LITERATURA BRASILEIRA
Textos literários em meio eletrônico
“Túmulo e berço”, de V. de Mello
Edição de Referência:
Jornal das Famílias. Tomo 7, fevereiro de 1869, p. 39-48.
Se o leitor destas páginas tem a ideia do que é fumar um bom charuto depois do jantar, diante de um lindo panorama, entre os afagos da brisa, respirando os aromas do mar, compreenderá facilmente que eu fosse na tarde de um dia de abril de 1866 ao Passeio Público, levando na boca um charuto de Havana e no estomago um jantar do Hotel Inglês. A tarde era de Abril; não lhes digo mais nada. Estava fresca, o céu era azul, o sol já pendia sobre as montanhas disposto a dormir, e uma brisa que vinha da barra agitava as folhas das árvores do Passeio.
Subi ao terraço.
Haviam lá algumas pessoas, homens e damas, passeando e conversando, e creio que alguns até namorando, o que é natural, principalmente nas horas de uma boa digestão.
Lá encontrei um adido de legação estrangeira que, desde que chegou ao Rio de Janeiro, ainda não deixou de ir uma só tarde ao Passeio Público, exceto quando a chuva o pilha em casa.
Eu confesso que há ocasiões em que não gosto de conversar, apesar de ser o homem mais conversador deste mundo. Troquei duas palavras com o diplomata, e deixei-o continuar no passeio, indo-me eu encostar ao paredão que deita para o mar.
Procurei para isso o lugar mais isolado, a fim de ficar mais só. Não impedia isto que fosse de quando em quando perturbado na minha contemplação pelo dialogo das pessoas que passeavam e roçavam por mim.
Acreditará alguém que a conversa dos passeadores não dizia respeito a cousa nenhuma do que nos rodeava, nem ao menos versava sobre assunto próprio das horas do quilo?
Uns tratavam das operações da praça, outros das operações da guerra; estes do jantar que deviam dar no dia seguinte, aqueles da casaca que haviam mandado fazer. Houve um grupo que durante meia hora só tratou da ascensão próxima ou remota do partido conservador. Uma moça que passeava com um rapaz, seu marido creio, gastava toda a sua eloquência em provar que a crinolina era uma cousa eterna, porque era necessária; ao que respondia o marido:
— Se a prima Josefa dissesse isso, vá; mas tu, tu que tens um corpo de Vênus!
Indiscrição que só eu ouvi.
Apesar destas frequentes interrupções, continuava eu a olhar para o mar e a engolfar-me todo em devaneios poéticos, devaneios necessários nesta vida em que tudo ou quase tudo é chato e prosaico.
Já se ia aproximando a noite, quando vieram para junto de mim dous contempladores, um homem e uma mulher. O homem teria trinta e cinco anos e a mulher trinta. Confesso que desviei durante alguns minutos os olhos da extensão de águas que se abria diante de mim, para os pôr na formosa cabeça da recém-chegada. Era formosa deveras. Tinha um tipo antigo. Tudo ali era correto e puro. Os olhos, que eram rasgados, tinham uma luz serena, em que os olhos da gente facilmente se embebiam. Depois a simplicidade. Trazia um vestido cinzento, e nada mais.
Olhei para ela, e depois para o homem que tinha a ventura de a possuir. Mas o homem olhou também para mim, e eu tão vexado fiquei que, não sei por que razão, tirei-lhe o chapéu. Ele correspondeu ao meu comprimento. A mulher olhou para mim, e sem inclinar a cabeça, voltou-se para o marido e falou-lhe baixinho.
Creio que lhe perguntou quem eu era, porque ele respondeu com um gosto de quem dizia: Não sei.
Continuei a olhar para o mar.
Os dous também olhavam, silenciosos como eu, apenas trocando uma ou outra palavra em voz baixa, como se os lábios tivessem medo de perturbar-lhes o espírito voejante.
