos ir livre o mundo,

Como vai.

Gentes, que nas altas rodas,

Onde também se dão fodas,

Vos meteis,

De quem busca a roda baixa,

E aí seu bedelho encaixa,

Não faleis.

 

AOS ASSINANTES E COMPRADORES DESTE ÁLBUM

A vós, velhos ou rapazes,

Que coroas de fodazes

No céu de Vênus cingis,

A vós, caros assinantes

Deste meu livro e comprantes,

Dadivosos e gentis,

A vós o preito devido

Renda agora, agradecido,

O ancião trovador,

A quem da vida os trabalhos —

De conos e de caralhos

Fizeram hoje cantor!

Devem pagar-me cantados,

As somas, que, fornicados,

Comido os conos me têm:

Aí vai contra vós o saque

Da letra; não lhe deis baque,

Vós que sois homens de bem.

Pelo certo pagamento

Eu vos faço juramento

De uma eterna gratidão;

E mais, se à vista pagardes,

Briosos, e não cansardes

As pernas do postilhão.

Longos anos d’existência,

Com muita viripotência,

Vos dê, meus amigos, Deus,

Para que, à larga fodendo,

Possais ir bem exercendo

Os santos ditames seus[55].

De mulher aguada e lassa,

Irascível e madraça,

Vos livre o poder fatal;

Sobretudo de loureiras,

Que vos ponham cabeleiras,

De todos o maior mal!

Guardem-vos gênios etéreos,

Sempre, de cancros venéreos,

Gonorréias e bubões!

Jamais vos cresça a barriga,

Encurtando-vos a espiga,

E vos inchem os colhões!

Nunca em mulher de catinga

Metais a carnal seringa;

Que isso faz arrefecer!

Cono esguio, que se guarda

Muito para a retaguarda,

Não vos suceda foder.

Cono grande e cogulado,

Estreito, enxuto, e bordado

De franjas pela raiz;

Cono, de delícias vaso,

Sempre vos depare o acaso

Para uma foda feliz!

Conos, enfim, sem suíças[56];

Coxas grossas e roliças,

Peitos que saltem das mãos,

Olhos, que matem, quebrados,

Beijos, que embriaguem, chupados,

Vos desejo, meus irmãos.

Meus votos serão ouvidos

Pelo Céu, e desferidos,

E colhereis bons lauréis,

Se ao meu int’ressado agente

Cada um de vós, prontamente,

Entregar seus dois mil réis;

Ou mais, se tanto a vontade,

Ou a generosidade,

Em meu favor, vos ditar;

Se bem me correr a roda,

Juro uma clássica foda

Por cada um de vós dar.

É a maior homenagem,

Que se pode à personagem

De um assinante render;

De um assinante, que paga;

Que, alguns, como tive, é praga,

Que só devo maldizer.

Aqui, os meus resumindo,

Votos que vos sagro e findo

Com este a minha canção:

Para um belo parrameiro —

Nunca vos falte dinheiro,

Nunca vos fuja o tesão!

 

AFORISMOS POÉTICOS

 

QUER CONO

Ministro, que vendo moças,

Despe o usual etono,

E quando as escadas desce,

Proteção ampla oferece,

Quer cono.

Potentado, que ao pequeno

Afaga, e presta-lhe abono,

Ou que ver se votos pilha,

Ou da mulher, ou da filha[57],

Quer cono.

Galeno[58], que a certas casas,

Que necessitam d’embono[59],

E onde há moças bonitas,

Faz, por esmola, visitas,

Quer cono.

Procurador, que de graça

É de viúva patrono,

Serviço não faz ao morto;

Navega para ouro porto;

Quer cono.

Usurário, que de dama

Bonita e bem feita ao dono

Visita, e, por fim, dinheiro

Dá-lhe sem prêmio, matreiro,

Quer cono.

Caixeiro, que está na loja

Com requebros de fanchono[60],

E, do amo à revelia,

Às belas freguesas fia,

Que cono.

Padre, que mais recomenda,

Quando prega, o sexto e o nono,

Menos segue a lei sagrada;

De solteira, ou de casada

Quer cono.

Beato, que, quando reza,

Faz visagens, como um mono,

Herói fino de marmotas,

Quer agradar as devotas;

Quer cono.

