Sumário: Nedda. Esboço Siciliano; A loba; Don Licciu Papa (Lucia Guidicini); Cavalleria Rusticana; Liberdade (Loredana Caprara); Fantasia; Malária; Pão amargo (Darly M. Scornaienchi); Jeli, o pastor; Ruivo mau-pêlo (Pedro Garcez Ghirardi:); A amante de Gramigna; O padre; Os bens (Mariarosaria Fabris); Guerra dos santos (Elvira Rina Malerbi Ricci); O comilão; O mistério (Julia Marchetti Polinesio:); Os órfãos; Os fidalgos (Maurice Cunio); Um processo; Nanni volpe (Silvia Salvi).
Por Mariarosaria Fabris
maio/2025
⠀⠀⠀Giovanni Verga nasceu em 1840 e faleceu em 1922. Natural de Catânia, é considerado um dos principais nomes do Verismo, e a maioria de suas obras explora “a alma profunda da Sicília [...] que, à passagem dolorosa de todas as civilizações antigas e modernas, assistiu impassível, como se nada fosse eterno nem a interessasse além das paixões elementares que agitam o coração humano e do irremediável sofrimento que o atormenta”, nos dizeres de Carmelo Distante. Dentre as contribuições mais significativas desse período fecundo de sua produção literária, destacam-se Nedda, Vita dei Campi, Novelle Rusticane e Vagabondaggio, publicadas pela primeira vez em 1874, 1880, 1883 e 1887, respectivamente.
⠀⠀⠀A tradução brasileira de uma seleta dessas novelas, Contos Sicilianos, foi lançada em 1983 pela editora Pioneira em coedição com a Editora da Universidade de São Paulo. Uma nova versão, modificada, será lançada em 2001. Essa obra veio preencher uma lacuna em relação à divulgação da obra de Verga no Brasil, da qual só haviam sido traduzidas para o português algumas narrativas breves que integravam coletâneas de contos italianos ou universais.
⠀⠀⠀De acordo com o Prof. Distante, em sua introdução de Contos Sicilianos, volume do qual foi organizador, as dificuldades a serem superadas pelos tradutores não foram poucas, pois estes tiveram de “enfrentar a originalidade linguística” do autor, o qual, ao “léxico perfeitamente italiano, onde as raras palavras dialetais do discurso narrativo aparecem em itálico” imprimiu “um tom que, sem se confundir com o de qualquer dialeto (nem mesmo com o da Sicília, de que por certo se ressente, mas de modo altamente criativo), vai além da capacidade expressiva do italiano culto, literário”.
⠀⠀⠀A tarefa tradutória coube a Darly N. Scornaienchi, Julia Marchetti Polinesio, Loredana Caprara, Lucia Guidicini, Mariarosaria Fabris, Maurice Cunio, Pedro Garcez Ghirardi, Rina Malerbi Ricci e Silvia Salvi, ou seja, contou com a participação de quase todos os docentes da Área de Língua e Literatura Italiana do Departamento de Letras Modernas (FFLCH/USP), além dosalunos de Língua Italiana, do quarto ano diurno (1981).
⠀⠀⠀O projeto coletivo abrangeu, grosso modo, as novelas mais memoráveis da adesão de Verga ao Verismo, isto é, as que não poderiam faltar numa coletânea dedicada à Sicília rural de fins do século XIX. Como já apontado, os textos selecionados foram Nedda, todas as de Vita dei Campi (“Cavalleria Rusticana”, “La Lupa”, “Fantasticheria”, “Jeli il Pastore”, “Rosso Malpelo”, “L’Amante di Gramigna”, “Guerra di Santi” e “Pentolaccia), nove das doze de Novelle Rusticane (“Il Reverendo”, “Don Licciu Papa”, “Il Mistero”, “Malaria”, “Gli Orfani”, “La Roba”, “Pane Nero”, “I Galantuomini” e “Libertà”) e apenas duas dentre as doze de Vagabondaggio (“Un processo” e “Nanni Volpe”), publicadas em ordem cronológica, mas nem sempre na mesma sequência das edições italianas, como foi o caso da oito, que integram o volume de 1880.