A noite vinha caindo, e já os primeiros raios da lua entravam a confundir-se com os últimos reflexos do sol ausente. O espetáculo ia mudar de aspecto sem perder a beleza. Dispus-me a ficar ali até mais tarde, e confesso que a presença da desconhecida era um dos motivos que me retinham.
Não acontece isto com certas pessoas? Não há criaturas que têm o condão de atrair as outras, de as cativar, sem que elas o saibam, nem que as outras o suspeitem?
O luar começou a afugentar os passeadores, e o terraço ia-se tornando vazio.
Os meus dous vizinhos continuavam no seu posto.
A noite era já fechada e a lua estava soberba.
No fim de uma hora o homem e a mulher dispunham-se a sair, e eu involuntariamente voltei os olhos para eles.
— Não é verdade, disse-me repentinamente o homem, que o mar é uma belíssima cousa?
Não contando com a pergunta, não atinei com a resposta. Dei um passo para ele, e pedi que repetisse a pergunta. Quando ele a repetiu disse-lhe eu:
— É; é a mais bela cousa que conheço.
— Vê-se logo, tornou o desconhecido; vê-se que o senhor compreende o mar. Cousa rara. Também eu o compreendo, e mais do que isso...
Calou-se, e eu prevendo que a conversa parava aqui, tratei de a prolongar dizendo:
— Pela minha parte, amo-o tanto que se algum dia quiser ir em procura da morte, não escolherei outro caminho.
O homem sorrio; a mulher também.
Parece-me que eu tinha dito uma tolice.
— Estarei talvez dizendo uma necedade....
— Perdão, tornou o homem, está dizendo uma beleza. Que melhor tumulo do que este? Mas também que berço!
Seguiram-se alguns instantes de silencio.
O homem deu o braço à mulher para se retirarem, e estendeu-me a mão.
— Cumprimentou-me há pouco, e eu não me lembro de o ter visto nunca. É culpa da memória. Donde me conhece?
— Não o conheço; mas quando o vi confundi-o com um amigo meu, e foi para isso...
— Não importa; não somos amigos, mas temos já um ponto de contato. Quando nos encontrarmos aqui contemplaremos juntos este gentil espetáculo.
— Com muito gosto.
Trocámos os bilhetes de visita. Eles saíram e eu fiquei. Pude ler ao luar o nome do homem. Chamava-se Carlos Amaral.
No dia seguinte voltei ao Passeio, mas não encontrei os meus dous incógnitos. Aconteceu o mesmo nos quatro dias seguintes.
Já cuidava não os ver mais, quando um dia passando pela rua do Ouvidor senti que chamavam por mim; era o meu homem.
Vinha só.
Apertámos a mão um do outro.
Perguntei como estava a mulher; respondeu-me que boa.
— Não voltou mais ao Passeio? disse-lhe eu.
— Não. Há prazeres que se não devem repetir muito, a fim de não cair na saciedade. A ciência humana é isto. E o senhor?
— Eu continuo a lá ir.
— É que o senhor olha o mar como um filosofo.
— Creio que lhe acontece o mesmo.
O homem sorrio, como havia feito uma vez no terraço do Passeio, e disse:
— Talvez.
A conversa tomou nova direção.
Soube que o homem era filho do Norte, que tinha trinta e quatro anos, que possuía alguma fortuna e vivia independente. A mulher também era do Norte. Não tinha fortuna nenhuma.
No fim de uma hora separámo-nos. Disse-me ele que morava na rua dos Arcos nº * *, e pediu instantemente que eu lá fosse.
Como era esse o meu desejo, fui.
Nunca tive em parte alguma recepção melhor do que naquela casa. Aquela gente praticava a hospitalidade antiga, e, segundo a frase popular, metia a gente no coração.
Clara, a mulher de Amaral, era uma excelente senhora de casa: severa e amável, graciosa e recatada, sabia atrair os afetos sem prejudicar a consideração. Serei franco: entrei naquela casa com espírito de rapaz travesso. A recepção transformou-me. No fim de dous meses eu era um irmão e um amigo.