Jovem casado de fresco,

Que à noite sempre tem sono,

E os olhos nas horas[61] fita,

Afugentando a visita,

Quer cono.

Poeta, que ergue em seus cantos

À mulher altar e trono,

De alguma que tem presente,

Ou que traz na acesa mente,

Quer cono[62].

 

QUER PICA

A mulher, que, do marido

Na ausência com tudo implica,

E nos pobres servos malha —

Por dá cá aquela palha —

Quer pica.

A donzela, que tem flatos,

E a todos, diz que entisica,

E passa,lendo novelas,

Toda noite, ou nas janelas,

Quer pica.

Moça enferma, que — em remédios

Não tomar — teimosa embica,

Não quer outra medicina,

Quer cristel por onde urina,

Quer pica.

Virgem, que, dando em beata,

Só aos templos se dedica,

Não aspira à eterna glória;

Isso é impostura, é história;

Quer pica.

Noiva, que, assim que anoitece,

Pede o chá; e, mal debica,

Quebrando os olhos, se fila

Do noivo ao ombro, e cochila,

Quer pica.

A viúva, que seus males

A todos, chorando indica,

A ver se alma piedosa

De novo, a de pronto, a esposa,

Quer pica.

Noviça, que se enfurece,

E como possessa fica,

Por não poder ir à grade

Nem falar c’o primo frade,

Que pica.

Abadessa, ainda fresca,

Que presentes de canjica

E milhos — por São João —

Manda ao padre capelão,

Quer pica.

Quando muito presenteia

Ao pobre a fidalga e rica,

Não é por ser liberal,

Não senhores; não há tal;

Quer pica.

Todo homem quer dinheiro,

Todo caralho quer crica,

Toda criança quer mama,

Toda mulher para a cama

Quer pica[63].



[1] Na significação genuína – de animal venenoso como lagartixa.

[2] Crescite et multiplicamini.

[3] Foi esta, que depois corrigi e melhorei, uma das primeiras trovas que fiz, quando estudante, e já provecto, de latim em certa vila desta província. Que belo tempo aquele! Que saudades não tenho da vida folgada, que então passei, e sobretudo de uma bela mulata, a cujo filho dava eu lições de primeiras letras, que ela me retribuía generosissimamente com as delícias de um cono colossal, como só dois achei depois neste mundo, até nisso hoje mesquinho. Concluirei esta nota declarando que o velho satirizado, a quem fiz presenteada trova, anonimamente e com letra desconhecida, moderou-se a corrigir-se, quer nas suas impertinências com o filho, quer no seu mau hábito de comer galinhas à custa dos mais.

[4] Um tenente de Milícias, proprietário e casado, que tinha por sua conta a conuda mulata; homem de testa bastante alta e larga.

[5] Um rapaz alfaiate, e meu freguês, com quem muito me dava; um dos homens mais caralhudos que tenho visto. Que felicidade! Quantos ricaços não dariam, sendo homens de coração e de sentimento, e não como alguns miseráveis, que por aí vemos, metade da sua fortuna, para terem um traste, como o do meu camarada alfaiate!

[6] Deu-me o amigo do nome da iniciais acima, este mote, a propósito de um belo dentão, que me mandara, de presente, do Rio Vermelho, ali pescado pela jangada de uma guapa mulata, moradora naquele aprazível sítio, e de quem se dizia, em frase eclesiástica, compadre o dito meu amigo, que para negócios de greta era, nesse tempo, da venta.

[7] Casa de putaria em Santo Antônio além do Carmo, onde se deu, realmente, o maravilhoso caso descrito.

[8] Ora, na verdade, não eram estas sessões mais divertidas e provavelmente proveitosas do que muitas das nossas Assembléias Legislativas? Certamente que sim.

[9] Deu-me, para glosar, esta quadra o meu amigo JRG, que disse ter sido ele achada no balaio de costura de uma Vestal! Simplicidade e inocência de moças!

[10] Deu-me este mote no Rio de Janeiro, em 1832, um — muito circunspeto — deputado, que já não existe. Parce sepultis.

[11] Esta a as outras seguintes proposições são axiomas incontroversos: negue-as quem for capaz.

[12] No volume da coisa e não na quantidade; está bem entendido.

[13] Não me lembro o nome de quem me deu este mote, também dado a meu colega J.G. de P. que o glosou belamente. Que verdade matemática encerra ele!

[14] Eva.