⠀⠀⠀Lucia Guidicini encarregou-se da tradução de “Nedda”, “A Loba” e “Don Licciu Papa; Loredana Caprara, de “Cavalleria Rusticana” e “Liberdade”, sendo que naquela contou com a colaboração dos citados alunos; Darly N. Scornaienchi, de “Fantasia”, “Malária” e “Pão amargo”; Pedro Garcez Ghirardi, de “Jeli, o Pastor” e “Ruivo Mau-Pelo” (além da “Introdução”); Mariarosaria Fabris, de “A amante de Gramigna”, “O Padre” e “Os Bens”; Rina Malerbi Ricci, de “Guerra de Santos”; Julia Marchetti Polinesio, de “O Comilão” e “O Mistério”; Maurice Cunio, de “Os Órfãos” e “Os Fidalgos”; Silvia Salvi, de “Um Processo” e “Nanni Volpe”.
⠀⠀⠀Como já assinalei no texto “Cavalleria Rusticana” (divulgado pelo site “A terra é redonda”, em 4 de abril de 2022), com a publicação de Nedda, Verga deixava de lado os romances mundanos, ambientados no universo burguês e aristocrático, que haviam lhe permitido consolidar sua fama de escritor: Una Peccatrice (1886), Storia di una Capinera (1871) e Eva (1873). Um afastamento momentâneo, pois, posteriormente, publicará Tigre Reale e Eros (1875), além de Il Marito di Elena (1882).
⠀⠀⠀Embora seja quase um lugar comum afirmar que Verga tenha se aproximado do Verismo com a história de uma pobre catadora de azeitona, que havia pecado levada pela paixão, Attilio Momigliano, no verbete “Verga, Giovanni” da Enciclopedia Treccani, salientava que essa aproximação teria se dado mais do ponto de vista do conteúdo do que do estilo, porque seria antes uma narrativa de ordem moral, com sua “entonação de uma ‘piedosa história’ contada por um burguês de bom coração”.
⠀⠀⠀Dessa forma, Verga inauguraria sua fase madura como escritor não com Nedda, mas com a coletânea de 1880, já dentro do espírito verista, levado pelo conterrâneo Luigi Capuana, grande divulgador do ideário do movimento. Ademais foi influenciado por novas leituras, principalmente de autores franceses, dos quais extraiu antes a sugestão de um método do que um modelo, valendo-se dos preceitos do Naturalismo apenas na medida em que o ajudaram a enxergar melhor a realidade da nativa Sicília.
⠀⠀⠀O Verismo – cuja denominação deriva de vero, no sentido de reale (“real”, “realidade”) – nasceu da penetração da tendência naturalista no meio intelectual italiano por volta de 1870. A tendência afirmou-se a partir dos debates sobre o Realismo que agitaram Milão durante uma década, abrindo caminho para uma renovação da literatura, com abordagens mais modernas da realidade. Embora adotasse alguns postulados do movimento francês, o Verismo teve um caráter regionalista, tendendo a retratar antes ambientes rurais com sua massa camponesa do que os espaços urbanos em que conviviam todas as classes sociais.
⠀⠀⠀O sucesso de Nedda levou os editores a solicitarem ao escritor outras narrativas breves, as quais deram origem às coletâneas de novelas que tinham como tema principal o mundo popular de sua terra natal.
VERGA, Giovanni. Contos Sicilianos. Trad. Lucia Guidicini; Loredana Caprara; Darly N. Scornaienchi; Pedro Garcez Ghirardi; Mariarosaria Fabris; Rina Malerbi Ricci; Julia Marchetti Polinesio; Maurice Cunio; Silvia Salvi. São Paulo: Pioneira–EDUSP, 1983.
VERGA, Giovanni. Contos Sicilianos. DISTANTE, Carmelo (org). Translation from Pedro Garcez Ghirardi et al. 1. ed. São Paulo, SP: Livraria Pioneira EditoraSão Paulo, SP: Editora da Universidade de São Paulo (EDUSP), 1983.
Sem comentários. Para você comentar, faça o login!