Nem Amaral nem Clara tinham segredos para mim. Era eu o confidente natural, não das suas tristezas, porque as não tinham, mas das suas alegrias, porque as tinham muitas.
Ninguém mais frequentava a casa. Notei um dia esta circunstância, e Amaral respondeu-me:
— É que eu liquidei os amigos.
Era isto ao mesmo tempo um comprimento que me fazia.
Enfim, ao cabo de seis meses, Amaral anunciou-me que saía do Brasil.
— Vai para Europa?
— Para Europa, Ásia, América, para qualquer parte. Onde achar um recanto aí ficarei.
— Quando volta?
— É provável que nunca.
A esta declaração disse-lhe francamente que sentia ver-me separado deles para sempre.
— Mas onde quer que eu esteja pode ir ver-me, disse Amaral. Eu me encarrego de lho mandar dizer.
— Pois sim; apenas me for possível ir vê-los, contem comigo.
Amaral apertou-me a mão.
Clara acrescentou:
— Se se lembrar de nós.
— Por que não? A nossa amizade começou de um modo tão original, que eu não posso deixar de ver nisto o dedo da Providencia....
— O dedo da Providencia está em tudo, respondeu Amaral olhando para sua mulher.
Jantamos daí a pouco.
Como o paquete partia daí a cinco dias, disse-me Amaral que precisava de ir fazer algumas compras, e pediu-me licença para sair.
Eu saí com ele.
Feitas as compras de que precisava fomos ao Passeio Público, e, sem subir ao terraço, sentámo-nos em um banco de pedra no ponto menos frequentado daquelas alamedas.
— Meu amigo, disse-me Amaral, antes de partir quero dar-lhe uma prova de confiança. Vou contar-lhe o que ainda não contei a ninguém, nem contarei mais.
— Estou pronto a ouvi-lo, até porque há na sua vida e nas suas palavras um não sei que de misterioso.
— Não há mistério nenhum. Vai saber.
E começou:
— Na idade de trinta e dous anos achei-me com o coração deserto e a vida fatigada. Acabava de uma grande tempestade em que haviam naufragado todas as minhas ilusões, as melhores de todas, e olhando em redor de mim não vi nenhum braço que me amparasse, nem esperança que me sorrisse.
“Sucessivamente enganado por amigos em quem eu havia posto a minha confiança, com o coração ferido e exausto, não vendo nos homens mais do que uma reunião de vícios, consegui encontrar um homem que se compadeceu de mim e tornou-se inseparável da minha vida.
“Ao mesmo tempo, e pela primeira vez, amei uma mulher. Dispenso-lhe a descrição dela, e bem assim a narração dos meus sentimentos. Amei e fui amado.
Mas que quer que lhe diga? Um dia, amigo e mulher traíram-me indignamente. Aqueles em quem eu havia posto a minha confiança mostrarão que nem ao menos sabiam agradecê-la.
“Erro ou não, entendia que devia sair de um mundo onde só havia encontrado desilusões em troca dos afetos que eu aninhava no coração.
“Foi isto na minha província.
“Para morrer podia escolher um punhal, uma pistola, uma corda, uma dose de veneno. Mas tudo isto era artefato humano; eu estava tão mal com os homens, que nem lhes queria os instrumentos de morte.
“Procurei o mar.
“O mar, disse eu comigo, é um grande tumulo que a natureza oferece a todo o que está desejoso de lançar à margem o sinal da vida.
“Era de manhã. Passei a noite a escrever algumas cartas, não para amigos, que já os não tinha, mas para vários credores a quem mandava pagar.
“A manhã estava bela como se tivesse de assistir a um noivado. Noivado era o meu de certo; a morte é uma noiva; o sepulcro um leito de núpcias. E eu tinha o mais belo e mais vasto leito de núpcias que um noivo pode desejar.
“Encaminhei-me para a praia.
“Quando aí cheguei eram seis horas. O sol começava a surgir das aguas, como um olho de Deus que parecia espreitar a minha coragem.