[15] Ora já viram uma proposta tão simples, inocente e igual como esta?! Não há dúvida: viva o Sr. Cupido e mais a mãe que o pariu! Há trinta e um anos que improvisei esta glosa na Vila de Jaguaripe.

[16] Que deliciosas mamação e chupeta, rapaziada! A elas! A elas, antes que venha a inexorável proprietária dos cemitérios mandar-vos para eles como seus inquilinos perpétuos! Apóstolos do progresso da putaria, avente! Não há Governo, nem Assembléias, nem imprensa que vos embarace. À foda! À foda! — e centuplique-se a nova geração de que precisamos, base todo o mais progresso material e moral da sociedade, que, no maior desenvolvimento da fornicação, mostra-se decerto o mais verdadeiramente progressista., que alguns especuladores políticos, que nos quebram por aí os ouvidos com os seus, sempre mentidos, programas.

[17] E estava mentindo redondamente: que coragem!

[18] E o sujeito não desconfiou comigo pelo final coerentíssimo deste soneto! Muito se sofre neste mundo de parvos!

[19] Assim respondeu, ingenuissimamente, um mancebo da nossa alta sociedade a um lojista, que lhe perguntou a quantidade de varas de cassa pintada, que levaria o vestido de cada uma de suas irmãs, para quem ele queria comprar a fazenda. Um Bernardo não responderia melhor. Vivam os Bernardos da Bahia e da época!

[20] Dizem que, de feito, assim eram, ou são, as maninhas do jovem amável, cujo nome nunca me quiseram dizer os dois Empregados d’Alfândega, que presenciaram o fato, e me deram os dois versos da resposta do tal comprador de cassas para eu os glosar. Senti-o vivamente; porque o sujeito indicou ser versejador, e eu queria ter a honra de conhecer mais esse ilustre colega.

[21] Que guapa mãe! E quantas não há por aí dessa estofa! É bem natural que pelo cu pagasse a pobre menina o que pela boca devia a mãe ao vendilhão bem-aventurado.

[22] Foi-me dado este mote no Rio de Janeiro por um meu amigo, Oficial da Marinha, hoje falecido, em um pagode, onde, casualmente, me achei, e do qual faziam a honras duas fêmeas (pertencentes a dois convivas) que se fodiam largamente com quem mais lhes dava, inculcando-se de muito recatadas e graves; pelo que se mostraram, na aparência, muito satisfeitas do meu improviso! Fortes putas!

[23] Em princípio do século XVIII, conforme reza a tradição.

[24] Que antítese de muitos Religiosos de hoje, que por sua ilustração, gravidade, e virtudes, gozam, com justiça, da estima e do respeito de todos.

[25] É o nome, que lhe dá a Crônica.

[26] São Francisco de Assis.

[27] Assim chamava, quando era eu menino, aquela boa gente de fora, ao tal buraco dos nossos encantos, e muitas vezes das nossas misérias e desgraças.

[28] Sem ser visto dos fornicantes, cujos sentidos é bem natural que se achassem absorvidos de todo nas repetições infalíveis das encetadas deliciosas.

[29] Versos de Camões.

[30] Surras e amputações semelhantes mereciam quantos desavergonhados e cínicos andam por aí a adulterar casadas, a deflorar donzelas, e até a estuprar crianças, como se faltassem mulheres, boas e hábeis, para a lícita satisfação dos apetites carnais.

[31] Acho muito; mas, em regra geral, é o mais seguro. Dizia um nosso titular de saudosa memória, cavalheiro e muita graça e experiência nestes assuntos, que: fêmea com macho, né galinha com cavalo.

[32] Um no sentido moral, e o outro no sentido físico.

[33] Com a perda imensa e irreparável, que tão cruelmente sofrera, e, sobretudo com o apelido de Frei Capado, que, sabida a triste aventura, lhe puseram.

[34] Assim contou-se geralmente que dissera uma célebre mulata das muitas, que tem possuído ou possui esta boa terra, a um sacerdote, que quis fornicá-la, e cujo tibi era uma miserabilíssima miséria. Coitado! E saiu em jejum para dizer sua missa no dia segunite! Ora tomem lá este pião na unha dos nossos ricanhos, que entendem que com dinheiro tudo se vence. Um bom caralho vale muitas vezes mais que um punhado de ouro.