“Atirei o chapéu à orla e dispus-me a dar um salto; mas hesitei. Pela primeira vez na minha vida fiz esta pergunta comigo mesmo: o que há além disto?
“Ao mesmo tempo considerei que o lugar era improprio; a praia era rasa. Para encontrar a morte seria preciso andar ainda um grande espaço pelo mar dentro. E se alguém me visse?
“Perto haviam algumas rochas levantadas, que entravam pelo mar adiante.
“O lugar era melhor.
“Caminhei para lá.
“Depois de procurar lugar por onde subir encontrei um leve declive, e tomei por ele.
“O meu passo era lento, não porque eu hesitasse; mas parece que nesses lances supremos tudo assume um caráter de gravidade.
“Quando cheguei o alto da rocha, olhei em roda de mim.
“Ninguém.
“A terra a um lado com todos os seus vícios; a outro lado o mar com todos os seus silêncios.
“Lancei um último olhar para a terra, e dirigi-me para o mar.
“Andei cinquenta passos, e enquanto caminhava para a sepultura, ia recitando uma prece.
“Ajudava-me eu mesmo a bem morrer.
“Quando cheguei ao cabo da rocha, vi que havia uma espécie de grande degrau.
“Olhei para baixo.
“Vi um espetáculo inesperado.
“No degrau achava-se uma mulher ajoelhada com as mãos postas, voltada para o mar.
“Vi logo que ela encomendava a Deus, para cujo seio ia lançar-se.
“Então eu, que ia morrer, que rejeitaria todo o auxílio que me dessem para voltar à vida, tive um movimento interior; resolvi arrancar aquela mulher à morte.
“Se a deixasse morrer parecia-me que assumia uma cumplicidade.
“Desci o degrau, e segurei-a por um braço no momento em que ela ia lançar-se ao mar. A mulher voltou o rosto para mim, e disse com dolorosa suplica:
“— Deixe-me!
“— Não, respondi; a senhora não deve morrer.
“A mulher desatou a chorar.
“Era formosa, meu amigo; as lágrimas ainda lhe realçavam a beleza.
“Deixei-a chorar à vontade. A dor precisava daquilo.
“No fim de alguns minutos, disse-lhe:
“— Suba; venha comigo.
“Ela não me ouvia; tinha os olhos fitos no mar como uma espécie de desvario.
“O sol subia lentamente no horizonte.
“Repeti as palavras; ela olhou para mim, e disse:
“— Nem na morte posso ter a liberdade?
“— Morrer! Disse eu; tão moça e tão bela!
“A moça sorrio tristemente.
“Depois, levantando-se como se tomasse uma resolução súbita, disse, segurando-me na mão:
“— Subamos.
“Subimos ao alto da rocha.
“Aí haviam duas pequenas lajes; fi-la sentar em uma delas, e eu fiquei de pé.
“— O senhor impede-me que me mate; mas eu só posso escolher entre a morte e a desonra. A minha alma não hesita; é o mesmo que escolher entre o céu e o inferno: escolho o céu.
“— A desonra? disse eu. Não se foge só à desonra; foge-se também ao sofrimento. O sofrimento não tem cura; mas entre a morte e a desonra, há um meio termo, que é...
“— O senhor é um homem honesto, não?
“— Sou.
“— Jura que me deixará morrer se eu lhe confiar o segredo da minha vida?
“— Não juro isso; mas se eu vir que o segredo da sua vida só pode ter por desenlace a morte, deixá-la-ei morrer.
“— Jura isto?
“— Juro.
“A moça começou uma curta narração, que eu lhe resumirei assim.
“Era pobre, e órfã. Vivia a expensas de sua madrinha, senhora rica, que a recolhera em casa logo que lhe haviam morrido os pais. Lá trabalhava com afinco e zelo a fim de que nunca lhe pudessem lançar em rosto o pão que recebia. A madrinha tinha um filho que desde os primeiros dias começou a requestá-la. Ela fingiu não ver nada.
“O rapaz era um estouvado, e ao mesmo tempo um homem gasto de coração. Via nela uma simples conquista. A frieza da moça não o desarmou nem dissuadiu. O rapaz dizia muitas vezes que o coração das mulheres era como a rocha das praias, aonde a vaga vai bater todos os dias até gastá-la.
“A moça quis um dia referir tudo à madrinha; mas esta era de um gênio áspero, e estimava o filho acima de tudo.
“Temeu que entre a afirmação dela e a do filho a velha aceitasse a segunda.
“Nesse caso estaria sem pão.
“Envolveu-se pois na sua virtude.
“Um dia porém, poucos dias antes, a insistência da agua tinha vencido a rocha, e a pobre moça teve uma hora em que olhou para si coberta de vergonha.
“Não lhe arguia a consciência; não amava o rapaz; antes aborrecia-o. Foi a violência, não o amor, que a venceu. Vendo-se perdida, a moça resolveu matar-se; mas hesitou; velou uma noite inteira; e no dia seguinte foi referir à madrinha o seu infortúnio.
“Cuidou achar um amparo; achou segundo algoz. A madrinha expulsou-a de casa.
“Acontecera isto na véspera.
“A pobre moça saíra desvairada, sem saber para onde ir. Andou toda a noite. A ideia da morte apossara-se de novo do seu espírito. Entre a desonra da sua vida e a morte não hesitou. Queria a morte.
“Ouvi comovido esta narração feita com lágrimas. Doía-me ver o destino daquela moça, tão bela, tão honesta, lançada pela fatalidade ao precipício.
“A moça levantou-se.
“— Ouviu a minha narração, disse-me; bem vê que a morte é o meu único refúgio. Deixe-me passar.
“E deu um passo.
“Eu segurei-a pela mão.
“— Ouça; sabe o que vim fazer aqui? Vim morrer também. Como a senhora, fujo à vida, fraco como sou para lutar com ela.
“— Também?...
“— Sim; mas, mas se eu a deixar morrer, serei cúmplice de um crime.
“— De um crime? Disse ela com dolorosa ironia; não vai cometê-lo também?
“— Mas a senhora tem o trabalho honesto como refúgio; eu não tenho nada, porque nem tenho alma.
“— Senhor, disse-me ela, é descabida a discussão neste lugar. Quando uma criatura chega tão perto do tumulo já não discute. Deixe-me morrer....
“— Acredita em Deus?
“Ela levantou os olhos para o céu, e respondeu:
“— Vou para ele.
“— Não; ele é que veio para nós. Acha que foi simples acaso este encontro? Não foi; ambos nós fugimos à vida, vítima dos homens. Deus nos guiou pelo mesmo caminho para que nos encontrássemos, e para que eu lhe dissesse: Não tenho alma, ressuscite a minha alma que morreu; faça de mim o homem que já fui. Em troca disto, eu só lhe ofereço uma cousa: a proteção de um esposo. Podíamos ser desposados na morte; porque o não seremos na vida?
“A moça olhou para mim sem dizer palavra; parecia que não me compreendia. Era tão estranho o que eu lhe dizia que supunha não ter ouvido bem. Depois soltou um grito e caiu de joelhos.
— Estarei eu já morta, disse ela, e isto que ouço é a linguagem dos anjos?
“— Anjo é a senhora, respondi eu inclinando-me e beijando-lhe a fronte. Levante-se, que não tem nada que a envergonhe. Pelo contrário, se eu a salvei da morte, a senhora salvou-me também, e mais reconcilia-me com a vida. Renasço cheio de jubilo.
“Casámo-nos. É a minha história e a de Clara. Vamos agora procurar um asilo ignorado onde sejamos felizes.
Somos dous destroços que se consolam entre si, como disse o poeta Francês”.
Abracei Amaral quando ele acabou a narração.
— O senhor é um grande homem!
— Não, sou apenas um homem; mas deixe-me ter uma vaidade: sou o homem de Diógenes.
Amaral e Clara vivem hoje na Suíça.
V. de Melo (Paris, janeiro de 1868).