[35] Que conos maravilhosos! Quantos, como eu, não estão aí precisando desse milagre específico nas suas tristíssimas decadências viris!

[36] Fiz de improviso esta quadra e glosa em casa de um Exmo. e respeitável amigo, depois de ouvir a eloquentíssima descrição, com que aí nos entreteve, quase duas horas, um nosso interessantíssimo e pilhérico Magistrado superior, que crismei de Lélio, acerca dos extraordinários cono das alagoanas, tão fodidos, cheirados e chupados por ele, segundo afirmou, quando exerceu o cargo de Ouvidor na respectiva província. Que Ouvidoria feliz! Ser Ouvidor assim é mil vezes preferível a ser imperador da Rússia com o manto ensopado de sangue da miseranda Polônia.

[37] O que seria, se morresse velha! E quantas que não vemos nós aí hoje, do mesmo jaez!

[38] Que saudades não tenho eu, meus rapazes, da época, e da casa do bizarro amigo, onde improvisei estes e outros versos, que adiante vão!

[39] Era tal qual, sem tirar nem por.

[40] Dada para Glosar pelo mesmo meu referido amigo J.R.G.

[41] Em casa de um amigo em Nazaré deu-me muito fora de propósito este desenxabido mote um sujeito, que estava sempre a fazer caretas.

[42] Foi geral a hilaridade, que mias cresceu e se prolongou, quando o amigo Sagüim, todo enfiado e trêmulo, perguntou-me: “Então, Sr. F., eu peguei? Eu peguei? Ora não esperava isto de um homem sério

como o Senhor.”

[43] Apoiado, Sr. Plutão! Apoiadíssimo! Esfregue-me, sem compaixão, esses salafrários, e quantos outros descarados e patifes de diversos gêneros lhe caírem nas unhas: fogo neles!

[44] Este “leso” não pode ser tomado senão no sentido moral; isto é, de ofensa resultante do menoscabo, ou da preterição, que muitas vezes sofre de alguns desalmados o altar precioso de Vênus: não é assim, rapaziada?

[45] Uma das três fúrias do inferno, segundo a fábula.

[46] É bem natural que as tais Senhoras Eumênides não urinem, como as belas cá deste mundo, água, mais ou menos pura, e sim chumbo e outros metais em fusão.

[47] Suar — verbo: não confundam com sua feminino de seu.

[48] Um a, duas e três, ao mesmo tempo, e à vista de todas, ou muitos a uma só, que é o que se chama passar geral na frase dos três fregueses das marmotas. Que brutalidade!!!

[49] Aos que fornicam, e gostam de fornicar negras; e não os ímpios que traficam carne humana, de pele preta, assim também denominados; que com estes, pela abominação que lhes voto, não quererei eu palestras jamais.

[50] E aí está a prova na imensa quantidade de pardos e cabras que temos por cá. Contra isso não há argumento.

[51] Ora, realmente, muitos senhores, sobretudo do comércio, deverão, por esta apologia ao seu gosto, pagar-me o dobro, pelo menos, da importância deste Álbum: será uma justa e bem entendida generosidade. Veremos.

[52] Anacreonte.

[53] Ao menos — por parte dos cavalheiros — salvas raras exceções.

[54] A de Lanceiros, principalmente, não só angu, como uma reservada maçada.

[55] De crescer e multiplicar.

[56] Sem cabeleiras, que, na minha opinião, não passam de uma porcaria, e muitas vezes de um embaraço à fácil entrada da porra. Haja vista a fêmea, de quem nos fala Bocage naquele belo soneto, que fecha com este verso: “Merda seca pegada no pentelho.”

[57] Do pequeno, está bem claro.

[58] Médico.

[59] De aumento nos meios de ocorrer à despesa do necessário, ou do luxo, como carece o navio do acréscimo de bojo no costado para agüentar o pano, que é a significação genuína do termo.

[60] Mole, efeminado, sentido em que alguns empregam este vocábulo.

[61] Na pêndula que as marca: é uma figura de retórica.

[62] Menos, eu, que fui sempre e ainda sou um inocentaço de marca, um Platão de borra a semelhante respeito.

[63] Neguem as verdades, contidas nestes meus aforismos, se são capazes, os hipócritas e impostores, que por aí andam a iludir o gênero humano. Miseráveis! E mais miserável ainda quem neles crê!